CEO do Banco ABC Brasil (ABCB4): “Nunca fizemos M&A, mas o momento mudou”

Com história marcada por crescimento orgânico, instituição avalia agora aquisições que possam acelerar o desenvolvimento da empresa

Augusto Diniz

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No Banco ABC Brasil ([ativo=ABCB4]) desde sua criação, Sergio Lulia conviveu com todas as turbulências do sistema financeiro global nos últimos 30 anos. Em entrevista ao programa “Entre Reis e CEOs”, apresentado por Tiago Reis, fundador e CEO da Suno Research, o atual CEO da instituição conta como a empresa se manteve sólida nesse tempo e buscou oportunidades para crescer.

Criado em 1989, o ABC fez oferta pública de ações na bolsa em 2007. Antes do IPO, a instituição já tinha forte presença de atendimento às grandes empresas.

“A gente fez IPO porque viu oportunidade de crescer no mercado que a gente conhece, potencial de aumento de market share, de participação dentro da vida financeira dos clientes”, conta Lulia. “Só que o capital era pequeno. Então a gente se viu na situação de concorrer com os bancos, que podíamos fazer mais negócios com o cliente, mas não fazia devido ao seu tamanho”, acrescenta.

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Quando o banco ABC realizou o IPO, a empresa ficou com R$ 1,05 bilhão de patrimônio. Hoje, está em cerca de R$ 5 bilhões. O banco na época do IPO tinha R$ 6 bilhões em ativos, atualmente está com aproximadamente R$ 50 bilhões. “Então é um banco que teve um crescimento bastante expressivo”, destaca o CEO.

Diretoria é sócia do banco

O Banco ABC Brasil é controlado pelo Bank ABC (Arab Bank Corporation), com sede em Bahrein, que detém 60% das ações – do restante, 34% estão em ações na bolsa e 6% pertencem aos sócios.

Dez anos antes da oferta de ações, os árabes adquiriram a totalidade do banco, encerrando a parceria com o grupo Roberto Marinho do início de seu estabelecimento no País, em 1989. Naquela época, também vendeu 18% do capital para nove executivos – incluindo Sergio Lulia.

Lulia começou no ABC como analista de crédito, foi para área comercial, tornou-se tesoureiro do banco, passou pela área internacional, atuou como diretor de relações com investidores e vice-presidente de produtos, até assumir no início do ano passado o cargo de CEO. “Passei por diversos empregos diferentes dentro da mesma organização”, brinca.

“Tenho vários desafios de levar o banco a outro patamar de tamanho, de produtos, de mercado que a gente atua”, diz. Outra meta do CEO é fazer a transição do time original que vem com o banco há cerca de 30 anos com os mais jovens. Atualmente, o banco tem 25 sócios.

Oportunidades com fintechs

Sergio Lulia diz que o segredo de crescer com solidez é não fazer o que não sabe. “Na vida, já é difícil fazer 2, 3 coisas bem feitas. Aqueles bancos que colocaram capital para dentro e começaram a atirar para tudo que é lado, mais cedo ou mais tarde tomaram trombada. Não é para se fechar para as oportunidades. Mas essa disciplina de ir onde temos direito de vencer, é uma obsessão nossa”, diz.

A história do Banco ABC foi sempre marcada pelo crescimento orgânico. “Nunca fizemos M&A [fusão e aquisição]. Mas no momento atual a questão mudou”, afirma Lulia. Nos últimos 3 anos, o executivo explica que a companhia tem focado em levar a qualidade de atendimento às grandes empresas para o segmento das médias e pequenas empresas.

“E aí, pode ter oportunidades específicas de M&A, sejam fintechs ou empresas pequenas, que tenham capacidade de acelerar esse processo de desenvolvimento que está sendo feito no banco”, relata. Dentro da empresa, o projeto tem o nome de M&A programático. “Trata-se de uma série de aquisições que no seu conjunto pode transformar a instituição”, ressalta.

Lulia vê as fintechs mais como complementares ao que o Banco ABC oferta aos clientes do que concorrentes diretos. “As fintechs vêm trazendo soluções, produtos e experiências para o cliente corporativo que pode nos ajudar. Temos feito algumas parcerias com elas até para processos internos do banco”, diz. Ele cita o exemplo do processo de onbording de clientes desenvolvido por fintech, já oferecido pelo banco.

A instituição atende cerca de 4 mil empresas, em todo território nacional, entre grandes corporações ao chamado middle market. A carteira de crédito hoje da empresa gira em torno de R$ 40 bilhões.

Na linha de serviços, o banco atua com cash management, assessoramento de investimento, de M&A e de IPO, além de fianças bancárias. Receitas de serviço representam cerca de 20% dos negócios – 80% são relacionados à área de crédito.

Aprendendo com as crises globais

Mais recentemente, o banco tem trabalhado em ajudar seus clientes com fornecedores, clientes e funcionários. Esse foco surgiu na pandemia. Ele cita que os clientes do ABC estavam saudáveis, mas problemas na linha de produção apontavam que os fornecedores deles não estavam tão bem. “Se eu ajudar esse fornecedor, vou ajudar esse cliente”, diz Lulia. “São produtos que estamos desenvolvendo”, destaca.

O CEO Sergio Lulia, nesse longo tempo no sistema financeiro, viu várias crises globais. “Precisa ter humildade. Você não sabe de onde vem a crise. Ninguém conseguiu prever a pandemia. Em 2008, pouca gente previu a crise”, lembra. Por conta disso, o executivo ressalta a importância de ter uma carteira bem pulverizada, tanto de clientes como de setores. “Você tem que ter uma política de caixa muito forte. O Banco ABC Brasil é um banco que tem um funding mais longo que seus ativos”, acrescenta.

Sobre a política de dividendos, o CEO destaca que as atividades do banco ABC têm rentabilidade suficiente para pagar bons dividendos e para investir no que é necessário para o crescimento do banco.

Assista à entrevista completa de Sergio Lulia, CEO do Banco ABC Brasil, no programa “Entre Reis e CEOs”, apresentado por Tiago Reis, da Suno Research: