“Tudo deu errado” no Brasil, e agora? Para consultoria, há um ou dois sinais de esperança

Vulnerabilidades econômicas do Brasil estão sendo destacadas nos últimos tempos e Capital Economics avalia: mercado deveria ter olhado para 2011

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Dólar em disparada, juros futuros disparando, Ibovespa em baixa e projeções do PIB (Produto Interno Bruto) para dois anos de recessão: o cenário para os ativos e para a economia brasileira está longe de ser o dos melhores.

Com a vulnerabilidade econômica do Brasil sendo trazida à tona nas últimas semanas, a consultoria Capital Economics fez um relatório buscando explicar “onde tudo deu errado para o Brasil”. Eles apontam alguns fatores principais, mas destacam que, embora no curto prazo a perspectiva seja muito triste, há um ou dois sinais de esperança no horizonte. 

Revisitando o cenário, o economista para mercados emergentes Neil Shearing destaca que o estopim para a desaceleração e queda da economia brasileira se deu por conta da baixa dos preços de commodities, mas as raízes do baixo crescimento já remontam as políticas de flexibilização e aumento de gastos nos últimos anos. 

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O economista avalia que um dos sinais de que o Brasil estava com problemas era de que, apesar da alta do preço das commodities e a valorização dos termos de troca, o saldo da conta corrente se deteriorou de forma significativa entre 2007 e 2011, em parte por conta da valorização da moeda brasileira. 

Além disso, os dados oficiais subestimar substancialmente o grau do suporte fiscal entre a economia entre 2010 e 2013. Para começar, diversos truques de contabilidade inflaram os resultados do superávit primário. Além disso, bancos foram usados como arma e empreenderam uma enorme expansão de crédito. O crédito total para o setor privado, saltando de 40% para 80% do PIB.

“O resultado líquido disto foi que economia do Brasil se tornou uma bomba-relógio. O consumo explodiu em meio à política frouxa e aumento da receita com as commodities, mas os produtores domésticos foram pressionados pela alta do real”. Com isso, a atenção foi desviada dos problemas brasileiros, notadamente a baixa poupança e o baixo investimento, ressalta o economista, lembrando que o Brasil sofreu um dos piores índices do crescimento da produtividade do mundo emergente.

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Então, o que vem depois? Shearing aponta que há poucas dúvidas de que as perspectivas são desoladoras. À medida que a economia se ajusta, os gastos domésticos continuam sob pressão. O consumo das famílias e o investimento empresarial irão contrair este ano e provavelmente no próximo e, mesmo com dólar em alta, o câmbio não conseguirá mais compensar os efeitos da crise de demanda doméstica. 

Entre o balanço de riscos, há quatro que merecem especial atenção: i) o cenário de desaceleração econômica chinesa, ii) a possibilidade da presidente Dilma Rousseff sofrer o impeachment, iii) a crise fiscal e iv) a dívida privada. 

Para a Capital Economics, os maiores riscos decorrem do escancarado déficit orçamentário do Brasil e as vulnerabilidades criadas pela rápida expansão da dívida privada ao longo da última década. “Até agora, a bolha de crédito privado do Brasil parece estar se esvaziando, sem muitos problemas para o setor bancário. Mas há um risco de que a recessão econômica desencadeie uma inadimplência mais alta. Se o cenário pior acontecer, um segundo ano de recessão pode se seguir em 2016.

i) China: para a consultoria, este é o risco maior para as perspectivas brasileiras, com a desaceleração chinesa devendo gerar um impacto direto na economia via queda nas receitas com exportações de commodities e impacto indireto via menor apetite ao risco dos investidores internacionais para o Brasil. Por outro lado, o economista ressalta que, apesar dos dados alarmantes nas últimas semanas, os dados mostraram que as condições da economia chinesa se estabilizaram. Além disso, o governo do país tem instrumentos para agir. A probabilidade de um risco-China muito forte é baixa e o impacto disso seria alvo, avalia a consultoria. 

ii) Impeachment de Dilma: a Capital Economics ressalta que o aprofundamento do escândalo de corrupção na Petrobras aumentou a percepção de que Dilma pode sofrer impeachment. Porém, enquanto ela era presidente do Conselho da Petrobras quando parte da corrupção alegada ocorreu, os investigadores ainda não veem uma relação direta com a atual comandante do País e é improvável que o processo a leve a sair do poder. As contas de 2014 também podem causar problemas para ela; porém, eles ainda avaliam a chance como baixa e, mesmo que aconteça, não há clareza sobre o quão danoso isso seria. “A maior ameaça, a nosso ver, segue no impasse do governo com o Congresso, o que resultou em uma paralisia política”. A probabilidade deste evento é baixa e o impacto, caso esse evento ocorra, é entre baixo e médio. 

iii) Crise fiscal: as finanças públicas são definidas pela consultoria como uma “bagunça” e o impasse político ajuda a piorá-las. Por outro lado, um ponto de maior tranquilidade é que a esmagadora maioria da dívida do governo é denominada em moeda local, o que torna o default improvável. Assim, o risco maior não é de defaults, mas de perda da confiança no mercado de títulos. Essa situação pode piorar ainda mais se o ministro da Fazenda Joaquim Levy “jogar a toalha” e deixar o cargo. Isso levaria a alta de juros da dívida pública e aprofundar a recessão. “Em certa medida, isso já começou a acontecer, mas ainda há margem para acontecimentos ainda mais negativos”. A probabilidade do evento é média e o impacto caso isso ocorra é médio/alto. 

iv) Crise da dívida privada: por fim, a consultoria destaca os riscos em meio à alta expansão da dívida privada. Essa bolha parece ter desinflado gradualmente, ao invés de estourar abruptamente, assim como é o caso da bolha imobiliária. Porém, os riscos podem aumentar se a inadimplência também subisse fortemente, especialmente se acompanhada pela queda dos preços dos ativos. “Em nossa opinião, esta é variável-chave para se atentar nos próximos meses”, avalia o economista. A probabilidade do evento é média e o impacto caso isso ocorra é alto. 

Há esperanças pela frente? Conforme destaca Shearing, esta situação já foi enfrentada pelo Brasil algumas vezes antes. O crescimento econômico global saltou durante o boom de commodities na década de 1970, enquanto em 1980 a situação se reverteu. Agora, a História parece estar se repetindo.

Shearing ressalta que, contrariamente à visão prevalecente atual, o real mais fraco deve fazer parte da solução ao invés de ser um problema para o Brasil. Ele destaca que um sell-off desordenado seria uma preocupação, mas o Brasil está mais protegido de oscilações cambiais do que no passado e o real mais fraco pode ajudar a reavivar o setor exportador e fechar o déficit em conta corrente. Depois de vários anos difíceis, uma moeda mais fraca ajudará a estabilizar o País, ainda que não de forma espetacular.

“Do ponto de vista dos investidores, suspeitamos que a época em que se deveria ter prestado atenção no Brasil era 2011 – não hoje”, avalia o economista, destacando que já naquela época via o País com um crescimento insustentável. “A nossa sinalização é de que o Brasil evitará o Armagedon que muitos preveem e um real mais fraco lança as bases para, se não um crescimento espetacular, um crescimento mais constante”.  

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.