Três dias de visitas e muitas conclusões: o que o Goldman acha do Brasil?

Banco visitou ex-policy makers, especialistas em diversos setores e autoridades políticas e destacou as suas conclusões sobre a economia brasileira

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em relatório, o banco Goldman Sachs destacou as conclusões dos três dias de visita pelo Brasil na última semana, onde encontraram responsáveis pelo Ministério da Fazenda, Banco Central, BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e Petrobras. Além disso, o Goldman se reuniu com antigos policy makers, além de especialistas do setor energético, analistas político e econômico e alguns gestores de fundos locais.

No geral, o sentimento local continua a ser muito negativo dado o ambiente macroeconômico, político e social se deteriorando, e a visão dominante é que, em todas as três partes a imagem pode também piorar antes de melhorar.

Além dos riscos macroeconômicos, ainda há uma série de incertezas persistentes. Por exemplo, o potencial de racionamento de água/energia, implicações legais e políticas da Operação Lava Jato, investigações de corrupção, e os próprios desafios internos da Petrobras para publicar demonstrações financeiras auditadas e ajustar o plano de negócios no médio prazo. “A maioria dos investidores locais estão vendidos em ativos do País e vê desvantagem ainda maior em ações e, em particular, no real”, afirma o Goldman.

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Por outro lado, destaca o banco, as autoridades parecem confortáveis com a recente desvalorização do real e veem um repasse baixo para inflação. A percepção dos que foram ouvidos pelo Goldman destacam ainda que a recente desvalorização do real está longe de ser episódio de “overshooting” e reflete principalmente fatores domésticos. 

Além disso, a maioria das pessoas ouvidas tem opinião de que atual programa de swaps perdeu a eficácia e acha que BC o encerrará ao final de março. O BC poderia atuar de forma discricionária no mercado de câmbio quando detectasse grandes movimentos que
colocassem real em performance pior em relação a outras moedas e faria rolagem integral dos vencimentos.

Dores do crescimento
Conforme destaca Alberto Ramos, head de pesquisa econômica para a América Latina, o quadro econômico se deteriorou significativamente nos últimos 2-3 meses, com o PIB real devendo registrar contração devido ao aperto monetária em curso, o aumento da inflação e à carga fiscal, além do sentimento deteriorado do consumidor e dos empresários.

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Ao ouvir especialistas, Ramos destaca que a expectativa é de que o PIB encolha entre 0,5% e 2% e a recuperação em 2016 ainda seja muito rasa e cercada de riscos significativos. 

As condições de crédito devem seguir mais apertadas com os bancos centrais mais preocupados com a inadimplência, enquanto a taxa de desemprego deve continuar subindo ao longo de 2015, o que pode agravar ainda mais os ruídos político e social.

Além disso, a inflação acelerou muito bruscamente durante o primeiro trimestre devido ao impacto sobre os preços finais de uma série de aumentos de impostos e dos ajustes dos preços administrativos anteriormente reprimidos. A inflação medida pelo IPCA deverá ficar acima de 8,0% durante o restante de 2015, e deve ser ligeiramente reduzida em 2016 para cerca de 6,0%.

E, aponta o banco, forças de inércia e do repasse de um real mais fraco são esperados para compensar parcialmente o efeito desinflacionário de um menor crescimento e, como tal, analistas e observadores locais não veem como crível o compromisso do Banco Central para conduzir a inflação para a meta de 4,5% por ano no final de 2016.

Sobre o risco de perda de grau de investimento (vale ressaltar que a visita foi feita antes da Standard & Poor’s afirmar o rating), os brasileiros ouvidos pelo Goldman acham que o grau de investimento deve se manter. Porém, estão conscientes de que, se o ajuste macroeconômico for interrompido prematuramente, o risco de perda de rating cresce.

Perspectiva de racionamento e setor elétrico
De acordo com especialistas locais de energia, o setor continua em desordem dada àfalta de um planejamento adequado, à intervenção governamental excessiva, além de políticas regulatórias que prejudicaram o investimento no setor.

“Devido a restrições políticas, as autoridades querem evitar racionamento de energia elétrica a todo o custo e, portanto, parece que se deve ainda continuar operando o sistema a um nível inaceitavelmente elevado de risco (as autoridades estão ampliando os limites técnicos do sistema)”, afirma.

Por outro lado, os melhores níveis de chuva de março podem fazer com que o governo evite o racionamento formal este ano. Além disso, o governo está contando com a queda da demanda industrial e redução da demanda de eletricidade residencial e comercial devido aos aumentos tarifários que evitar declarar racionamento formal da eletricidade.

“No entanto, especialistas afirmam que a gestão prudente do sistema exigiria um programa de racionamento moderado para construir alguma reserva dos níveis dos reservatórios e reduzir os riscos de escassez de oferta de energia em 2016 e nos próximos anos. Finalmente, os especialistas argumentam que, dada a forma irregular o sistema é gerido e os desincentivos ao investimento em geração, transmissão e distribuição, há um sério risco de que, se a economia se ajustar e o crescimento do PIB real se recuperar em 2017-18, não haverá fornecimento de energia suficiente para apoiar a recuperação”, destaca o relatório.

Implicações sobre os preços dos ativos
Em meio à crescente insatisfação pública com o governo, conforme atestam as grandes manifestações anti-governo, os riscos são elevados. A percepção é de que, além da forte queda na popularidade do governo, Dilma também enfrenta uma crise de liderança e de credibilidade. Neste meio tempo, a oposição está tentando demonstrar que o estado atual das coisas é preocupante refletindo as deficiências e os custos de um modelo populista e a abordagem heterodoxa.

Sobre os preços dos ativos, os brasileiros consultados estão muito preocupados com a alta volatilidade devido às incertezas econômicas e políticas. A deterioração das condições de governabilidade e o crescente atrito institucional, as ramificações políticas e econômicas das investigações de corrupção na Lava Jato, além das dificuldades que a Petrobras está enfrentando para publicar demonstrações financeiras auditadas são alguns dos riscos. 

Assim, a expectativa é baixista na maior parte do mercado, apesar de que alguns investidores locais acreditem que o sentimento pode melhorar um pouco, à medida que a Petrobras publica as demonstrações financeiras auditadas, a moeda estabiliza, o ruído político diminuindo e mais clareza em torno da trajetória de ajuste fiscal. “No entanto, eles também estão bem cientes de que o quadro macro provavelmente vai se deteriorar ainda mais no curto prazo e que tal dinâmica, incluindo o aumento da taxa de desemprego, poderia perturbar ainda mais o ambiente político e social”, conclui Ramos. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.