UBS aposta no que vai, não vai e pode acontecer nos mercados em 2011

Para o banco, crise fiscal se aprofundará e emergentes podem tropeçar, mas commodities não vão entrar em colapso

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – O final de ano sempre traz consigo listas para o próximo ano, com metas, objetivos ou projeções. No caso do UBS, o estrategista-chefe do banco, Michael Ryan, assina uma lista com as apostas do banco para 2011, intitulada “Vai… pode…não vai?”

O banco fez uma lista semelhante em 2010, com um resultado “razoavelmente sólido”, apesar de alguns erros em determinados assuntos. Veja abaixo as principais apostas do UBS para o que vai, não vai e pode acontecer em 2011.

O que vai acontecer
A primeira aposta do UBS para o que vai acontecer em 2011 envolve os mercados de renda variável. Segundo o banco, as ações devem oferecer retornos acima da média no ano, apoiadas em crescimento sólido dos lucros, níveis de valuation razoáveis e um cenário de política monetária favorável. Entretanto, os ganhos não devem ser espetaculares, depois do bom desempenho visto em 2010.

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Ainda no campo corporativo, o UBS espera que as empresas deixem a cautela um pouco de lado e não segurem mais tantos ativos em caixa ao invés de investi-los – o que pode significar investimentos nos negócios, aquisições, aumento de dividendos ou programas de recompra de ações.

Apesar do banco se dizer otimista com o cenário para o próximo ano, estas são as únicas das projeções positivas do que vai acontecer. As três questões políticas que completam a lista têm o potencial de trazer efeitos negativos ao mercado.

A crise fiscal é uma dessas questões. Segundo o banco, “ainda há mais decepção pela frente” nesse front. A atenção, lembra o estrategista Michael Ryan, já se desvia da Irlanda e Grécia para Portugal e Espanha. “Com a relativa importância da Espanha na Zona do Euro e a relutância da Alemanha em conceder mais ajuda, a crise vai mudar de dúvidas sobre liquidez para temores de insolvência”, explica.

O cenário não deve estar mais tranquilo nas demais regiões do mundo, de acordo com o UBS. A aposta do banco é que as ameaças geopolíticas se intensifiquem tanto na Ásia, com o confronto entre as Coreias, quanto no Oriente Médio, devido ao programa nuclear iraniano. Ademais, Ryan lembra que 2011 marca o 10º aniversário do 11 de setembro, podendo indicar mais riscos aos EUA nesse sentido.

Ainda em relação à maior economia do mundo, o estrategista afirma que o Congresso norte-americano se deteriorará até entrar em um tipo de pane, incapaz de funcionar atrapalhado pela briga entre os dois partidos dos EUA. “Mesmo com democratas e republicanos tendo prometido cooperar para achar um terreno comum, a possibilidade de que haja progresso significativo em diversas questões é mínima”, diz Ryan.

No caso da economia, o estrategista destaca que uma aprovação de medidas protecionistas por parte do Congresso, por exemplo, poderia ameaçar o crescimento global.

O que não vai acontecer
Os EUA também são alvo de três das cinco projeções do banco para o que não vai acontecer em 2011. “O mercado imobiliário não vai se recuperar”, dispara o UBS. De acordo com o banco, os estoques de casas não vendidas e o alto nível de execução de hipotecas são alguns dos fatores que vão impedir essa recuperação tão cedo. Entretanto, o banco também é claro ao destacar que a falta de vigor no mercado imobiliário não vai dar origem a outra recessão.

O estrategista também não vê progressos significativos na redução do déficit norte-americano – isso porque o Congresso tem uma divisão ideológica muito clara, mesmo com as promessas de republicanos e democratas de progresso.

Passando ao front corporativo, o UBS afirma que os múltiplos P/L (Preço/Lucro) não vão exceder suas médias históricas, apesar de um cenário favorável trazido por inflação em baixa, políticas acomodativas e projeções de crescimento levemente melhores. O principal motivo para isso é a incerteza que rodeia o final das políticas de estímulo.

Apesar do viés negativo das primeiras apostas, também há espaço para otimismo: ao contrário de parte do mercado, o UBS não espera que os preços das commodities entrem em colapso. “Alguns tipos de metais industriais e bens agrícolas estão um pouco caros no curto prazo, não esperamos uma queda generalizada nos preços de commodities”, afirma o banco.

Além disso, o estrategista não vê a inflação como um problema generalizado. “[Nos EUA] as expectativas de inflação avançaram, mas seguem baixas. Além disso, com a economia crescendo lentamente e com a taxa de desemprego provavelmente sem quedas significativas no curto prazo, as pressões de preços devem ser poucas”, diz.

Aqui, contudo, cabe uma ressalva do banco: apesar do cenário mais ameno nos EUA em termos inflacionários, em outras partes do mundo, como a China, a inflação será sim um ponto de atenção.

O que pode acontecer
Também há um meio termo entre as duas listas, o que o UBS denomina “coisas que podem acontecer”. Assim como as duas primeiras, também são cinco projeções. Segundo o UBS, é possível que tanto a economia quanto lucros corporativos surpreendam positivamente os analistas, em meio a um aumento de confiança do consumidor e das empresas e contínuos cortes de custos corporativos e bons dados de produtividade no terceiro trimestre.

Por outro lado, também há coisas que podem surpreender pelo lado negativo. Uma delas é que um possível aumento do protecionismo leve a uma guerra comercial. “Para 2010, afirmamos que uma guerra comercial não ia acontecer porque não era do interesse de ninguém”, lembra o UBS. Entretanto, entre a negativa da China em permitir a valorização de sua moeda e o Fed despejando dólares no mercado, o banco diz que os temores de que medidas de desvalorização cambial possam desencadear uma guerra comercial mais ampla não podem ser descartados.

Além disso, segundo o banco, os mercados emergentes, apesar de terem boas projeções, podem tropeçar durante o ano. Isso porque, mesmo com um crescimento que deve ser sólido, questões como pressão inflacionária, protecionismo, aperto monetário e mudanças de economias exportadoras para investidoras em infraestrutura podem estar pela frente.

“Lembrem-se de que os emergentes não são mais negociados com um grande desconto em relação aos países desenvolvidos. Então, caso fatores de risco surjam ou se os investidores decidirem realizar lucros, os emergentes podem temporariamente ter uma performance abaixo da média”, aponta Ryan.

As duas últimas se referem ao mercado norte-americano. De acordo com o UBS, é possível que um município do país dê um calote em suas dívidas, pressionado por condições de crédito ruins e ainda por efeitos da crise. Dois exemplos possíveis dados pelo banco são Detroit e Harrisburg.

Por fim, o UBS afirma que é possível que a volatilidade do mercado de bonds aumente em 2011, afetada pela falta de projeções de alta da Fed Funds Rate e pelo dinheiro despejado na economia dos EUA. “As taxas dos bonds dispararam depois das compras iniciais de Treasuries pelo Fed, com as expectativas de inflação avançando. Novas altas nessas expectativas, ou uma relutância de investidores estrangeiros em comprar dívida norte-americana podem levar a volatilidade nesse mercado”, completa o banco.

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