Crise nos bancos americanos pode virar global?

Alexandre Cancherini, sócio-fundador e gestor da Frontier, e Roberto Reis, sócio e CIO da Meraki, falam sobre os possíveis riscos com a falência do SVB

Rafaella Bertolini

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Nos últimos mesesm o cenário econômico mundial alterou consideravelmente com o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) enxugando a liquidez dos mercados. O primeiro grande choque ocorreu no último dia 10, com a 2ª quebra de um banco em um curto período, e a maior desde 2008.

O Silicon Valley Bank (SVB) veio à falência depois que sua base de clientes de startups de tecnologia estabelecida há muito tempo começou a sacar seus recursos, o que acendeu um alerta geral aos investidores mundo a fora.

Seria essa uma nova crise global? Podemos esperar um impacto generalizado ou os aprendizados de 2008 nos colocam numa posição menos preocupante?

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Para analisar o atual cenário, o Stock Pickers recebeu Alexandre Cancherini, sócio-fundador e gestor da Frontier Capital, e Roberto Reis, sócio e CIO da Meraki Capital.

Falência do SVB

Cancherini começou explicando a derrocada do banco em três pontos que ele julga importante. Primeiro, o fato de se tratar de um banco do Vale do Silício. Ou seja, possui grande exposição a empresas de tecnologia que nos últimos anos captaram muito dinheiro. “O que a gente percebe é que, não só quando você olha para o balanço do SVB, mas para o sistema como um todo, tem um momento muito importante da taxa de crescimento de depósitos dos bancos”, pontua.

O segundo é que o SVB tinha uma carteira muito líquida, “quando, de uma maneira muito muito simples, um banco capta dinheiro via depósito, ele pode emprestar esse dinheiro, ou investir em títulos. O que percebemos é que como estávamos em um cenário de lockdown, a taxa de crescimento de crédito foi inferior à taxa de crescimento de depósitos. Então houve uma explosão de liquidez, esse banco passa a investir em títulos, e tem pouco dinheiro para negociação”, explica.

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Outro ponto é que, com o aperto dos juros, investidores que realizavam altos depósitos de altos valores, mudaram de direção e passaram a fazer resgates. Para honrar os saques, o banco precisou vender títulos que tinha disponíveis à venda e isso acabou gerando uma perda.

Após o comunicado divulgado pela instituição sobre o impacto negativo da movimentação, criou-se um clima de pânico. Alexandre pontua que “bancos não quebram porque ação cai, bancos quebram porque tem gente que acha que vão quebrar”.

Podemos ter uma grande crise global?

Um alerta que a falência do Silicon Valley Bank acendeu foi a possibilidade de uma crise no sistema bancário. Mesmo com a oferta de linha de crédito do Banco Central norte-americano solucionando o caso do SVB, os investidores questionam se outras instituições poderiam vivenciar um problema semelhante ao do banco das startups.

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Para Roberto Reis, sócio e CIO da Meraki Capital, ainda é muito cedo para dar essa resposta. “Não sei onde há esse equilíbrio, onde essa história termina, da mesma forma que não sei até quando o Fed continuará acelerando o ritmo de juros, o que obviamente terá mais impacto”, diz.

2008 x 2022

Mesmo com o futuro incerto e envolvendo algumas importantes variáveis, Alexandre Cancherini não acredita na possibilidade do investidor o que ocorreu em 2008.

“Esse movimento que estamos passando é diferente do que aconteceu em 2008. Em 2008 teve uma questão de contraparte, em que se levou quase todo o sistema bancário. Acho que hoje o que a gente está vendo é um problema isolado, em que os bancos grandes estão até se beneficiando daquela história de ‘fly to quality’, só observar o quanto entrou de depósitos no Bank of America nas últimas 72 horas”, aponta o gestor.

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Durante o episódio 186 do podcast Stock Pickers, os gestores também responderam sobre o risco para os bancos brasileiros, o susto do Credit Suisse, e como todo esse cenário pode impactar a bolsa brasileira.

Para conferir, acesse o vídeo no YouTube ou ouça na plataforma de áudio da sua preferência.

Stock Pickers

​​O Stock Pickers é o maior podcast sobre ações do Brasil. O programa reúne gestores, analistas, traders e investidores em um debate sobre mercado e tudo que impacta em seus movimentos.

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Já recebeu nomes como Luis Stuhlberger, sócio-fundador da renomada gestora Verde Asset e um dos maiores gestores do país; Andre Jakurski, fundador da JGP, uma das maiores e mais vencedoras casas de gestão de recursos do Brasil; Leda Braga, doutora em engenharia mecânica, fundadora, acionista majoritária e CEO da Systematica Investments e mulher brasileira com a carreira mais consagrada no mercado financeiro; e outras inúmeras personalidades consagradas do ramo.

Rafaella Bertolini

Editora de redes sociais do Stock Pickers e Do Zero ao Topo. Escreve reportagens sobre empreendedorismo, gestão, inovação e mercados para o InfoMoney.