Youssef diz que Lula ordenou pagamento à empresa ligada à Petrobras; veja falas do doleiro

Doleiro diz que vice-presidente da Câmara recebeu propina de contratos da Petrobras e que se sentia seguro para pagar propinas porque o Planalto sabia do esquema

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O doleiro Alberto Youssef presta depoimento na CPI da Petrobras (PETR3;PETR4) e reiterou algumas revelações sobre o esquema de propina dentro da estatal.

O doleiro confirmou à CPI teor de depoimento feito por ele à Polícia Federal em que afirmou que o ex-presidente Lula mandou fazer um pagamento para a agência Muranno Marketing, que prestava serviços à Petrobras. “Quem me contou isso foi o Paulo Roberto Costa”, disse Youssef, em referência ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras apontado como beneficiário de propinas de empresas contratadas pela Petrobras para o financiamento de partidos políticos.

Youssef disse à CPI que recebeu de Costa a ordem para que procurasse os dirigentes da Muranno e que o dinheiro saiu da parte que cabia ao PT e ao PP.

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“Paulo disse que, na época, foi R$ 6 milhões e pouco e que isso o PT teria que operacionalizar metade. A outra seria do PP. Em determinado momento, Julio Camargo (representante da empresa Toyo) me fez esse repasse de R$ 3 milhões para o PT”, disse.

Ele ainda disse que se sentia seguro ao fazer as operações financeiras da propina paga pelas empresas contratadas pela estatal por acreditar que “o Palácio do Planalto” sabia do esquema.

A afirmação foi feita ao responder pergunta do deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA). “O senhor tem certeza de que o Planalto sabia?”, perguntou o parlamentar. “O [ex-diretor] Paulo Roberto Costa sempre dizia, quando havia alguma divergência no partido sobre pagamentos, que tinha que ter o aval do Palácio do Planalto”, respondeu Youssef.

Imbassahy perguntou então se Youssef se sentia mais seguro por causa disso. “Sim. A partir do momento em que Paulo Roberto Costa disse pra mim que Paulo Bernardo [ex-ministro do Planejamento e das Comunicações] foi pedir dinheiro a ele para a campanha da [senadora] Gleisi Hoffmann de 2010, na minha opinião, o Palácio sabia”, disse.

Youssef disse que está disposto a se submeter a uma acareação com qualquer um dos acusados da Operação Lava Jato. Ele disse isso ao responder pergunta do deputado Aluisio Mendes (PSDC-MA), que apontou contradições entre afirmações feitas por ele e outros acusados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público na Lava Jato, como Fernando Soares e Nestor Cerveró, que negam ser operadores do PMDB na diretoria da Petrobras. “Em relação ao envolvimento do PMDB, eu sei o que o Paulo Roberto Costa me contava”, disse o doleiro.

O doleiro disse ainda os nomes de vários políticos que, segundo ele, receberam recursos do esquema de financiamento de campanha originado de propinas pagas por empresas contratadas pela Petrobras.

A maior parte dos políticos que ele afirma ter financiado, direta ou indiretamente, pertence ao PP – partido para o qual Youssef confessou ter operado.

Youssef disse que não tratou pessoalmente com a maioria dos políticos, mesmo aqueles que ele financiou. Em resposta ao deputado Júlio Delgado (PSB-MG), o doleiro disse que, na maior parte das vezes, os nomes e valores destinados aos beneficiários eram repassados a ele pelos líderes do PP: Nelson Meurer, Mário Negromonte e João Pizzolatti.

Ele diferenciou os políticos que conhecia dos que não conhecia. Ele disse ter financiando algumas pessoas que não conhecia e não ter feito o mesmo para algumas que conhecia, já que foi apresentado a muitos políticos na casa do ex-líder do PP João Pizzolatti, em Brasília.

Youssef admitiu que algum político pode ter recebido recursos destinados por ele ao partido.

Ele disse, por exemplo, que não conhece o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Mas afirmou ter feito pagamento destinado a ele, por intermédio do empresário Fernando Soares, e atribuiu a informação ao empresário Júlio Camargo. De acordo com Camargo, o dinheiro foi pago para que a Câmara não questionasse o contrato da Toyo com a Petrobras para o aluguel de sondas. O parlamentar nega as acusações.

Ele disse o mesmo da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). “Não conheço pessoalmente, mas fiz repasses”, disse.

Além dos líderes do PP, os políticos que ele afirma ter ajudado com recursos, direta ou indiretamente, foram os seguintes: Aguinaldo Ribeiro, Ciro Nogueira, Dilceu Sperafico, Eduardo da Fonte, José Otávio Germano, Lázaro Botelho, Luis Carlos Heinze, Luiz Fernando Farias, Renato Molling, Roberto Brito, Roberto Balestra, Waldir Maranhão, José Mentor, Lindberg Farias, Fernando Collor, Fernando Bezerra, Aline Corrêa, João Leão, Pedro Corrêa, Pedro Henry, Cândido Vaccarezza e Luiz Argôlo.

Repasse de R$ 400 mil à cunhada de Vaccari
O doleiro confirmou que entregou R$ 400 mil a Marice Corrêa de Lima, cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Esse dinheiro, segundo ele, foi pago por ele a pedido da empresa Toshiba. Ele disse, porém, que nunca conversou com Vaccari a respeito disso.

Youssef disse ter sido contratado pela Toshiba para efetuar o pagamento e que esse pagamento foi dividido em duas ocasiões. Na primeira, Youssef pessoalmente entregou o dinheiro à cunhada de Vaccari, no escritório do doleiro, em São Paulo.

A segundo parte, em espécie, teria sido entregue no diretório do PT em São Paulo por um funcionário do doleiro, Rafael Ângulo, e um diretor da Toshiba, chamado Piva.

Segundo Youssef, o dinheiro destinado ao PT somou cerca de R$ 800 mil de um total de R$ 1,4 milhão. A maior parte foi destinada ao PT e o restante para o PP.

A ida de Marice, a cunhada de Vaccari, ao escritório dele, teria sido intermediada por Piva. “Ele me pediu para marcar dia e hora para ela ir lá e que ela iria entrar pela garagem. E assim foi feito”, disse Youssef.

O doleiro negou, porém, informação dada por Paulo Roberto Costa de que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci teria pedido R$ 2 milhões, “da conta do PP”, para a campanha de Dilma Rousseff em 2010. “Não conheço Palocci e nunca tive contato com nenhum assessor dele. Se alguém operacionalizou esse pagamento, não fui eu”, disse.

R$ 200 milhões
O doleiro disse à CPI que movimentou algo entre R$ 180 e 200 milhões no esquema de lavagem de dinheiro proveniente de propina paga por empresas contratadas pela Petrobras.

Youssef disse à CPI que operava preferencialmente para o PP, mas chegou a participar de operações para o PT, o PMDB e o PSB. Ele disse também que houve pagamento da empreiteira Queiroz Galvão para o PSDB, como maneira de abafar uma CPI para investigar o caso. 

Durante quase quatro horas de depoimento à CPI da Petrobras, Youssef pediu desculpas à família por causa de seu envolvimento com desvios na Petrobras, “À sociedade brasileira também”, disse.  O doleiro disse que está disposto a colaborar e que reafirmou está falando a verdade.

(Com Agência Câmara)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.