Uma década de extremos: emergentes e desconfiança são legado dos anos 2000

Relembre os acontecimentos de uma "década perdida" que começou com a crise pontocom e termina com a do subprime

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SÃO PAULO – Paridos sob o temor do Bug do Milênio e batizados pelo furor terrorista em 11 de setembro de 2001, os anos “00” deixam um legado de desconfiança e mudanças no cenário econômico global.

A década foi de extremos, com a volatilidade como marca dos mercados de ações nos países desenvolvidos, e recortada pelo estouro de duas bolhas – uma no começo e outra no final da década.

Embora os mercados emergentes também tenham sofrido com a volatilidade (até mais acentuada nos momentos de crise), a trajetória marcada ao final da década foi pontuada por seguidos recordes, embalados pelas commodities em alta e a percepção de outro fenômeno – ainda controverso, mas marcante: o descolamento.

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O grande zero – Uma década perdida?

Os dias que abalaram o mundo

Hermanos em crise

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Risco Brasil: a eleição de 2002

Emergentes: o descolamento

Bull Market das commodities

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Remédio contra a depressão

O grande zero – Uma década perdida?

Roubado de uma coluna do economista Paul Krugman – agraciado com o Nobel em 2008 -, o título pode representar vários aspectos da década que passou. “Foi uma década na qual nada de bom aconteceu e nenhum dos pensamentos otimistas nos quais depositamos nossa fé se revelou verdadeiro”, disse o ácido colunista do New York Times.

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Passado o susto com o Bug do Milênio, quando se temeu que a virada de 1999 para 2000 causasse uma pane global nos computadores, a rota nos mercados financeiros parecia traçada em direção aos ganhos, especialmente com o surgimento da “nova economia”.

Este nome definia uma nova era, em que as empresas baseadas em tecnologia e internet estariam desvinculadas dos ciclos de contração e expansão econômicos. Ao mesmo tempo, best sellers como o “Dow 36.000” ou “Dow 40.000” eram os guias da nova geração de investidores, prenunciando um longo bull market para as ações.

Desmoronamento
Contudo, o encanto foi quebrado em pouco tempo. Se os 10 mil pontos do Dow Jones, atingidos em 1999, voltaram a ser repetidos apenas em 2009, o Nasdaq Composite ainda passa longe dos seus dias de glória, antes do estouro da bolha das “pontocom”.

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Após o pico de 5048 pontos (10/03/2000), a percepção de que os ativos do setor custavam muito mais do que seus fundamentos derrubou o índice para os 1720 pontos em pouco mais de um ano.

Ao final da década, a decepção é atestada pela lista das 25 maiores empresas globais do Wall Street Journal, em que o valor total de mercado das empresas listadas é 20% menor neste ano do que fora em 1999, com apenas oito companhias repetindo a presença.

Os dias que abalaram o mundo
Não bastassem os abalos provocados pelo estouro da bolha das pontocom, os EUA sofreram mais dois choques, que levariam definitivamente o país para a recessão em 2001 – os escândalos contábeis e os atentados terroristas de 11 de setembro.

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Contando com a negligência de reguladores e a conivência de auditores, as gigantes WorldCom e Enron maquiaram seus balanços para esconder perdas e dívidas, descobertas no decorrer de 2001 e 2002, prejudicando milhares de acionistas e funcionários, além de terem causado danos severos à confiança dos investidores no mercado de ações dos EUA.

Marco zero
Todavia, nada causou tanto impacto quanto os atentados ao World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington. O terror transmitido ao mundo todo em tempo real trouxe o pânico, levando não somente à suspensão dos negócios, como ao fechamento da NYSE por quatro dias.

No Brasil, o circuit breaker foi acionado e a bolsa paulista interrompeu suas atividades mais cedo, levando o Ibovespa a acumular perda de 9,18%. Na semana seguinte ao atentado – entre 17 e 21 de setembro – o Dow Jones perdeu mais de 14%.

Hermanos em crise
Em tempos de desconfiança generalizada e recessão na principal economia global, a aversão ao risco sofreu nova escalada. Ao mesmo tempo em que o mundo era sacudido pelos eventos nos EUA, o Brasil sofria os reflexos da crise argentina.

No final do ano 2000, em meio a graves desequilíbrios fiscais e nas contas externas, a Argentina recebeu um pacote de ajuda de US$ 40 bilhões do FMI (Fundo Monetário Internacional). Isto não evitou que o modelo de paridade cambial entre peso e dólar entrasse em crise, disparando convulsão social e uma corrida bancária.

As severas consequências políticas culminaram, em 2001, com a renúncia de Fernando de la Rúa da presidência do país, o anúncio da maior moratória da história – US$ 132 bilhões -, instabilidade financeira na região e com a instalacão de um severo quadro recessivo.

Risco Brasil: a eleição de 2002
O ano de 2002 ficará marcado na história financeira do Brasil pelos efeitos negativos da campanha eleitoral, nos tempos em que o Ibovespa ainda lutava contra a “barreira” dos 10 mil pontos. Então um grande oposicionista dos governos de direita e temido pelo mercado, Luiz Inácio Lula da Silva liderava as pesquisas com folga.

Flertando com posições mais conservadoras, Lula buscou aos poucos mudar sua imagem e ganhar a confiança dos investidores, chegando à vitória no segundo turno contra José Serra, o candidato governista, no mês de outubro.

O caminho, contudo, foi difícil para o País. O índice de referência do mercado de ações brasileiro despencou, atingindo sua mínima no ano em 8224 pontos, o dólar chegou à beira dos R$ 4,00 e o risco Brasil (Embi+) disparou até 2515 pontos.

Entre 2001 e 2002, o País também viveu a crise no fornecimento de energia elétrica conhecida como “apagão”, abalando a confiança dos investidores sobre a infra-estrutura brasileira. Já no ano de 2006, navegando em um ciclo econômico positivo e sem causar sobressaltos no mercado, Lula foi reeleito presidente.

Emergentes: o descolamento
Se falar do crescimento chinês é um lugar comum, os anos “00” foram marcados pela mudança no equilíbrio de poder econômico global, acentuado com a crise financeira no final da década. 

Com o passar dos anos, a sigla BRIC, criada pelo analista Jim O’Neill, deixaria de ser um simples resultado de projeções para o surgimento de uma agenda comum entre os países que a compõe – Brasil, Rússia, Índia e China, à qual por vezes se juntam outros como México, África do Sul e Coréia do Sul. 

Foto: Líderes de Índia, Rússia, China e Brasil (BRIC) ao se cumprimentar

O despertar dos emergentes está atrelado a um ciclo de expansão industrial e urbana, relacionada à importante acumulação de divisas, posicionando estes países na liderança do crescimento global e na dianteira como principais potências econômicas globais nas próximas décadas. 

A interpretação de que o ciclo de crescimento está mais relacionado a fatores intrínsecos, como a expansão da renda e do consumo domésticos, além do desempenho relativamente superior dos mercados de ações emergentes ao longo da década, levou à tese do descolamento, ainda controversa, destes países de seus pares desenvolvidos.

Fato é que a fragilização das economias centrais, como EUA e Reino Unido, com a crise financeira do final da década, abre espaço para a ascensão dos emergentes. E é inegável a maior importância que fóruns globais como o G-20 possuem, em detrimento de antigos clubes de países, como o G-8.

Bull Market das commodities
Outro indício frequentemente apontado é o efeito do crescimento dos países em desenvolvimento sobre os preços de matérias primas. Se a década tivesse acabado em meados de 2008, seria possível dizer que a história das commodities marcaria um dos mais impressionantes Bull Markets já registrados.

Como revela o índice Thomson Reuters/Jefferies CRB, composto por uma cesta ponderada dos 19 principais produtos básicos, entre a mínima de 2002 e a máxima de 2008, houve uma expansão de praticamente 70%. Mesmo após a forte correção disparada pela crise, o índice já aponta recuperação para os patamares de 2005.

Entre as commodities, um dos desempenhos mais destacados foi o do petróleo, cujo barril chegou à incrível marca de US$ 145,29 no mercado de Nova York, levando a projeções de que seu preço poderia chegar a US$ 200. Atualmente, o barril é negociado próximo aos US$ 80.

Remédio contra a depressão
Subprime e crise sistêmica são apenas algumas das expressões às quais nos acostumamos neste fim de década. Para muitos, o pesadelo disparado com a quebra do Lehman Brothers em setembro de 2008 foi a prova definitiva da incompetência do livre-mercado, enquanto que para outros, apenas mostrou os exageros que governos são capazes de cometer.

“O colapso de uma explosão do crédito global, disparado pelo fim dos ‘booms’ imobiliários nos EUA e em outros países, com os problemas associados às hipotecas, levou à deterioração dos ativos e das condições de crédito, com efeitos colaterais pesados sobre os negócios e a confiança do consumidor”, resumiu Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, em março de 2009.

Donas de portfólios repletos de complexos derivativos relacionados a hipotecas e outras formas de crédito de risco elevado, as instituições financeiras viram suas bases de ativos sucumbirem, gerando insegurança no mercado como um todo. O crédito interbancário secou, congelando o mercado global.

Resposta estatal
A severidade da crise fez com que muitos a comparassem com a Grande Depressão da década de 1930. No entanto, prontamente foram adotados pesados estímulos fiscais e monetários, sobretudo pelas autoridades e governos dos EUA e da Europa, canalizados para o descongelamento do crédito e o fortalecimento do sistema bancário.

Gigantes foram ao chão, salvos pela mão do Estado. Em meados de 2009, o clima de insegurança diminuíra, os mercados de ações davam sinais de retomada e algumas economias – especialmente as emergentes – já apontavam para a reversão da recessão global.

No Brasil, o Banco Central cortou a taxa Selic para seu nível mínimo histórico – 8,75% ao ano –, enquanto que o Governo adotou diversas medidas de estímulo fiscal, como a intensificação dos programas de transferência de renda e desoneração tributária de importantes setores da indústria, como o de automóveis. Ademais, intensificou a concessão de crédito público.

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