Adoçantes em refrigerantes diet podem aumentar risco cardíaco, aponta novo estudo

Pesquisa indica que adoçante artificial eleva a insulina, favorece inflamações e contribui para o acúmulo de placas nas artérias

Victória Anhesini

(Reprodução: Imagem de Herbich por Pixabay)
(Reprodução: Imagem de Herbich por Pixabay)

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Os adoçantes artificiais, muito utilizados em refrigerantes diet e sorvetes sem açúcar, são conhecidos por ser uma alternativa para satisfazer o desejo por doces. Porém, uma nova pesquisa encontrou evidências que o aspartame, um dos substitutos do açúcar mais comuns, pode afetar a saúde vascular e aumentar a insulina.

O estudo foi publicado 19 de fevereiro na revista científica Cell Press e indica que o aspartame eleva os níveis de insulina em animais, o que pode contribuir para a aterosclerose (que é o acúmulo de placas de gordura nas artérias).

Os resultados também sugerem que o processo aumenta a inflamação e o risco de ataques cardíacos e derrames ao longo do tempo.

O grupo de estudo foi liderado por Yihai Cao, professor do Instituto Karolinska, na Suécia, especialista em vasos sanguíneos. Ele relata, em comunicado à imprensa, que o tema da pesquisa veio de uma conversa com um estudante.

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“Um dos meus alunos estava tomando uma bebida sem açúcar e eu disse: ‘Por que você não pesquisa isso?’”, disse Cao.

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Outros estudos já haviam associado o consumo de adoçantes artificiais ao aumento de doenças cardiovasculares e diabetes, mas os mecanismos envolvidos ainda não eram bem compreendidos.

Insulina em excesso pode acelerar formação de placas arteriais

Para entender melhor a relação, os cientistas alimentaram camundongos com doses diárias de alimentos contendo 0,15% de aspartame por 12 semanas. Esse período é equivalente ao consumo de cerca de três latas de refrigerante diet por dia em humanos.

Foi possível verificar que o nível de insulina nos animais aumentou, o que impactou na formação de placas de gordura nas artérias dos camundongos, as tornando maiores e mais gordurosas. Além disso, a publicação também afirma que os níveis de inflamação estavam mais elevados.

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“Este não foi um resultado surpreendente, dado que nossas bocas, intestinos e outros tecidos são revestidos com receptores de detecção de doçura que ajudam a guiar a liberação de insulina.”

— Yihai Cao, professor do Instituto Karolinska

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Porém, o aspartame é 200 vezes mais doce que o açúcar, o que pareceu enganar esses receptores, provocando uma liberação excessiva do hormônio.

Por conta disso, a equipe também investigou o papel de um sinal imunológico chamado CX3CL1, que se torna mais ativo sob estímulo da insulina.

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Cao explica que, normalmente, o sangue circula pelas artérias com força e velocidade, fazendo com que a maioria das substâncias seja rapidamente eliminada pelo fluxo sanguíneo, mas isso não acontece com o CX3CL1.

O composto se fixa no revestimento interno dos vasos sanguíneos, onde atua como uma espécie de “isca”, prendendo células do sistema imunológico que passam por ali. Essas células, por sua vez, desenvolvem a inflamação nos vasos sanguíneos.

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Ao remover o CX3CL1 dos camundongos que consumiram aspartame, os cientistas perceberam que as placas de gordura não se formaram nas artérias dos animais.

Isso sugere que essa molécula tem um papel essencial na relação entre o aspartame e os problemas na saúde vascular.

A equipe planeja validar suas descobertas em humanos. O CX3CL1 virou um possível alvo para tratar doenças crônicas além das cardiovasculares, uma vez que a inflamação dos vasos sanguíneos está associada a condições como derrames, artrite e diabetes.

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Em nota à imprensa, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD), que representa a indústria de adoçantes, afirma que o uso do aspartame continua sendo seguro e uma alternativa útil para estratégias de redução do consumo de açúcar.

Confira o posicionamento:

“Recentemente, uma pesquisa conduzida em modelo animal levantou a hipótese de uma possível associação entre o consumo de aspartame e doenças cardiovasculares. A associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres – ABIAD – corrobora com outras associações pelo mundo como a Associação Internacional de Adoçantes (ISA) e esclarece que as evidências científicas disponíveis não sustentam essa relação em humanos. Estudos clínicos controlados, que representam o mais alto padrão de pesquisa em nutrição, demonstram que o aspartame não impacta negativamente nos indicadores de saúde cardiovascular, como controle glicêmico, perfil lipídico, pressão arterial ou outros fatores de risco metabólico.”

“Além disso, a hipótese de que o aspartame poderia contribuir para o desenvolvimento de aterosclerose devido a um suposto impacto na insulina e no metabolismo glicêmico não é corroborada por estudos clínicos. Pesquisas com seres humanos mostram que o aspartame não causa picos na liberação de insulina nem altera o controle glicêmico de forma significativa.”

“Do ponto de vista metodológico, é essencial ressaltar que o modelo animal utilizado no estudo que sugeriu uma possível associação entre aspartame e doenças cardiovasculares apresenta limitações relevantes, pois os animais analisados já possuem predisposição genética para distúrbios metabólicos e cardiovasculares. Os próprios autores do estudo reconhecem que a dieta utilizada nesses experimentos reduz a aplicabilidade dos achados para a população geral.”

“O aspartame continua sendo uma ferramenta útil dentro de uma dieta equilibrada e em estratégias de redução do consumo de açúcar. Seu uso pode contribuir para a saúde pública ao auxiliar na gestão do peso e no controle do diabetes, em linha com as recomendações de organizações de saúde globais.”