Como ficam as ações das big techs com o aumento de juros nos EUA?

Marcio Fontes, gestor do Asa Hedge, Jennie Li, estrategista de ações da XP, Bruno Pires, equity research na Moat, debateram o tema no Stock Pickers

Equipe Stock Pickers

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Desde 2020, por conta da pandemia de covid-19, as economias globais começaram a sofrer com desajustes nas cadeias de globais de produção, fator agravado este ano com a guerra na Ucrânia. Com isso, o preço dos alimentos, energia e commodities começaram a subir e elevou a inflação no mundo inteiro.

Até meados do ano passado, o entendimento do mercado era de que esta alta seria apenas um choque, uma inflação transitória. Porém, esta visão mudou nos últimos meses com dados de inflação cada vez mais altos.

Segundo dados do Departamento de Trabalho dos EUA, os preços registraram aumento de 1,2% em março e acumulam avanço de 8,5% em 12 meses, o maior nível desde dezembro de 1981.

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Porém, além de questões globais, a maior economia do mundo também sofre com os efeitos dos estímulos monetários concedidos pelo governo durante o isolamento social. Por lá, muitas pessoas não querem mais trabalhar e o salário precisou aumentar para gerar atratividade.

“O core da inflação dos EUA é o salário e ele subiu em torno de 6%. É um aumento que gera aumento de preço e causa muita mais inflação do que desemprego”, disse Marcio Fontes, gestor do Asa Hedge, no episódio 143 do Stock Pickers.

Neste cenário, Bruno Pires, equity research na Moat Capital, ressalta que, em momentos como esse, é comum que a economia entre em recessão. Isso porque, com a inflação alta, o Federal Reserve (banco central americano) precisa elevar os juros, que hoje está no intervalo de 0,25% a 0,50% ao ano, para controlar a taxa. E isso, consequentemente, reduz a atividade econômica.

“O Fed sinaliza que vai conseguir reverter o cenário dessa vez sem recessão, mas o mercado tem suas dúvidas sobre isso. Aumentou o risco de ter uma recessão no curto prazo”, afirmou ele no Stock Pickers.

Para o gestor da Asa Hedge, os juros dos EUA deveriam subir para algo em torno de 6% ao ano, mas no momento o Fed sinaliza menos que isso, em torno de 3%. O que, para ele, mostra como a entidade monetária norte-americana está “atrás da curva” e a economia deve sofrer por mais tempo. “O que da pra dizer é que estamos longe do equilíbrio e temos que subir os juros rápido”, disse Marcio.

Ações do setor de tecnologia

Em momentos como estes, de inflação alta e perspectiva de aumentos na taxa de juros, o setor que mais costuma ser penalizado é o de tecnologia. Como a maior parte do valor de mercado dessas empresas está projetado para os próximos anos e o aumento da taxa desacelera a economia, a tendência é que o crescimento dessas companhias também sejam menores.

Com isso, as ações do setor, as queridinhas do mercado em 2020 e 2021, agora se veem em uma situação oposta. “As empresas de tecnologia têm que olhar com mais cuidado com os juros subindo. Estamos em um movimento de ser mais defensivos na nossa carteira. Estamos em um cenário complicado e priorizamos empresas que conseguem repassar os preços”, ressaltou Jennie Li, estrategista de ações da XP Investimentos, no Stock Pickers.

Segundo ela, o BDR (Brazilian Depositary Receipt) da Kraft Heinz (KHCB34) foi incluído na carteira recomendada da corretora por este motivo. Apesar disso, Jennie ressalta que não abandonou de vez o setor de tecnologia e ainda recomenda algumas ações de semi-condutores e ciber-segurança. “São teses de longo prazo, no curto sofrem um pouco, mas no momento atual podem ser uma boa oportunidade de entrada”, afirma Jennie.

Pires, da Moat Capital, afirma que o investidor que queira continuar posicionado no setor deve buscar por ações de empresas com múltiplos baratos. Segundo ele, ações como a da Apple (AAPL34) e da Amazon (AMZO34) não valem a pena no momento, mesmo com as empresas reportando grandes lucros. “Tem que acreditar na perpetuidade desses números ou que vai ter uma alavancagem operacional em algum momento, mas neste cenário todo é complicado”, diz ele.

Para mais detalhes sobre a visão dos especialistas sobre o momento atual de elevação de juros nos EUA, confira o episódio 143 do Stock Pickers a seguir:

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