De olho no consumo e no mundo pós-covid, gestor enxerga bolsa americana com otimismo

Para Ruy Alves, da Kinea, ações que não tiveram uma boa performance ano passado podem dar um bom retorno em 2021.

Josué Guedes

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De olho no crescimento da economia norte-americana e observando o mundo pós-covid, Ruy Alves, da Kinea, está especialmente otimista com empresas envolvidas na cadeia de consumo, no setor de financeiro e com aquelas que irão prestar serviços essenciais no novo mundo que emerge.

Abaixo, os principais pontos da conversa entre Alves e Guilherme Giserman, no Global Pickers desta quarta-feira

Contexto norte-americano

Começamos 2021 com uma visão construtiva para a bolsa americana. Hoje há uma série de fatores que raramente acontecem juntos: hiato de produto muito grande (desemprego alto e muita gente para ser recontratada nos próximos meses), estímulo fiscal jamais visto, impulso monetário sem precedentes (juros zero e banco central comprando títulos do governo) e vacinação em massa.

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O resultado de tudo isso deve ser um crescimento nominal nos Estados Unidos na casa de 8% a 10%. Combinado a isso, já existia uma poupança elevada dos americanos por conta dos pacotes de 2020. Isso, para ações, é extremamente poderoso. É muito dinheiro na mão do consumidor num período muito curto de tempo.

Oportunidades nos EUA

Existem oportunidades que estão do lado do consumidor devido os trilhões de estímulos que chegam nas mãos das pessoas físicas através de cheques que serão gastos com consumo. Gostamos da parte de consumo dos EUA. E uma área que achamos que ficou para trás é a parte do setor financeiro: pagamentos, bancos, etc.  Tudo que envolve a parte de transações financeiras nos EUA nós gostamos.

Visa (VISA34) e Mastercard (MSCD34)

É difícil falar o quão bom esse negócio é no final das contas, porque ela é um duopólio em enorme escala. Essas empresas não tinham um dono. Os donos eram todos os bancos que participavam de um consórcio. Hoje, após o IPO, essas empresas passaram a ter um dono e explodiram de lucratividade. Quando fazemos uma transação, normalmente isso custa de 1% a 2%.

A Visa vai levar um pedaço pequeno disso: 10%. Mas ela resolve o problema inteiro de processamento no mundo. E tentar replicar isso é quase impossível hoje. Mesmo empresas como a PayPal acabam trabalhando junto com a Visa e a Mastercard.

Mastercad > Visa

A questão principal da Mastercard é que ela tem que tentar ser mais esperta do que a Visa, porque a Visa tem o dobro do tamanho da Mastercard. E, num duopólio, a regra é que elas não se “atacam”, porque elas não querem correr o risco de regulação. Elas são parecidas, mas a Mastercard tem algumas coisas interessantes.

O negócio principal dela é transformar transações “não digitais” em transações digitais. Toda essa movimentação do dinheiro físico para o digital beneficia a Mastercard. Hoje ela também se beneficia de coisas como segurança das transações na internet, base de dados, etc. A relação preço-lucro dela não é baixa, mas nunca foi. É uma empresa que cresce acima de 10% em lucro e nesse momento pode ter um crescimento de lucro ainda mais interessante.

Abrindo a carteira

Hoje a gente tem JP Morgan. Não temos Visa ou Mastercad no momento, mas podemos vir a ter. Hoje eu acho a cadeia toda boa, porque ano passado ela foi jogada um pouco de lado. Entendemos porque esse setor ficou para trás, mas também achamos que uma das maiores oportunidades do mercado para esse ano esteja na parte financeira. Gostamos também de outras teses dentro da área de consumo: vestuário, restaurante, etc. O que está relacionado ao consumidor e não teve uma boa performance no ano passado a gente tem no portfólio no momento.

Salesforce (SSFO34)

O principal investimento que toda empresa tem que fazer atualmente é para se adaptar ao novo ambiente pós-covid. E esses são investimentos em tecnologia. O mundo, embora a gente possa voltar para os nossos escritórios em algum momento, não será mais o mesmo de 2019. As pessoas vão trabalhar remoto. Haverá um investimento das empresas na base de TI delas. E tem três empresas que irão se beneficiar disso: Salesforce, Workday e ServiceNow.

A Salesforce é uma empresa que soluciona a questão da relação entre a empresa e o cliente. A principal característica dessa empresa é conseguir fazer tudo na nuvem (“cloud”). Hoje a empresa cresce acima de 20% ao ano há bastante tempo. Fez recentemente a aquisição da Slack. Eu gosto muito.