5 lições de Warren Buffett para o investidor de ações

Pedro Chermont, da Leblon Equities, e Hulisses Dias, o Tio Huli, compartilham lições valiosas do Oráculo de Omaha sobre o value investing

Nicolas Gunkel

O investidor Warren Buffett (Getty Images)

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SÃO PAULO – O lendário investidor Warren Buffett ganhou ao longo das últimas décadas uma legião de seguidores ao redor do globo — de investidores comuns a gestores de fundos que adotam o value investing como estratégia central para a seleção de ativos para seu portfólio.

Pedro Chermont, da Leblon Equities, e Hulisses Dias, o Tio Huli, são dois desses admiradores do legado buffettiano.

Eles foram os convidados especiais do último episódio do Stock Pickers – Aprendizados em Tempos de Crise, e compartilharam algumas lições valiosas do Oráculo de Omaha para quem busca retornos consistentes no longo prazo.

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Confira a seguir cada uma delas:

Círculo de competência e Stock Picking

As principais posições do book de ações da Berkshire Hathaway, holding gerida pelo megainvestidor, pertencem a dois setores em particular: bancos e consumo.

Entre os papéis, estão U.S. Barcorp, JP Morgan, Wells Fargo, Bank of America, Apple, Kraft-Heinz e Coca-Cola. Essa concentração, é claro, não vem por acaso.

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Buffett é adepto do conceito de círculo de competência, isto é, a ideia de que irão se sobressair os investidores que se especializarem em determinados nichos do mercado. “Ele está concentrado nos setores que conhece melhor”, explica Tio Huli.

Para Chermont, em mercados cada vez mais eficientes, é arrogância do investidor pressupor que possa ser mais inteligente que os restantes. “Se você perguntar às pessoas que têm carta de motorista, 90% vão dizer que dirigem melhor que a média”, brinca.

Nesse cenário, segundo o gestor, é mais viável tentar outperformar o mercado estudando profundamente um número restrito de ativos.

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“Por isso, quando a Leblon foi fundada, a estratégia foi fazer só cobertura de Brasil, e só ações. Tem muita gente boa, muito bom gestor. A única maneira que achamos que poderíamos ter um diferencial era focar em uma quantidade pequena de assuntos”.

Mais do que isso, Chermont conta que faz parte da gestora estar presente no dia-a-dia das empresas em que investe, e conhecer bem as lideranças por trás do processo decisório.

“O Buffett diz que não é possível fazer negócio bom com pessoa ruim. Conhecer pessoas por trás dos negócios é absolutamente fundamental”, afirma.

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Placar Interno

Warren Buffett considera que há dois tipos de investidores: aqueles que seguem um placar externo — preocupados com a opinião do restante do mercado sobre suas decisões — e aqueles que seguem o placar interno, baseado apenas em sua própria filosofia de investimentos.

Em um universo repleto de investidores e concorrentes, manter-se agarrado ao placar interno exige sangue frio. Ainda mais no caso de gestores de fundos, que têm benchmarks a bater no curto prazo e satisfações a dar a seus cotistas.

“Como investidor pessoa física, você não precisa dar satisfação para ninguém em termos de retorno. Se você vai comprar hoje, não precisa ficar se pressionando pra vencer o Ibovespa e o S&P nos próximos meses”, aconselha Tio Huli. “É muito importante para o investidor sair dessa neura de ficar se comparando.”

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Ele lembra que, no longo prazo, são sempre os fundos que estão abaixo do primeiro escalão de rentabilidade anual que costumam alcançar o maior retorno anualizado. “O value investor está muito mais interessado em se defender da queda do que aproveitar a alta”, explica.

Para Chermont, é justamente o comprometimento de Buffett com seu placar interno que o torna uma peça única no universo dos investimentos. “Ele não se incomoda em investir em uma ação um pouco mais óbvia, e também não se incomoda em ser brutalmente contrarian em outros casos”, observa.

Pensamento de Longo Prazo

“O mercado de ações é um dispositivo para transferir dinheiro dos impacientes para os pacientes.” A frase proferida por Buffett ajuda a explicar um dos principais pilares de seu sucesso como investidor.

Embora nem sempre bata com folga o S&P no curto prazo, seu olhar para um horizonte mais longo lhe rendeu um track record invejável de 20% ao ano por três décadas. O S&P, no mesmo período, rendeu pouco mais que 10% ao ano.

Para Chermont, o foco inabalável do pai do value investing traz uma lição importante aos investidores mais afoitos. “No momento, todos nós estamos sendo testados na nossa capacidade de nos manter racionais, com disciplina e paciência.”

Tio Huli, por sua vez, lembra da entrevista concedida pelo Oráculo de Omaha à CNBC, no fim de abril. “Olhar para o longo prazo é não tomar nenhuma decisão baseada no coronavírus.”

Gerenciamento de Liquidez

Boa parte dos investidores (e também dos gestores) foram pegos de calças curtas pela crise do coronavírus. Muitos entraram em 2020 100% comprados, e quando começaram a surgir as primeiras barganhas não tinham caixa para aproveitá-las.

Tio Huli lembra que, em 2019, muitos veículos de imprensa criticaram o tamanho da posição em caixa de Buffett. “Disseram que não ganhava do S&P 500, disseram que a liquidez estava custando muito aos acionistas que talvez ele estivesse ultrapassado.”

E aí veio o coronavírus. Tio Huli lembra que, embora o book de ações da Berkshire Hathaway tenha caído mais do que o S&P desde o início do ano, a posição em renda fixa da holding fez com a carteira total fosse mais resiliente.

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Nicolas Gunkel

Nicolas Gunkel é jornalista pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e editor de Conteúdo no InfoMoney