5 livros que uma das maiores leitoras do mercado financeiro recomenda

"Freak por livros", Beatriz Fortunato apresenta cinco dos mais importantes da sua lista.

Colunista Convidado

Beatriz Fortunato é uma leitora ávida, gestora e fundadora da Studio. Esteve nos episódios 61 e 62 do Stock Pickers.

Na gravação dos episódios 61 do Stock pickers, o Thiago Salomão disse que ficou curioso sobre quais seriam meus 5 livros prediletos e por quê. Aí resolvemos fazer esse texto. Espero que ajude a inspirar alguns de vocês a lerem um deles.

Bem, como ele mesmo me chamou, nenhuma pessoa “freak” por livros consegue escolher só 5 preferidos. Cada um tem seu papel, seu momento, seu impacto na nossa vida. Vou falar de 5, mas não são necessariamente os top 5 de um ranking absoluto. São os que nesse momento da minha vida eu lembro de terem sido muito relevantes para mim e procurei abordar diferentes temas. Nós do mercado financeiro somos um oceano de conhecimento bem raso, sabemos um pouco de tudo e muito de nada. Acho que minhas leituras percorrem a mesma lógica.

A ordem também não foi pensada, coloquei apenas na ordem cronológica que apareceram na minha vida.

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Não incluí livros sobre finanças e business. Podemos fazer uma lista específica sobre esses depois, mas vou deixar um spoiler: são os do Nassim Taleb. Ele entrega o melhor apanhado sobre risco que conheço. Para mim, Taleb é um filósofo, um pensador que trata o risco e o futuro da única forma que me parece fazer sentido. Risco são todas as infinitas coisas que poderiam acontecer mas acabam não acontecendo; realidade é aquilo que acontece e é altamente influenciado pela aleatoriedade. Praticamente todos seus insights brilhantes têm esse ponto de partida e suas reflexões extrapolam o mercado financeiro e nos ajudam a formar uma visão de mundo.

Vamos aos livros!

Gene Egoísta – Richard Dawkins. Dawkins é um biólogo evolucionista de destaque e teve um importante papel como divulgador científico nas últimas décadas. Eu li Gene Egoísta ainda bem nova, pouco mais de 20 anos. Era um dos livros considerados “must read” no meu primeiro trabalho e dali começou um enorme interesse pela genialidade, abrangência e relevância da Teoria da Evolução nas nossas vidas. A engenhosidade de Dawkins nesse livro de 1976 é um capítulo à parte. Uma nova abordagem da teoria evolutiva, centrada no gene e não mais nos organismos como um todo, que desconstrói o senso comum de então e se mantém relevante depois de meio século, na lista de top 10 da Amazon da categoria.

Dawkins dá um passo adiante na teoria de Darwin e define os organismos como máquinas de sobrevivência para o objetivo final da Biologia, a imortalidade do gene. Os exemplos trazidos para justificar comportamentos aparentemente paradoxais dos animais são fascinantes, e fazem total sentido sob a luz de sua teoria que mostra os genes, muitas vezes, como verdadeiros tiranos ao guiar nossas atitudes. Nesse livro, Dawkins cria a expressão “meme” para representar um aspecto cultural que tem um comportamento análogo ao gene, se auto replicando, sofrendo mutações e pressões da seleção natural. Daí vêm os memes da internet tão presentes em nossas vidas hoje.

Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley. Não sou uma leitora de ficção, dificilmente uma me pega de verdade. Mas eu tenho uma ficção preferida. E clássica. A história de Huxley é uma daquelas que envelheceu maravilhosamente bem, um romance que quase um século depois de escrito parece descrever um futuro agora mais próximo onde a tecnologia e a má ciência, juntas ao totalitarismo, nos afastam da nossa natureza humana e criam uma sociedade asséptica, forjada pela eugenia e onde a felicidade é produzida por doses de medicação que mantém todos  contentes e satisfeitos. O romance figura em uma série de listas de livros mais relevantes da história, e sem dúvida é o maior representante das distopias de ficção científica. O livro introduziu meu interesse pelo gênero e me levou a várias outras como 1984, Fahrenheit 451, Blade Runner, Matrix e Black Mirror. Todas têm em comum a densidade, são um soco no estômago, mas fazem pensar.

Aprender a Viver – Luc Ferry. Filosofia é mais um tema que costumo me interessar, mas confesso que os clássicos são eruditos demais para mim e tenho dificuldade, muitas vezes, de persistir. Luc Ferry é um filósofo contemporâneo, do tipo que você desejaria ser amiga, com uma visão positiva da vida e uma inclinação pela alegria, diferente da maioria clássica. Foi ministro da educação na França, tem uma visão prática e funcional da filosofia e uma produção enorme de livros que passam por diferentes temas. Aprender a Viver apareceu na minha vida em um dos momentos pessoais mais difíceis que passei e me ajudou a superá-lo. Ferry trata a filosofia como uma doutrina de salvação, porque foi como funcionou para ele, como a religião funciona para alguns. “Aprender a Viver” passa pela história da filosofia e funciona como uma grande introdução aos principais pensadores e ideias de uma forma fluida, agradável e que desperta enorme desejo de saber mais. A abordagem de Ferry ilumina grandes questões existenciais e traz uma sensação de cura, pelo menos para mim foi assim.

Armas, Germes e Aço – Jared Diamond. O biólogo que tem especialização em fisiologia e ecologia acabou se dedicando a uma terceira carreira em Geografia, quando acabou produzindo seus livros mais famosos. Nesse livro ele constrói e desenvolve de uma forma incrivelmente convincente a teoria de que a Geografia e o Meio Ambiente foram os principais fatores na formação do mundo moderno. As sociedades que primeiro evoluíram para produzir sua própria comida o fizeram por fatores ambientais e dali seguiram para os próximos passos que permitiram novos grandes saltos como a escrita, tecnologia, governos, imunidade aos germes e armas poderosas. Diamond conta uma história envolvente baseada em múltiplas disciplinas, muita Antropologia e História, e consegue o feito de ser lido por milhares de pessoas e produzir um conteúdo de relevância acadêmica ao mesmo tempo. Os críticos consideram a teoria de Diamond reducionista, mas qual teoria sociológica não é reducionista? E qual ideia brilhante não é sempre, de certa forma, uma simplificação da realidade?

The Sexual Paradox – Susan Pinker. Susan é a irmã menos famosa do também psicólogo Steven Pinker. Cheguei nela através dele e pelo desejo de saber mais um pouco sobre as pesquisas em relação à persistente diferença no mercado de trabalho entre homens e mulheres. O livro me ajudou muito a entender por que, apesar das meninas terem o melhor desempenho escolar, do aumento das oportunidades de formação e emprego dada as mulheres seguimos como um enorme gap de representatividade e remuneração no mercado de trabalho. Susan enfrenta o politicamente correto e traz uma série de explicações evolutivas, biológicas e comportamentais para nossas escolhas, que, curiosamente, são mais diferentes das dos homens quanto mais desenvolvido o país e mais liberdade temos. 

Passei por diferentes áreas, Biologia, Distopia, Filosofia, Geografia, História, Sociologia e discussões sobre Gênero para tentar aumentar minhas chances de provocar alguma curiosidade em vocês. Uma das melhores coisas do meu trabalho é encontrar insights em praticamente qualquer área de conhecimento. Como já defende há décadas Charlie Munger, sócio de Buffett, a psicologia humana nos faz torturar a realidade para se enquadrar nos nossos modelos mentais. Quanto mais modelos tivermos menor a chance de exagerarmos na tortura. Além disso, esses modelos precisam vir de múltiplas disciplinas já que um departamento acadêmico não consegue explicar o mundo!

Boa Leitura!