Dica pro presidente: foque nos “Bolsonaros Nutella” para se reeleger

Uma resenha sobre o super episódio com os luíses da Verde Asset

Josué Guedes

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Texto originalmente enviado aos assinantes da newsletter Stock Pickers no sábado, 28 de agosto de 2021. Para recebê-la, clique aqui.

A Verde não é uma casa de análise e nem uma consultoria econômica, mas, se fosse, poderia ter um histórico tão invejável quanto seus fundos.

Se você não conhece o track record do fundo Verde criado por Luis Stuhlberger, o Salomão fez um thread no Twitter contando 7 curiosidades sobre o Stuhlberger e o lendário fundo que desde sua criação em 1997 até hoje acumula um retorno de 18.840%.

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O fundo Verde está fechado há muito tempo e faz reaberturas muito pontuais que duram poucos minutos. Por outro lado, o Verde Scena, que é tocado pelo outro sócio da casa, Luiz Parreiras, reabriu essa semana. Nos últimos 3 anos (de setembro/19 a agosto/21), o Scena tem tido uma performance de causar inveja até no “fundo-chefe” da casa, com rentabilidade de 10,2% ao ano, contra 6,95% ao ano do Verde – isso tudo com uma volatilidade menor que do fundo do Sthulberger.

Mas como disse no começo do texto, não é só pelos resultados dos fundos que a Verde tem ganhado destaque: de 2020 pra cá, a gestora fez críticas pontuais às medidas do governo que, logo após serem expostas ao público, resultaram em uma mudança de percurso das autoridades – tal como se fosse um conselheiro experiente, ajudando um jovem condutor a seguir o melhor caminho.

Para não soar repetitivo, porque já falamos disso na newsletter do episódio #104, a Verde foi precisa em alertar os riscos fiscais de um auxílio maior em agosto de 2020, sobre a lentidão da vacinação, principalmente em São Paulo, em maio de 2021, e as ineficiências da reforma tributária que havia sido encaminhada pelo governo ao Congresso.

Todos esses alertas, coincidência ou não, resultaram em melhoras: o auxílio foi dado, mas em um valor menor, a vacinação adotou critérios que voltaram a acelerar o ritmo e alguns ajustes também já foram feitos na reforma.

Na quinta-feira (26/08) o CEO da casa, Stuhlberger, participou da gravação do episódio #111 do Stock Pickers durante a Expert 2021 e perguntamos direto e reto o que seria mais fácil acontecer: dólar ir a R$6,00 ou Selic chegar a dois dígitos?

O que era para ser uma simples pergunta de opinião sobre juros e câmbio virou uma grande análise política que terminou com uma “recomendação” ao Bolsonaro sobre as eleições de 2022. Você confere isso tudo abaixo (a íntegra está no instante 35:32 do episódio #111):

“Eu acho que nenhum dos dois é provável agora. Não por razões econômicas. Eu acho que algo como isso poderia acontecer se você tivesse uma escalada de tensão política muito forte (…) toda pessoa que é engenheiro como nós dois [disse, referindo-se a Parreiras], ou pessoas do mercado financeiro, que se pautam por raciocínios lógicos, têm muita dificuldade de entender a estratégia do presidente Bolsonaro de escalar a tensão com o Judiciário, porque, no limite, acho que pregar para convertido não adianta muito. Supondo, anteriormente, 24% de apoiadores ´hard bolsonaristas’, que em todas as pesquisas de intenção de voto espontânea aparecem (…) e 24% para o Lula, hoje temos alguma coisa como 29% para o Lula e 24% para o Bolsonaro, sendo que tínhamos até 2 meses atrás 52% de indecisos, que agora está em 36%, com uma parte migrando para o ex-presidente Lula e outra para brancos e nulos. Esta tensão criada pelo presidente afasta o eleitor antilula, que votou em Bolsonaro por apoiar a agenda econômica e contra tudo o que o PT fez no Brasil, especialmente no governo Dilma. É difícil, nesse cenário, entender a lógica dele. Olhando pela minha ótica, se ele ficasse quieto e surfasse a melhora do PIB, a vacinação (que está indo bem) e a volta à normalidade com um certo esquecimento de tudo que foi feito no passado, naturalmente os votos dessa maioria que não quer o Lula e não é um ‘Bolsonaro raiz’ poderiam ir para ele“.

A estratégia atual do presidente Bolsonaro dialoga apenas com seu eleitor raiz, mas isso não é suficiente para levá-lo a reeleição em 2022 como apontam as pesquisas espontâneas. Para chegar lá, Bolsonaro precisa do voto do “Bolsonaro nutella”, aquele que deu uma chance para ele em 2018, mas se afastou por conta do tensionamento constante do presidente com o judiciário.

Obviamente não sabemos o desfecho dessa história, mas ficaremos de olho nos próximos acenos do presidente para os eleitores indecisos, pois isso poderá definir os rumos do país nas próximas eleições.

Além de política, durante o episódio que durou apenas 45 minutos, Stuhlberger falou sobre os erros cometidos durante a pandemia, deu sua opinião sobre a atual gestão do ministro Paulo Guedes e abriu a carteira do Verde.

Não é porque fomos nós que fizemos a entrevista, mas a audição desse papo é obrigatória, pois quando um dos maiores mestres do nosso mercado fala, o mínimo que temos que fazer é prestar atenção. Seja concordando ou discordando do que ele diz.

Para quem ainda não ouviu, aqui estão os principais destaques:

Josué Guedes
CMO do Stock Pickers