Um ano de governo Lula: rígida política monetária conseguiu conter inflação

Inflação encerrará este ano com apenas um dígito, sinalizando eficácia da política monetária no controle dos preços

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Passados quase doze meses de governo Lula, o mercado já começa a fazer o balanço do que foi feito nas mais variadas áreas. Se por um lado, o Planalto conseguiu avanços expressivos em determinados segmentos, como controle dos preços, cumprimento das metas fiscais e ajuste do setor externo, em outros aspectos, como políticas de combate ao desemprego e promoção do crescimento econômico, o governo ainda deixou muito a desejar.

Neste primeiro artigo do que podemos chamar de “série retrospectiva 2003”, trataremos da política monetária desenvolvida pela equipe econômica, destacando os principais pontos e as conseqüências das medidas adotadas para toda a economia brasileira. Outros pontos, como política fiscal, desemprego, crescimento econômico, setor externo e políticas sociais, serão tratados em novos artigos, divulgados ao longo dos próximos dias.

Inflação de dois dígitos: o problema inicial

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva começou com um grande desafio: controlar uma inflação que ultrapassava os dois dígitos. Para se ter uma idéia, a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor – Amplo) foi de 12,53% no ano passado, enquanto o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) apresentou variação positiva de 25,3% em igual período.

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A forte alta dos preços registrada na ocasião foi reflexo direto da expressiva queda do real frente ao dólar no período, em função das incertezas provocadas pelo processo eleitoral. Assim, a demanda por hedge cresceu de maneira considerável em 2002, impulsionando a cotação do dólar, que acumulou forte alta de 53,3% no período e ditou uma maior alta dos preços internos.

Mesmo após a definição do cenário eleitoral e os sinais de austeridade dados pela equipe de Lula no período de transição, a inflação continuou elevada, com os preços passando a ser reajustados em função da inflação passada e não das perspectivas futuras, o que ocasiona a chamada inércia inflacionária. Dessa maneira, estava aí o primeiro desafio de Lula: controlar o avanço da inflação.

Equipe econômica inicia “arrocho” monetário

Para tal, a solução encontrada pela equipe econômica foi a convencional: aumentar os juros, de forma a conter o avanço dos preços. Vale destacar que o aumento dos juros foi feito muito mais no sentido de sinalizar ao mercado uma maior austeridade monetária do que propriamente pressionar a demanda, já que esta se encontrava em um patamar bastante baixo.

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Dessa maneira, o governo procurou mostrar aos investidores que a condução da política monetária seria feita de forma séria, atraindo, assim, maior fluxo de recursos estrangeiros e retirando, com este artifício, todo o impulso cambial dado à formação de preços, como vinha ocorrendo até então.

Assim, logo na primeira reunião do ano do Copom (Comitê de Política Monetária), com o Banco Central sob a presidência do então recém-empossado Henrique Meirelles, foi anunciado o aumento da taxa básica de juro da economia, que passou de 25% ao ano para 25,5% ao ano. Em fevereiro, a Selic foi novamente elevada para 26,5% ao ano, patamar que foi mantido até junho deste ano.

O recuo da inflação e o afrouxamento da política monetária

Com a política de rigidez monetária adotada pelo Copom, os preços passaram a registrar trajetória de menor alta a partir de abril, indicando até mesmo deflação entre os meses de maio e junho. Para se ter uma idéia, o IGP-M apurou deflação de 0,26% em maio, registrando uma variação negativa de 1,0% em junho e de 0,42% em julho.

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O IPCA, por sua vez, que tende a sentir os efeitos da queda do dólar após o IGP-M, por contemplar, basicamente, os preços no varejo, registrou deflação de 0,15% em junho, registrando elevação nos demais meses por conta de pressões exercidas pelas tarifas públicas. Ainda assim, a inflação medida pelos preços livres continuou mostrando um baixo patamar, sinalizando a eficácia da política de juros altos adotada pelo governo.

Com o recuo inflacionário, o Copom já tinha espaço para novos cortes da Selic, de forma que em junho foi anunciada a primeira redução, com a taxa básica de juro da economia brasileira passando de 26,5% para 26% ao ano. A partir daí, o que se viu foram quedas contínuas da Selic, de forma que a taxa básica de juro da economia brasileira encerrou 2003 a 16,5% ao ano.

Inflação encerrará 2003 com um dígito

Dessa maneira, a política monetária desenvolvida pela equipe econômica de Lula mostrou-se frutífera em seu objetivo de combater a inflação. Prova disso é que os principais índices de preços mostrarão elevação de apenas um dígito no acumulado do ano. Para o IPCA, por exemplo, o relatório Focus, do Banco Central, projeta uma variação positiva de 9,17% no ano, acima, contudo, da meta do governo, que era de uma inflação de 8,5% no ano segundo este índice.

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Para o IGP-M, por sua vez, a diferença em relação ao desempenho do ano passado é ainda mais expressiva, visto que o índice deverá acumular alta de 8,57% neste ano, segundo as perspectivas do Focus. Percebe-se assim que a manutenção de elevados patamares de juros, pelo menos no que se refere ao controle inflacionário, mostrou-se acertada, de forma que para os próximos meses a perspectiva é de que os preços continuem sob controle.

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