Sabesp renasce na Bolsa com falas sobre privatização – mas há otimismo mesmo que isso não aconteça

Capitalização se mostra mais provável, enquanto analistas veem melhora de desempenho como algo certo independentemente dos cenários

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – Após um 2018 sem ânimo na Bolsa, com as ações caindo mais de 5% em um ano de forte alta para o Ibovespa, as ações da Sabesp (SBSP3) praticamente “renasceram” neste início de 2019.

Um dos responsáveis por isso foi o secretário estadual da Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles. Ex-ministro da Fazenda, candidato à presidência em 2018 e um nome bastante conhecido por sua postura pró-mercado, Meirelles fez juz à sua fama e a Sabesp engatou um forte movimento de alta em meio às suas declarações sobre a estatal de saneamento.

Na sexta-feira da semana passada, o secretário estadual afirmou que espera concluir ainda em 2019 a capitalização ou a privatização da Sabesp. A decisão dependeria da transformação ou não em lei da medida provisória 868 que atualiza o Marco Legal do Saneamento Básico, que reformula o setor e prevê a ANA (Agência Nacional de Águas) como reguladora dos serviços. Se aprovada a MP, a Sabesp seria privatizada. 

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O cenário ainda é incerto, mas o mercado comemorou e as ações da Sabesp (SBSP3) saltaram 10% no acumulado dos pregões de sexta e segunda. Em 2019, os papéis saltam 29%, ante 7% do Ibovespa.  

Para os analistas do Credit Suisse, os níveis atuais de preços das ações mostram que o mercado está incluindo a probabilidade de que ocorra a privatização ou a capitalização, aumentando o valor de mercado da Sabesp.

Porém, muitas casas de análise veem espaço para a ação da companhia se valorizar na Bolsa a despeito de haver privatização ou não. 

Caso o estado de São Paulo decida pela capitalização da empresa, é estimada captação de R$ 5 bilhões, do qual R$ 1 bilhão seria investido na empresa e R$ 4 bilhões iriam para o orçamento paulista. Em caso de privatização, haveria um cronograma acelerado para concluir o processo ainda neste ano, que poderia render R$ 10 bilhões. 

 “Não incluímos nenhum destes cenários em nossos modelos, mas reconhecemos que há espaço para valorização se a privatização se materializar”, escrevem os analistas da XP em relatório enviado a clientes. 

O Bradesco BBI, por sua vez, segue com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os ativos, tendo elevado esta semana o preço-alvo dos papéis de R$ 38 para R$ 56 – o que representa um potencial de valorização de 35% em relação ao fechamento da última terça-feira (15). 

Contudo, o preço-alvo para o papel ao fim de 2019 se baseia principalmente em melhorias operacionais previstas para a companhia e que podem ocorrer com ou sem a privatização. Apenas 10% do preço-alvo absorve a possibilidade de  privatização da Sabesp, enquanto 30% estão atrelados à probabilidade da empresa ser mantida como uma estatal, mas com maior eficiência. A maior parte, 60%, leva em consideração a capitalização, que também implicaria em uma melhora da governança corporativa da companhia. 

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A possibilidade de privatização perde força ante a capitalização porque ela depende de aprovação do Congresso, enquanto a segunda opção depende apenas do estado. Contudo, em qualquer uma das alternativas, o cenário aponta para uma melhora do seu desempenho operacional.

O Bradesco BBI conta que a capitalização implica a criação de uma holding por meio da qual o estado de São Paulo manteria o controle da Sabesp, vendendo sua participação remanescente para um parceiro financeiro e estratégico. Para atrair esse parceiro para investir em um ativo sem liquidez, a nova holding, o governo estadual precisa oferecer melhorias de governança corporativa e talvez até dividendos maiores. 

“Ressaltamos que a política de dividendos mínimos permanece inalterada (limite de 25% do lucro líquido). No entanto, acreditamos que essa política pode ser modificada para atrair um parceiro estratégico e otimizar a estrutura de capital da Sabesp”, observam os analistas do Bradesco BBI. 

As estimativas para os resultados da estatal também foram revisadas para cima, de forma a refletir três fatores: i) a menor despesa de folha de pagamentos no longo prazo, ii) o maior volume faturado a partir de 2019 devido à incorporação de Guarulhos através do contrato de prestação de serviços de saneamento e iii) implementação mais eficiente do seu programa de investimentos e controle de custos. 

Sendo assim, com ou sem privatização, a empresa deve adotar medidas que trarão melhorias em seu desempenho operacional com reflexo positivo no preço de suas ações. Porém, para quem investe ou pensa em investir nos ativos da companhia, é sempre bom ficar de olho nos pronunciamentos de Meirelles – eles podem dar novos impulsos para os ativos na bolsa.