Trump é o Lula dos EUA? Veja comparações surpreendentes entre políticos brasileiros e americanos

Apesar de muitas pessoas compararem Trump com Bolsonaro, os dois políticos não têm praticamente nada em comum

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Desde que Donald Trump começou a ganhar força como candidato republicano nas eleições norte-americanas, ainda em 2015, passou a ser comum estudos tentarem entender como uma pessoa como ele pode ter tanta força entre os eleitores. E para os brasileiros, uma das formas de exemplificar este caso é comentar como o deputado Jair Bolsonaro tem tanto apoio por aqui.

O trabalho de comparar políticos no Brasil e Estados Unidos não é nada fácil já que a sociedade, cultura e leis nos dois países são muito diferentes, o que gera propostas políticas diferentes. Mas o professor do Insper Fernando Schuler encontrou alguns pontos que podem levar a certas comparações entre os principais nomes que concorrem – e concorreram – nas eleições americanas.

Vale ressaltar que não há como usar apenas um critério para todos, sendo que para cada candidato o professor tentou encontrar diferentes características que pudessem ser encontradas também em nomes da política brasileira. Confira abaixo:

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Donald Trump
Com a força que o republicano Donald Trump tem mostrado, tem se tornado comum ouvir comparações entre ele e o deputado Jair Bolsonaro, principalmente porque os dois costumam causar muita polêmica quando falam em público.

Mas, para o professor, esta comparação é simplória demais e até sem sentido. Segundo Schuler, não é uma boa forma de comparar Trump com algum político brasileiro. “Trump é uma figura do entretenimento, sem um programa político definido. Não há um político no Brasil que se compare”, explica.

“Seria como se Silvio Santos ou Roberto Justus se tornassem candidatos”, afirma o cientista tentando encontrar uma figura que pudesse ser comparada com o executivo americano. Para ele, a melhor forma de encontrar uma pessoa como Trump por aqui seria se tivéssemos um candidato que fosse uma mistura de Lula com João Dória Jr.

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A comparação com o ex-presidente petista se dá pela “fala fácil” dos dois. “Trump não usa teleprompter e consegue atingir os eleitores de forma muito fácil. Ele fala naturalmente”, explica Schuler. Por outro lado, o republicano vem dos negócios, não da política, o que leva a comparação com João Dória. “Os dois levam o business para a política”, afirma o cientista.

É por esta versão de um homem de negócios que consegue falar diretamente com o eleitor, sem um discurso pronto, sem sinais de um pensamento “duro”, que Trump se torna único na política. Se formos levar em conta ainda suas propostas e suas declarações (muito) polêmicas, seria ainda mais difícil encontrar sua “versão” brasileira.

Hillary Clinton
No caso da candidata democrata, Schuler vê um estilo mais próximo do ideais defendidos pelo PSDB, mas vê como exagerada uma comparação com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para o professor do Insper, Hillary tem um perfil de “progressismo moderado”, que se aproxima mais do atual ministro das Relações Exteriores, José Serra.

A visão dos dois baseada em conceitos da social democracia é um dos pilares para tornar a comparação possível. Tanto Hillary quanto Serra têm pensamentos parecidos em termos políticos e possuem uma carreira longa da política. Apesar de ambos terem uma origem em famílias de classe média baixa, o caminho trilhado se difere um pouco, com Serra atuando em movimentos estudantis (sendo exilado durante a ditadura), enquanto Hillary já caminhava pela política, se tornando primeira-dama do Arkansas com 32 anos, passando atuar por reformas e mudanças junto de seu marido Bill Clinton.

Atualmente, Hillary não tem tanto apoio quanto parece por ter conseguido a indicação democrata. A ex-primeira-dama e ex-secretária de estado correu sérios riscos nas primárias contra o socialista Bernie Sanders mas, vem ganhando força nas pesquisas recentes contra Trump na corrida pela Casa Branca.

Candidatos eliminados
Schuler também comentou o estilo dos candidatos que ficaram para trás na corrida eleitoral, como os republicanos Ted Cruz e John Kasich, além do democrata Bernie Sanders, confira:

Ted Cruz
Esta é mais um nome bastante complicado de se comparar. “Ele é o contrário de Trump. É difícil achar uma figura que se compare aqui no Brasil, talvez o Ronaldo Caiado”, afirma Schuler. Porém, neste caso o peso da religião faz toda diferença, já que Cruz coloca sempre o cristianismo à frente de tudo, até mesmo da política. “Neste caso, acho que o [Silas] Malafaia seria uma comparação melhor”, diz.

Cruz é um cristão devoto e considerado um dos políticos mais conservadores no Congresso americano, opondo-se fortemente a leis de controle de armas, medidas de aborto e à legalização do casamento entre homossexuais, entre outros assuntos. Defende uma regulamentação mais rígida nas políticas de imigração e é contra qualquer forma de sistema universal de saúde e afirma que as ciências da terra não são uma “ciência exata”.

John Kasich
Um dos nomes com menos força nas primárias republicanas, Kasich é tido como um político mais moderado, que tende a ter bons relacionamentos com todos. “É um homem de gestão, caminha por todos os partidos. Lembra muito o Geraldo Alckmin”, afirma o cientista político do Insper.

Kasich é governador de Ohio e chega a ter algumas opiniões conservadoras. Ele se opõe ao direito de aborto (exceto em casos de incesto e estupro), defende o porte de armas de fogo e a pena de morte. Mas, diferentemente da linha dura, ele afirma que o aquecimento global foi cientificamente comprovado – embora não pretenda onerar a economia para combatê-lo.

Devido à moderação e à longa carreira política, o governador foi apontado pelo jornal “The New York Times” durante as primárias como a “única opção plausível para os republicanos cansados do radicalismo e inexperiência em evidência nessa disputa”.

Bernie Sanders
Segundo o professor, este é mais um caso bastante complicado de se comparar no Brasil. Apesar de ser socialistas, não há como ligar o estilo de Sanders com nenhum nome do PSOL, por exemplo. “O esquerdismo do candidato americano é bem diferente do que conhecemos de esqueda aqui no Brasil”, afirma Schuler, que lembra que Sanders está ligado ao “socialismo de Estocolmo”, enquanto a esquerda brasileira tende a estar ligada ao socialismo de Cuba.

Para o professor do Insper, nomes que poderiam se parece mais com as ideias do ex-candidato democrata seriam Roberto Freire e Cristovam Buarque, ambos do PPS (Partido Popular Socialista) ou com Eduardo Suplicy, do PT. Apesar de listar alguns nomes, é complicado encontrar relações nas propostas e trajetória destes nomes, mas entre os políticos brasileiros, poderiam ser os que mais se aproximam.

Sanders ganhou destaque na política nacional americana em 2010, quando obstruiu a pauta do Senado em protesto à expansão das isenções fiscais do governo de George W. Bush. O democrata é conhecido por lutas em pautas como desigualdade de renda, sistema universal de saúde, aquecimento global, direitos LGBT e reforma eleitoral.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.