Trump dá munição a Lula ao atrelar tarifa a Bolsonaro, avalia LCA Consultores

Vinculação entre Trump e Bolsonaro fortalece discurso do governo contra “inimigo externo” e pode desgastar oposição no debate econômico

Marina Verenicz

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A ofensiva comercial de Donald Trump contra o Brasil pode ser uma oportunidade inesperada para o governo Lula. Segundo análise da LCA Consultores, a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos — justificada por Trump em carta que critica o STF e defende Jair Bolsonaro — fortalece a retórica petista contra o que o Planalto chamaria de “interferência imperialista” na política interna do país.

A consultoria destacou que a nota de Trump representa um trunfo para o discurso de Lula, ao oferecer um inimigo externo para o governo enfrentar. A nova medida comercial ampliaria esse espaço.

Isso porque a carta enviada por Trump ao presidente brasileiro aponta diretamente o Supremo Tribunal Federal como responsável por perseguições a Bolsonaro — argumento que passa a justificar, aos olhos do presidente americano, a retaliação comercial.

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A leitura é de que o gesto reforça o vínculo entre Trump e a oposição bolsonarista. O autoexílio de Eduardo Bolsonaro nos EUA, as ações coordenadas com lideranças republicanas e a proximidade ideológica entre Trump e Bolsonado reforçam a narrativa de que a medida foi, indiretamente, provocada pela própria oposição.

A LCA também ressalta que já circula nas redes petistas o slogan “Lula quer taxar os bilionários; Bolsonaro quer taxar o Brasil”, em sinal claro de que o governo aposta na mobilização da base lulista por meio de bandeiras como soberania nacional, defesa da democracia e enfrentamento ao “neocolonialismo norte-americano”.

A oposição, por sua vez, tenta devolver a responsabilidade ao governo. Segundo o discurso bolsonarista, a deterioração das relações com Washington é fruto da política externa ideológica do Itamaraty, da reaproximação com países como China, Rússia e Irã e das declarações de Lula favoráveis à criação de uma moeda alternativa ao dólar no comércio internacional.

A LCA avalia que a retórica do governo tende a ter mais ressonância popular no curto prazo. “Somente as próximas pesquisas vão mostrar qual narrativa prevalecerá. Mas, a princípio, a do governo tem mais chances de predominar”, diz a análise.

A consultoria também destaca que o apoio explícito de Trump a Bolsonaro dificilmente terá efeito jurídico no julgamento em curso no STF e pode, ao contrário, dificultar a articulação por uma eventual anistia ao ex-presidente no Congresso Nacional.