2020, o ano que ninguém aguenta mais

Tem tanta coisa para falar de 2020 que começamos nossa retrospectiva mais cedo.

Renato Santiago

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Texto originalmente enviado aos assinantes da newsletter do Stock Pickers em 5 de dezembro de 2020. Para assiná-la, clique aqui.

Antes da leitura, um obrigado a todos que estão conosco desde o começo da nossa caminhada e fez o Stock Pickers ganhar prêmio de Podcast/Programa de Rádio sobre Finanças mais admirado do Brasil.

Thiago Salomão e Renato Santiago exibem prêmio

Se você pudesse resumir o ano de 2020 em uma frase, qual seria?

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A minha seria a mesma que o Thiago Salomão lançou ao vivo (apesar de sem querer) no Melhores da Bolsa 2020: “P*** que pariu!”.

Esse ano foi tão intenso e tão volátil, cheio de acontecimentos absurdos, profundos e importantes que resolvemos começar a fazer nossa retrospectiva quase um mês antes de o ano terminar.

Sabemos que essa antecipação é arriscada, especialmente em 2020, mas estamos no nosso mercado vive-se disso: gerenciar bem os riscos. Nossa retrospectiva será dividida em partes, e se dezembro trouxer mais alguma surpresa, ela também será contemplada.

Retrospectiva 2020, parte 1: A Circuit Breaker Week

Quando no futuro jornalistas e historiadores falarem sobre o ano de 2020, vão chamá-lo de O Ano da Pandemia. Nós do Stock Pickers (nascido no bull market), que já chamávamos os 100 mil pontos da Bolsa de novo normal, também vamos lembrar desse ano como o ano dos Circuit Breakers.

No fim de fevereiro eu, Salomão, o Lucas Collazo e o Matheus Soares havíamos voltado recentemente de Salvador. Naqueles dias a covid era ainda problema dos gringos, principalmente chineses e italianos.

(Hoje é estranho até lembrar que foi ainda neste ano que saboreamos o que pode ser considerado a quintessência da aglomeração: o Carnaval soteropolitano).

Uma semana depois que o Carnaval acabou, o vírus continuava se espalhando e aumentando o pânico. Mas uma outra notícia, daquelas com a cara de 2020, precipitou o primeiro Circuit Breaker do ano: a briga entre Rússia pelo preço do petróleo.

Na semana anterior ao primeiro Circuit Breaker, a Rússia havia avisado a Arábia Saudita que não faria mais cortes na produção do petróleo. Seu alvo, aparentemente, eram os Estados Unidos, que, no caso de redução da produção da Opep e Rússia, venderiam sozinhos seu shale gas.

Nós ainda não sabíamos, mas 9 de março era o primeiro dia da Circuit Breaker Week. O Ibovespa abriu a cerca de 97 mil pontos, mas o mercado colocou nos preços, naquele dia, não apenas a guerra de preços do petróleo como o fato de que a covid seria um problemão para a economia global.

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Às 10h30, pela primeira vez desde o Joesley Day, em 2017, o Circuit Breaker é acionado. O Ibovespa fecha nos 86 mil pontos, caindo 12,19% no dia. No fim daquela segunda-feira nosso índice já valia 28% a menos do seu recorde, em janeiro.

O acionamento do Circuit Breaker não era novidade para a Bolsa, mas para a maioria dos investidores era. O mecanismo havia sido usado em 1997, 1998, 1999, 2008 e pela última vez até então em 2017.

Aquele ano havia terminado com 618 mil investidores pessoas físicas na B3, pouco mais de um terço dos 1,7 milhão no final de 2019.

Achando que o pior já havia passado, no dia 10 nós resolvemos fazer esse vídeo: Circuit Breaker 2020: as lições aprendidas no pior dia da Bolsa no século. Não sabíamos que o dia 9 foi seria pior dia da Bolsa no século por apenas dois dias.

Em 11 de março a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou que o mundo estava oficialmente em uma pandemia e as negociações foram paralisadas mais uma vez às 15h.

Só não foi pior por que naquele dia mesmo o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que sua impressora de dólares trabalharia como nunca.

O alívio foi momentâneo e começou então uma pandemia de Circuit Breakers, a quem já estávamos chamando de CB. O botão do pânico também foi ligado mais duas vezes no dia 12, uma no dia 16 e outra no dia 18, igualando o ano da crise financeira de 2008, com seis interrupções nas negociações.

Sem correr o risco de uma nova precipitação, acho que agora sim podemos falar em lições daquela semana. A primeira veio logo no primeiro CB: a de que uma crise pode vir de qualquer lugar.

Diferentemente da crise de 2008, a de de 2020 não nasceu no sistema financeiro, mas em um mercado na China, onde as primeiras pessoas teriam sido contaminadas. Portanto, diversificação e caixa não são nunca más ideias.

A segunda veio no último dia: a de que no Brasil tudo pode ser pior. Enquanto as bolsas americanas fechavam caindo cerca de 5%, por aqui acionávamos o CB mais uma vez, com queda de 10,35%.

Além da pandemia, o investidor por aqui também teve que lidar com panelaços. Diversificação geográfica também não é nunca uma má ideia.

Legado

Se houve um legado positivo da Circuit Breaker Week, foi essa incrível camiseta que lançamos com a reserva. Você pode garantir a sua clicando na imagem ou aqui.

Camiseta do Stock Pickers, da Reserva

Renato Santiago

Renato Santiago é jornalista, coordenador de conteúdo e educação do InfoMoney