Adeus refri zero? Pesquisa aponta maior risco de diabetes por consumo de adoçantes

O estudo aponta aumento de 38% no risco com refrigerantes diet, acima do observado em bebidas com açúcar, mas não há consenso entre especialistas; entenda

Victória Anhesini

(Foto: Ron Lach/Pexels)
(Foto: Ron Lach/Pexels)

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Produtos diet e bebidas com adoçantes artificiais já fazem parte do dia a dia de quem tenta cortar o açúcar. Mas especialistas destacam que a substituição não garante, necessariamente, uma alternativa mais saudável.

Uma pesquisa feita pela Universidade Monash, na Austrália, e publicada em julho de 2025 na revista Diabetes & Metabolism, mostra que uma lata de refrigerante adoçado artificialmente por dia pode aumentar o risco de diabetes tipo 2 em 38%. O risco é ainda maior do que para quem consome bebidas adoçadas com açúcar, como refrigerantes comuns, cujo risco foi identificado em 23%.

Os cientistas acreditam que o aumento está relacionado ao aspartame, já que consegue mudar o metabolismo da glicose. Além disso, o estudo ressalta que os adoçantes artificiais também podem trazer outros tipos de impacto para a saúde.

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“A ingestão elevada de aspartame […] resultou em uma resposta de insulina pós-prandial semelhante à da sacarose. […] A ingestão habitual elevada de sacarina e sucralose perturba o microbioma intestinal, prejudicando a tolerância à glicose em indivíduos saudáveis ao longo de apenas duas semanas”, escreveram os autores do estudo.

Por outro lado, o estudo não é um consenso entre profissionais da área. Em entrevista ao jornal O Globo, Simone van de Sande Lee, diretora do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), disse que ainda não é possível afirmar que adoçantes realmente aumentam o risco de desenvolver qualquer doença. 

Ela destaca que a conclusão do estudo australiano pode ser uma “causalidade reversa”, que acontece quando a relação de causa e efeito entre duas variáveis não é interpretada corretamente.

De acordo com a especialista, o fenômeno pode estar ligado ao fato de que pessoas com maior propensão a doenças metabólicas recorrem aos adoçantes como medida preventiva. Além disso, muitas dessas pessoas tendem a ter uma dieta mais rica em alimentos ultraprocessados em comparação àquelas que consomem menos adoçantes.

Os estudos que sugerem associação entre adoçantes artificiais e doenças metabólicas, segundo Simone, são de natureza observacional. Ela destaca que esse tipo de pesquisa não estabelece causa e efeito, pois está sujeito a diversos fatores de confusão. Apesar dos ajustes estatísticos realizados, tais correções não eliminam completamente esses vieses. Por isso, reforça que investigações observacionais servem para levantar hipóteses, não para definir causalidade.

A especialista também chama atenção para a forma como os produtos diet e adoçados artificialmente são fabricados. De acordo com ela, costumam ser ultraprocessados, o que reforça a importância de priorizar alimentos in natura, de origem vegetal ou animal. No entanto, substituir essas versões por opções com açúcar adicionado também não é a alternativa mais saudável.

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Ela acrescenta que:

O que dizem as organizações

Em 2023, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso) publicaram um posicionamento conjunto sobre a segurança e a finalidade dos adoçantes artificiais. A iniciativa respondeu a um comunicado anterior da Organização Mundial da Saúde (OMS), que desaconselhava o uso desses produtos para controle de peso ou redução do risco de doenças crônicas.

As entidades brasileiras ressaltaram que:

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A Associação Americana de Diabetes, em sua diretriz de 2025, também apoiou o uso de adoçantes como substitutos do açúcar. A recomendação, porém, é que pessoas com pré-diabetes ou diabetes deem preferência à água. Para a entidade, trata-se de uma estratégia válida de redução do consumo de calorias e carboidratos.

A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD) disse ao InfoMoney que diversos estudos clínicos controlados e meta-análises demonstram que os adoçantes de baixa ou nenhuma caloria não afetam os níveis glicêmicos. “Pelo contrário, são ferramentas úteis no controle de peso e no manejo do diabetes”, diz o posicionamento da associação.

Eles ressaltam que uma pesquisa publicada na JAMA Network em 2022, baseada em 17 ensaios clínicos randomizados, concluiu que bebidas com adoçantes têm eficácia comparável à água na redução de peso e na melhora de fatores cardiometabólicos, reforçando seu papel positivo no controle do diabetes tipo 2.

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Sem açúcar

Especialistas explicam que produtos diet não são necessariamente escolhas saudáveis: continuam sendo ultraprocessados, pobres em nutrientes e, muitas vezes, mantêm o paladar condicionado ao sabor doce. O consumo frequente de adoçantes pode afetar a saciedade, aumentar o desejo por alimentos calóricos, alterar a microbiota intestinal e induzir a exageros alimentares.

A alternativa mais recomendada é investir em uma reeducação alimentar, valorizando alimentos in natura, fibras e proteínas. Substituições simples, como iogurte natural com frutas, smoothies, panquecas de banana ou bebidas naturais (água com gás, chá gelado caseiro, kombucha, água aromatizada), ajudam a reduzir a dependência do doce.