A importância do que disse Paulo Guedes, segundo a Safari Capital

Para o economista Elsom Yassuda, o governo finalmente começou a usar os instrumentos de que dispõe para evitar uma "quebradeira" das empresas

Nicolas Gunkel

O ministro da Economia, Paulo Guedes (Albino Oliveira - Ascom/Ministério da Economia)

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A mensagem do ministro da Economia, Paulo Guedes, em videoconferência com representantes da XP Investimentos neste sábado (28) foi importante para mostrar que há uma liderança para combater os estragos econômicos do coronavírus. A avaliação é de Elsom Yassuda, economista da Safari Capital e convidado do Coffee & Stocks nesta segunda-feira (30).

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“A gente precisa de uma liderança nesse processo, porque você está fazendo um movimento muito grande de política. Você dar o mandato para o BC comprar qualquer ativo do mercado financeiro é relevante e você precisa explicar para as lideranças. O fato de o Paulo Guedes ter voltado a defender essas ideias é fundamental”, afirmou.

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Na sexta-feira (27), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, anunciou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para permitir que a autoridade monetária brasileira compre créditos diretamente de empresas em momentos de crise, sem necessidade de passar pelo sistema bancário. A PEC é necessária pois a legislação atual não permite que o Banco Central compre ativos nos mercados financeiro e de capitais.

“Se eu tenho uma carteira performando muito mal, pois o banco parou de me dar crédito, o BC pode comprar a carteira de crédito e pagar a dívida das empresas. Isso permite que o dinheiro circule para a economia, não fique empoçado dentro do mercado financeiro e flua para quem mais precisa, que são as empresas e famílias”, explicou Yassuda.

Para ele, há dois principais vetores de risco nos mercados atualmente. O primeiro diz respeito à imprevisibilidade da epidemia em cada país e o tempo necessário para que as autoridades possam flexibilizar o lockdown.

O segundo está justamente no endividamento das empresas, que pode causar um “buraco” no mercado de crédito e prejudicar a liquidez dos ativos. “A gente vai voltar mais rápido ou mais devagar dessa crise toda se a gente tomar medidas corretas e proteger mais o mercado de crédito, e não induzir a uma quebradeira de empresas nos próximos meses”, afirmou.

Yassuda lembrou que bancos centrais no mundo todo têm atuado com medidas incisivas para evitar um efeito cascata de falências. “Na Europa, inclusive, você pode fazer quantitative easing [mecanismo de injeção de liquidez na economia] ilimitado com títulos soberanos”, ponderou, antes de ressaltar que a PEC por aqui ainda precisa ser aprovada.

O economista acredita que as medidas anunciadas pelo governo no final da semana passada vieram com certo atraso em relação a outros países, e que o próprio Congresso teve uma leitura mais rápida do que o governo sobre o antídoto para a crise.

“Você tem o Fed fazendo quantitative easing infinito, injetando 10% do PIB na economia, que tem sido a média de expansão fiscal dos países mais ricos. E nós, que estávamos atrasados nessa história, começamos a nos mexer, principalmente após essa medida do Banco Central de poder comprar ativos financeiros diretamente”.

Apesar de apontar as ações do governo como as responsáveis pela alta da Bolsa na semana passada, Yassuda alerta que o cenário seguirá preocupante até que a extensão do lockdown se torne mais clara.

“Estamos com bons instrumentos para ajudar nessa disfuncionalidade do mercado. Essas medidas de liquidez e de expansão fiscal ajudam, mas só devemos sair desse cenário de maior risco quando começarmos a ter visibilidade sobre até quando vai o lockdown.”

Cisne negro

Yassuda conta que a crise não estava no radar da Safari, que tinha pouca posição em caixa no início da turbulência.

“A gente entrou comprado nessa história toda. Não conseguiu antecipar toda essa queda de atividade que veio muito rápido. E o pior, começou no Carnaval, o que deixou ainda mais difícil operar nisso tudo”.

Passado o susto inicial, a Safari reduziu significativamente sua exposição à Bolsa segunda semana de março. A partir daí, voltou a aumentar a posição gradativamente. Hoje o fundo de ações da casa está 80% comprado em Bolsa.

“Os mercados estavam disfuncionais, nenhuma correlação estava funcionando. A bolsa caiu junto com treasury [título público americano] abrindo e ouro caindo. Era basicamente o mercado procurando liquidez. Começamos a comprar novamente quando ficou um pouco mais claro que as respostas à crise estavam sendo encaminhadas”, conta.

Yassuda não revelou o nome das empresas que compõem atualmente a carteira da gestora. Mas afirmou que está menos posicionada em setores alavancados à demanda doméstica ou expostos ao lockdown do Brasil.

“Temos bastante exportadora, bastante empresa online, mas é um momento de ir, de uma maneira cuidadosa porque não é um carrego fácil, alocando risco sim”.

Para o investidor que olha para um horizonte de 6 a 12 meses, Yassuda considera que o mercado de ações é hoje “claramente” uma oportunidade. “No pior dos mundos, você tem uma vacina ou uma terapêutica no tratamento, esse negócio está vindo e a epidemia sai da frente. O que temos que olhar é como carregar isso e quais as consequências que isso pode ter na economia”

Um passo à frente

Da mesma forma que entrou na crise mais comprada na crise do que gostaria, agora a Safari busca antecipar a retomada da economia antes do mercado.

“Quando eu olho para os mercados, vejo lá a treasury de 10 anos dos EUA perto de 0,8%, inflação de longo prazo rodando em patamar historicamente baixo, vejo esse índice VIX (em 60 pontos) elevado. Todos os indicadores mostram que os mercados estão disfuncionais. Ou seja, a renda fixa me diz que a economia global entra em recessão e ficará assim por muito tempo. Eu acho que não, por mais que o carrego seja complicado, eu vejo que no ciclo da epidemia existe uma volta”.

Segundo ele, boa parte das “disfuncionalidades” do mercado pode ser combatida via expansão fiscal e, principalmente, via política monetária. “Ou seja, parece uma oportunidade num prazo mais longo, mas não sabemos quando, por isso o carrego é tão difícil”, diz.

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Nicolas Gunkel

Nicolas Gunkel é jornalista pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e editor de Conteúdo no InfoMoney