Álcool em excesso eleva em até 133% o risco de lesões cerebrais, diz estudo da USP

Pesquisa analisou cérebros de 1.781 pessoas e relacionou padrões de consumo de álcool a danos cognitivos e ao acúmulo de proteína ligada ao Alzheimer

Victória Anhesini

Atendente serve chope em bar (José Cruz/Agência Brasil)
Atendente serve chope em bar (José Cruz/Agência Brasil)

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Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) descobriram a partir de quantas doses de álcool começam a aparecer danos cerebrais ligados a déficits cognitivos típicos da demência.

A pesquisa foi publicada na última quarta-feira (9) na revista científica da Academia Americana de Neurologia, a Neurology. Segundo os dados, quem consome oito ou mais doses por semana corre mais riscos de desenvolver lesões.

Uma dose equivale a 14g de álcool, o que na prática seria algo próximo de uma latinha de cerveja de 350 ml, 150 ml de vinho ou 45 ml de alguma bebida destilada.

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Segundo Alberto Fernando Oliveira Justo, um dos autores da pesquisa da USP, o estudo analisou como o álcool afeta o cérebro conforme as pessoas envelhecem.

“Nossa pesquisa mostra que o consumo excessivo de álcool é prejudicial ao cérebro, o que pode levar a problemas de memória e raciocínio”, disse, em nota à imprensa.

Resultados

A análise foi feita a partir do “banco de cérebros” da USP, do Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral da Faculdade de Medicina, que utiliza os órgãos doados para pesquisas. No total, os pesquisadores examinaram as amostras de tecido cerebral de 1.781 pessoas, com a média de idade de 75 anos no momento da morte.

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Os cientistas analisaram amostras de cérebros em busca de lesões, além de medir o peso cerebral e a altura dos participantes. Um dos pontos fundamentais da pesquisa é que os familiares responderam a questionários sobre o histórico de consumo de álcool dessas pessoas. Com essas informações, os pesquisadores dividiram os participantes em quatro grupos, de acordo com o padrão de ingestão alcoólica ao longo da vida:

Outras variáveis, como idade, tabagismo e prática de exercícios físicos, também foram levadas em consideração.

Os pesquisadores perceberam que o terceiro grupo, de bebedores excessivos, tinha uma probabilidade 133% maior de desenvolver lesões vasculares cerebrais em comparação aos que nunca tomaram álcool.

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Já os ex-bebedores excessivos (grupo 4) também mostraram um risco elevado, com uma chance 89% maior, enquanto os moderados (grupo 2) tiveram um aumento de 60%.

A arteriolosclerose hialina, um tipo de lesão que estreita e enrijece os pequenos vasos sanguíneos, compromete o fluxo sanguíneo cerebral e pode levar a danos associados à demência.

As lesões estão associadas a dificuldades de pensamento e memória, sintomas clássicos de demência, que causam a perda da cognição de forma progressiva.

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Os pesquisadores também analisaram o acúmulo da proteína tau, um marcador biológico associado ao Alzheimer, e observaram maior presença nos grupos 3 e 4, com probabilidades aumentadas de 41% e 31%, respectivamente.

“Descobrimos que o consumo excessivo de álcool está diretamente ligado a sinais de lesão no cérebro, e isso pode causar efeitos de longo prazo na saúde cerebral, o que pode impactar a memória e as habilidades cognitivas. Compreender esses efeitos é crucial para a conscientização em saúde pública e para a continuidade da implementação de medidas preventivas para reduzir o consumo excessivo de álcool”, disse Justo.