Como fazer hedge, segundo o gestor que ganhou mais de 30% em 2020

Comprado em petróleo, João Landau, da Vista, ganhou dinheiro no mês que o preço do barril ficou negativo. Entenda como ele protege o patrimônio.

Renato Santiago

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Quando a pandemia começou, a principal posição dos fundos da Vista Capital estava ligada ao petróleo. Com grande parte do patrimônio alocado na própria commodity e papéis da Petrobras, João Landau, fundador e gestor macro da casa, viu a demanda por combustíveis cair ao mesmo tempo em que Rússia e Opep divergiam sobre a produção.

Em 20 de abril, o que parecia uma tragédia para quem estava tão alocado na commodity aconteceu: o preço do contrato de petróleo futuro chegou a zero. Minutos depois, outra tragédia, um pouco mais surreal e inédita: o barril atingiu valores negativos, cotado a US$ -13,10.

Mesmo assim, os quatro fundos da Vista fecharam o mês com rentabilidades entre 5% e 14,7%. Não tem mágica nem segredo. A chave está no hedge (ou proteção, em português).

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“Aqui somos hedge fund de verdade. A gente tem uma posição comprada e faz hedge para ela”, explica o próprio Landau no episódio 81 do Stock Pickers (que você pode ouvir clicando no play). 

Como, então, se faz isso? No mundo da gestão de recursos não existem apólices de seguros para os gestores comprarem e garantirem o capital. Mas existem operações que funcionam mais ou menos desse jeito – e às vezes dão muito lucro. 

“O primeiro passo é buscar a qual risco estamos expostos. Por exemplo, no caso da Petrobras, um risco é o petróleo, mas existe também o risco Brasil. Imagine que você protege a posição de Petrobras vendendo petróleo. O petróleo sobe, mas a Petrobras não performa bem porque pode estar segurando reajustes de preço. Não adiantou hedge no petróleo”, explica Landau.

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Como, então, se proteger do risco Brasil? “Vendendo Banco do Brasil, usando a curva de juros. A parte comprada é estática, o hedge é dinâmico”, resume.

De vez em quando isso cria situações estranhas, na qual o fundo cai sozinho, como em janeiro de 2020. “Às vezes somos uma estrela solitária, perdemos dinheiro sozinho. O nosso risco é a descorrelação, é perder no ativo comprado e no hedge”, completa Landau. Naquele mês, estávamos comprados em Brasil e tínhamos hedge em México e Argentina. “Mas cada um foi para um lado”, diz Landau. Os quatro fundos da casa terminaram o mês com rentabilidade entre -5,4% e -1,4%. 

O dilema do hedge

Nem todo seguro vale a pena e é esse o problema que hedge funds hoje precisam resolver. Todos os instrumentos clássicos de proteção estão caros demais, a começar pelos títulos públicos, que têm juros reais negativos ou muito próximo disso 

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“E, assim como seguradoras e resseguradoras aumentam os prêmios após grandes sinistros, observamos o mesmo fenômeno no mercado de seguros financeiros. Os investidores, na ausência de alternativas viáveis, são obrigados a pagar altos prêmios na busca do gerenciamento ótimo do risco”, disse a última carta da Vista. 

Segundo a gestora, fazer um seguro para as ações listadas em bolsa, hoje, custa 9% do capital, ou 30% mais que em anos anteriores, fruto do último grande sinistro que as bolsas viveram com a pandemia.

Aí está o dilema. Por um lado, o ambiente de juros negativos incentiva a tomada de riscos. Por outro, o custo do hedge e a volatilidade do mercado estimulam a manutenção do dinheiro em caixa. Para qual lado você iria diante deste dilema? Clicando no play você ouve o episódio desta semana e descobre como a Vista e Landau estão lidando com isso.

Renato Santiago

Renato Santiago é jornalista, coordenador de conteúdo e educação do InfoMoney