Daniel, da Verde Asset: curva de juros deveria ter “uns 100 pontos a menos” nas condições atuais

Economista-chefe da Verde Asset participou do "Coffee & Stocks" e explicou por que sua visão está um pouco mais otimista do que a média do mercado

Thiago Salomão

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Apesar dos grandes desafios que temos pela frente, tudo indica que o Brasil não vá sair dos trilhos no lado fiscal neste curto prazo e que, por isso, “temos bastante prêmio nas partes intermediária e longa” da curva de juros. A opinião é de Daniel Leichsenring, economista-chefe da Verde, que conversou conosco nesta segunda-feira (8) na edição diária do Coffee & Stocks.

Daniel mostrou como está sua visão para o mercado após a série de 5 lives que a Verde Asset promoveu semana passada na “Verde Week”. Ele mediou o debate de terça entre Daniel Goldberg e Luis Stuhlberger (link do resumo deste debate, feito pelo Stock Pickers) e conversou sexta com o Secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida.

Para o economista-chefe da Verde, a curva de juros deveria ter “uns 100 pontos a menos” nestas condições atuais. “Se pensar que o juro de 3 a 4 anos está por volta de 5,5% e de 8 a 10 anos está por volta de 9,5%, com uma Selic atualmente de 3%, temos aí uma inclinação muito alta nessa curva”. O motivo para acreditar no juro baixo por muito tempo está na ociosidade muito grande na economia e a inflação extremamente baixa – ele espera que o IPCA fique abaixo do piso da meta em 2020 e perto do piso em 2021 mesmo.

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O que mudaria essa projeção para juros? Um descalabre fiscal quase que instantâneo, “o que não parece ser nosso caso”, diz o economista: “Sim, teremos um déficit fiscal medonho por conta de toda a ajuda que daremos por conta do Covid e também pela queda de arrecadação pela contração da economia, que deve cair uns 7% nas nossas contas. Mas passado isso, a gente deve voltar à normalidade. Como o próprio Mansueto disse, não precisamos fazer nada inconstitucional, precisamos apenas cumprir o Teto de Gastos até o final desse governo. Então é só seguirmos a agenda de reformas e não inventarmos gastos perpétuos. Como nesse curto prazo não acredito que a gente saia dos trilhos no lado fiscal, acho que os juros deverão ficar baixos por muito tempo”.

Ex-pessimista convicto (“em 2015/2016, eu estava ultra pessimista, achava que o Brasil ia pelos ares”), Daniel considera-se hoje um pouco mais otimista do que o precificado no mercado. “Muita gente fala que a dívida no Brasil subiu e vai subir pra sempre… minha visão é um pouco diferente disso (…) sim, temos uma situação bastante delicada que vai exigir muito mais reforma para consertar, mas o lado positivo é que o debate hoje é muito mais maduro do que antes: sociedade, políticos e empresas aprenderam com a crise de 2015/2016, por isso não acho que tomaremos o mesmo caminho do que fizemos entre 2008 e 2016”.

Perdemos R$ 70 bi, mas injetamos R$ 250 bi
Daniel faz uma conta que pode jogar a favor de uma recuperação mais rápida caso uma “segunda onda do Covid-19” não atinja o Brasil. Nas contas do economista, os trabalhadores brasileiros perderam uma renda equivalente a R$ 70 bilhões pela quarentena (demissões, reclusões etc), mas já injetamos R$ 150 bilhões de estímulo emergencial, R$ 50 bilhões de estímulos às empresas, “que viraram salário aos funcionários”, R$ 50 bilhões de ajuda via “coronavoucher” e, se ele for renovado por mais 2 meses, podemos ter mais R$ 50 ou R$ 100 bilhões, dependendo do valor. “Ou seja, estamos falando de uma injeção de pelo menos R$ 250 bilhões para uma perda de renda de R$ 70 bilhões. Qualquer sinalização de que uma reabertura das economias não trará uma segunda onda, a retomada pode ser mais forte do que se imagina”.

Por fim, Daniel comentou sobre o resultado surpreendente do Relatório de emprego dos EUA na sexta-feira: esperava-se uma contração de 7,5 milhões de empregos em maio, mas foram criados 2,5 milhões, uma “pequena diferença” de 10 milhões. “Pode ter sido um ruído estatístico, já que no mês anterior teve uma queda espetacular, mas no fundo pode ser o indício de uma recuperação em ‘V’ [formato da letra V]. É muito cedo dizer isso, é apenas um indicador, mas de fato ele veio muito melhor do que o esperado”.

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Sobre o Coffee & StocksCoffee & Stocks é um programa diário de entrevistados apresentado pelo criador do Stock Pickers, Thiago Salomão. Ele é transmitido ao vivo às 7h15 da manhã no Instagram do Stock Pickers.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers