Ação da Qualicorp salta 36% com saída da “mente por trás da empresa”: por que tanto ânimo?

 Investidores comemoram a perspectiva de saída do CEO após o acordo controverso em outubro de 2018 que fez a ação despencar e focam nas sinergias que podem ser alcançadas

Lara Rizério

Profissional da área da Saúde

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SÃO PAULO – Em uma sessão de tantos destaques para a bolsa com a reta final de resultados, quem mais chamou a atenção foi uma empresa que não divulgou os seus números referentes ao segundo trimestre de 2019, mas que divulgou um comunicado com um impacto ainda mais explosivo para os seus ativos. 

Trata-se da Qualicorp (QUAL3), que viu suas ações dispararem 36,64%, a R$ 30,06, após a Rede D’or São Luiz anunciar a compra de uma fatia de 10% da administradora de planos de saúde. E um detalhe na operação chama a atenção: a compra será de papéis pertencentes ao fundador e CEO da companhia, José Seripieri Filho, mais conhecido como Júnior.

Tal salto dos ativos remeteU a uma outra sessão marcante para as ações da Qualicorp. Em 1 de outubro de 2018, as ações QUAL3 fecharam em queda de 29,37% justamente após um fato relevante da companhia, com o anúncio de um contrato entre Seripieri Filho de não alienação de ações e não competição nos negócios.  

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A notícia foi especialmente mal recebida pelos investidores naquela sessão por conta das condições do acordo. Para não vender 13,7 milhões de papéis na companhia (correspondente a 32% da sua fatia total na empresa) e não criar uma rival por um período de seis anos, o fundador da Qualicorp receberia R$ 150 milhões da empresa, à vista. 

Gerou-se assim muita insegurança sobre a governança corporativa pelos valores negociados, além do fato de que não havia nenhum rumor de que Seripieri poderia vender as ações (por sinal, uma venda que ocorreu agora, mas sem violar as regras do acordo). A única justificativa plausível para isso na época era sobre a importância que Júnior teria para os rumos da administradora de planos de saúda. Porém, em meio às fortes dúvidas sobre os rumos da empresa após o ocorrido, o nome do CEO passou a ser visto com desconfiança pelos investidores, ao mesmo tempo em que a operação gerou até processos contra a companhia.

Após a controvérsia, Júnior se comprometeu a adquirir pelo menos 150 milhões de ações e o Conselho decidiu que novas operações com partes relacionadas envolvendo a companhia e acionista seriam submetidas a aprovação de assembleia geral de acionistas. Essas medidas foram bem recebidas, mas muitos investidores ainda estão receosos com o papel. 

Assim, menos de um ano depois, a perspectiva de que o CEO sairá da empresa faz com que as ações registrem um desempenho percentual tão forte quanto naquela fatídica sessão de outubro de 2018.  

Até o negócio ser concluído, Seripieri Junior seguirá como presidente e membro do Conselho de Administração da Qualicorp. Após a aprovação do negócio, porém, o executivo deverá deixar a administração e “permanecerá, como acionista indireto, detendo ações representativas de aproximadamente 9,9% do capital da companhia”.

A venda desses papéis, contudo, “não altera as obrigações de non-compete de Seripieri Junior, objeto do acordo celebrado com a Qualicorp em outubro do ano passado”, conforme informou a companhia no fato relevante. 

“A saída do Júnior e a entrada da Rede, que tem excelente execução e reputação, melhora muito a governança da empresa”, afirma um gestor com relevante participação nos ativos da companhia. 

A expectativa de melhora da governança corporativa também foi destacada pelo JPMorgan, que elevou a recomendação para os papéis de neutro para overweight, com o preço-alvo sendo elevado de R$ 24,50 para R$ 35. O banco americano havia reduzido a recomendação dos papéis justamente em outubro do ano passado e, agora, voltou a ter uma recomendação equivalente à compra destacando que a entrada de um parceiro estratégico e a saída de Seripieri tendem a aumentar ainda mais as melhorias de governança já observadas. 

Novos horizontes

Além disso, aponta o JP, embora Júnior tenha sido a mente por trás da criação da Qualicorp e tenha relacionamentos importantes com a indústria, os analistas não veem uma “operação personificada” nesse estágio da empresa. Ou seja, a saída dele não abalaria tanto os rumos dela. 

Na avaliação do Bradesco BBI, o atual CEO poderia contribuir como integrante do Conselho de Administração dada a sua experiência, mas o futuro dele na empresa ainda parece incerto. Segundo o gestor ouvido pelo InfoMoney, ele naturalmente deixará a empresa. 

Alguns analistas ainda veem muitas incertezas referentes à estratégia da companhia após a operação e ainda têm cautela com os papéis. Por outro lado, conforme ressalta o JP, a Rede D’Or é um parceiro estratégico e é liderado por um ex-CEO da Qualicorp, o que pode ajudar e muito nas sinergias. 

“Heráclito Gomes, atual CEO da Rede D’Or, possui ampla experiência no setor, tendo liderado a Qualicorp durante dois anos (2010-2012), tendo também servido no Bradesco Saúde, um dos 5 principais planos de seguro de saúde, como CEO. Assim, potenciais sinergias com a Qualicorp são bem conhecidas pela D’Or”, avalia a equipe de análise do JP. 

Elas poderiam vir da criação de um plano integrado com as iniciativas da QSaúde (plano de saúde da Qualicorp), além de acelerar a introdução dos planos da SulAmérica que alavancam a Rede D’Or como a principal parceira na plataforma da Qualicorp, que atualmente não os vende.

Além disso, a Rede D’or, de acordo com o gestor ouvido pelo InfoMoney, dada a sua influência com operadoras, pode ajudar muito na estratégia de elaborar planos que caibam mais “no bolso” do cliente e, com isso, fazer com que a Qualicorp volte a crescer a sua base de clientes. “Hoje, o principal problema da Qualicorp é a falta de crescimento”, aponta ele. 

Depois de tempos bastante turbulentos, a notícia da última quinta-feira foi vista de forma bastante positiva pelos investidores e analistas uma vez que, além de tirar da frente um grande problema na precificação dos ativos, abre um horizonte para novos produtos. Novos tempos estão por vir para a Qualicorp.  

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.