Comprada em urânio, real e juro americano: como a gigante Kinea está vendo o mercado

"Inflação nos EUA subirá mais rápido do que o mercado espera", diz Marco Freire, responsável por R$ 36 bilhões em ativos sob gestão na Kinea

Thiago Salomão

(CONDADO DA FARIA LIMA) – Hoje tivemos um daqueles Coffee & Stocks que é quase impossível resumir em poucos parágrafos, mas vamos tentar: recebemos Marco Aurélio Freire, responsável pela gestão dos R$ 36 bilhões de ativos líquidos da Kinea. Ele abriu toda a carteira dos fundos da casa e revelou que possui várias posições consideradas fora do consenso, quando comparamos com outros fundos.

Uma das posições mais “não consensuais” talvez seja a comprada em real: “acredito que o real tem potencial para outperformar (ter uma performance acima de um índice de referência) de 5% a 10%”, diz Freire. O racional da tese: ele está super otimista com commodities, a balança comercial brasileira vai ser muito forte e, embora o fiscal esteja muito pior do que no passado, o juro vai subir para compensar esse maior aumento de risco.

Nos EUA, ele está comprado na alta de juros: “o tema agora é escassez. A economia está voltando muito mais rápido do que a produção de insumos, está faltando muitos produtos e a população não quer voltar a trabalhar por causa dos estímulos governamentais”. Isso vai puxar a inflação mais rápido do que o esperado e o juro vai ter que subir antes do que o Fed gostaria, completa o gestor da Kinea.

Ainda no exterior, Freire prefere commodities do que ações, citando dentre elas o cobre, petróleo e urânio (confira os detalhes da posição na entrevista completa, que está no vídeo acima ou no canal do Stock Pickers no Youtube). Ele também explicou por que ainda não investem em criptos.

Confira alguns destaques da entrevista:

O tema agora é escassez: a economia tá voltando muito mais rápido do que a produção de insumo. E como as pessoas não querem trabalhar, isso tende a piorar.

Algumas situações são anedóticas: tem McDonalds na Flórida que está pagando US$ 50 só para você ir na entrevista.

Os EUA vão ter que gerar estoque acima do normal, porque as empresas vão ficar com medo de faltar. Por isso acho que a inflação vai voltar mais rápido.

Cobre: ele vai ter que entrar muito forte nessa indústria mas falta oferta e onde tem cobre tem instabilidade política, principalmente na África.

Petróleo: nenhuma empresa quer investir em produção de petróleo com essa incerteza de demanda no futuro por causa da onda verde. Então deve ter queda de produção daqui pra frente, o que pode ajudar o preço

Alumínio China é uma grande produtora de alumínio mas isso causa danos ao ambiente e a China deve ter que cortar a produção pra atingir a meta.

Urânio: Energia nuclear é a mais eficiente que existe. Mas dado todos os acidentes do passado, existe a relutância em usar na Europa e Japão, só que na China isso está começando a mudar. EUA também tem mostrado menos resistência com o governo Biden.

Nossa proteção na carteira em Brasil é o cupom cambial. Ele é a nossa taxa de juros em dólar, geralmente negociada com prêmio em relação à curva de juros dos EUA. Esse prêmio hoje está muito baixo hoje, uns 60-70 pontos acima da Libor, o que faz dela uma posição barata de carregar.

Criptomoedas: ainda não entrou, mas não temos preconceito com nada. Mercado financeiro é darwiniano, se você não se adaptar você já era.

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Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers