Copom subirá a Selic em todas as reuniões de 2021 — e isso não será ruim para bolsa, diz gestor

Alta de juros vai resultar em inflação ancorada e melhora de expectativa, explica Gustavo Brotto, CIO da recém-chegada gestora Greenbay Investimentos

Thiago Salomão

(CONDADO DA FARIA LIMA) – Em quarta-feira (16) de reuniões do Fomc e do Copom, o Coffee & Stocks Macro não poderia falar de outro assunto. O convidado foi Gustavo Brotto, CIO da novata Greenbay, cujo fundo multimercado (Greenbay Convex) começou a rodar 30 de abril deste ano.

Brotto e sua equipe deixaram a tesouraria do Santander no ano passado para montar a gestora, que atualmente está com cerca de R$ 80 milhões em ativos sob gestão. A exposição de risco do fundo divide-se em três partes, sendo 55% em livros táticos (com atuações mais ágeis) e 10% em ações focadas em longo prazo. Os 35% restantes estão em um livro tocado pelo próprio Brotto. Atualmente, essa parcela do Brotto está zerada em bolsa e câmbio, concentrando-se em uma posição aplicada em juros (isto é, apostando no fechamento – ou na queda – da curva de juros futuros).

A entrevista completa você confere no vídeo acima ou direto no canal do Stock Pickers no Youtube. Abaixo, os melhores trechos da conversa:

Copom subirá os juros em todas as reuniões deste ano. Ele deve subir em 75 pontos-base na reunião de hoje e na próxima. Nas 3 reuniões restantes, mais 3 altas de 50 pontos-base cada, encerrando 2021 com uma Selic de 6,5% ao ano.

Tivemos um choque enorme na inflação esse ano e podemos ver um pouco de inércia ano que vem, mas o cenário esperado é mais ‘tranquilo’ para 2022. Esperamos uma inflação de 5,8% para este ano (ou 6%, se a tarifa de energia subir para bandeira 2), mas para 2022 esperamos algo em torno de 3,5%, perto do centro da meta do BC.

Por que isso? Porque o BC vai ancorar as expectativas de inflação, o câmbio vai estar num nível mais confortável, o resultado fiscal tem melhorado e deve ajudar e na economia ainda vemos muito desemprego e hiato do produto. Nossa projeção de PIB para 2022 está na casa de 2,5%.

Essa alta de juros não será ruim para a bolsa. Isso não deve tirar o apetite por bolsa ou provocar uma migração de renda variável para renda fixa. O que seria ruim pra bolsa é uma inflação desancorada e falta de perspectiva, mas não é o caso, a Selic mais alta vai ajudar a ancorar as expectativas. Além disso, Selic a 6,5% ainda é muito baixa se comparar com nosso histórico.

Aqui no Greenbay Convex, temos 10% do risco do fundo exposto a ações com longo prazo, selecionadas por uma equipe focada nisso. É como se fosse um pedaço de um fundo ‘long only’ dentro do nosso multimercado.

Câmbio: o ‘hedge’ comprado em dólar não funciona mais. Quando a Selic estava em 2%, fazia sentido ter uma posição comprada em bolsa com um “hedge” comprado em dólar contra real, porque estava barato o “carrego” dessa posição. Hoje em dia, com a normalização de política monetária, ficou mais caro comprar dólar contra real, então esse hedge tem parado de funcionar. Começamos o fundo comprado em bolsa e em real e com um hedge “tomado” em juros (apostando na alta dos juros no longo prazo). Nossa projeção para dólar é de R$ 5,00 pro final desse ano e R$ 4,70 pro ano que vem. Enxergamos melhora mas essa melhora já foi grande e rápida, então nesse momento estamos zerados em câmbio e concentrando nosso risco “aplicado em juros” (isto é, apostando na queda – ou fechamento – da curva de juros futuros).

Reunião do Fomc de hoje é uma das mais importantes dos últimos tempos. Mercado tem medo do “tapering”, que é a redução de estímulos injetados pelo Federal Reserve via compra de títulos. Uma hora isso vai acontecer, mas o medo é de que essa normalização venha antes do esperado. Na reunião de hoje, devemos ver uma sinalização sobre isso e no Jackson Hole [encontro anual de presidentes de Bancos Centrais] em agosto devemos ter uma mensagem mais enfática. Mercado espera que o tapering aconteça ao longo de 2022. Isso está na expectativa do mercado, então se vier uma sinalização mais forte sobre isso, podemos ver um movimento de maior aversão a risco.

Outro ponto importante a acompanhar hoje são os “dots” (gráfico de pontos que mostra a expectativa que cada membro do Fed tem para a taxa de juros dos EUA nos próximos anos). Uma expectativa de alta nos ‘dots’ já é marginalmente esperada pelo mercado.

obs: a decisão da reunião do Fomc sai às 15h (horário de Brasília) e às 15h30 haverá uma coletiva de imprensa.

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Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers