A guerra dos semicondutores: as razões da disputa entre EUA e China (e as oportunidades no radar)

Em um mundo cada vez mais digitalizado, os semicondutores se tornaram imprescindíveis para o desenvolvimento tecnológico

Rafaella Bertolini

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Nas últimas décadas vimos produtos da vida cotidiana, como televisores, celulares, computadores, carros, entre tantos outros, tornando-se cada vez mais digitais. O grande “possibilitador” destes avanços são os semicondutores, geralmente conhecidos como os chips presentes nos itens.

A importância do artefato tornou-se tamanha que, de acordo com Murilo Freiberger, gestor da Dahlia Capital, “eles já são uma das mercadorias mais importantes do planeta em termos de negociação”. Para se ter uma ideia, no índice de importação da balança comercial da China, os semicondutores encontram-se em primeiro lugar, seguido por petróleo e alimentos.

“Os semicondutores são para o século XXI o que foi o petróleo no século passado”, completa.

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O que é e qual a função de um semicondutor

Existem alguns materiais condutores de eletricidade — como o cobre por exemplo — e, e outros que são isolantes. No caso do Silício, a depender da maneira que for manuseado, pode tanto isolar, quanto conduz, e por isso é intitulado como semicondutor.

Na prática, os semicondutores são responsáveis por basicamente todas as funções de um equipamento eletrônico, da torradeira até um computador da NASA.

Para exemplificar de maneira simples, pense que você está apertando o botão de ligar da sua televisão. Nela, dentro de uma placa de silício há o chamado “transistor”, por onde os elétrons caminham para processar as funções. Os semicondutores são responsáveis por “permitirem ou impedirem” esses elétrons de “passar”.

Para os carros autônomos, por exemplo, os semicondutores chegam a ter bilhões de “transistors” dentro de uma única chapa.

Quem domina a indústria

A P.I (propriedade intelectual), que seria não apenas a ideia do semicondutor, mas de como estruturá-lo e fazer um software adequado, é praticamente dominada pelos EUA, “Mais da metade da receita vinda dos semicondutores é destinada para lá para pagar a propriedade intelectual”, conta Freiberger.

Sobre a manufatura, a TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Company), uma empresa de Taiwan, possui cerca de 85% a 90% do market share (participação de mercado) da fabricação do semicondutor de ponta. Atrás está a Samsung, localizada na Coreia do Sul, com entre 10% e 15%.

Freiberger ressalta que “o processo industrial de um semicondutor de ponta é o mais avançado que o ser humano tem hoje”.

Pretexto para conflitos

Visto que vivemos em um mundo cada vez mais digitalizado, e, por consequência, ávido dos semicondutores, este passa a ser um assunto de interesse global.

Trazendo para o contexto geopolítico, tanto os países que possuem propriedade intelectual, quanto os manufatores, são aliados dos EUA.

Com as tensões entre China e Taiwan, que cresceram nos últimos tempos, e indicam estarem escalando uma guerra, a preocupação é de que maneira podem impactar na cadeia produtiva.

“Hoje, se desligar a fábrica da TSMC TSMC34 não teremos acesso a celular de ponta, processadores de vídeo (…) A Amazon (AMZO34) e o Google (GOGL34), por exemplo, não irão conseguir o sistema de nuvem que usam. è como se retornasse 5 anos à evolução tecnológica”, explica o gestor da Dahlia Capital,.

Tensões recentes

Sabendo da importância do tema, os Estados Unidos proibiram que todas suas empresas, e de seus aliados, vendessem não só semicondutores de ponta na China, mas também os materiais para construção, e que engenheiros com passaporte norte-americano trabalhem em empresas chinesas que desenvolvam o produto. “Do ponto de vista da tecnologia, essa é uma medida de guerra contra a China”, completa Freiberger.

O crescimento dos conflitos, aliados às medidas protecionistas dos EUA, evidenciaram ainda mais a importância dos semicondutores para tecnologia e harmonia geopolítica.

Para saber mais sobre o assunto, confira o episódio completo do Global Pickers no vídeo acima.

Rafaella Bertolini

Editora de redes sociais do Stock Pickers e Do Zero ao Topo. Escreve reportagens sobre empreendedorismo, gestão, inovação e mercados para o InfoMoney.