The Economist jamais será o “The Communist”

Política não é Preto ou Branco, é Cinza. Brasília não mudará da noite para o dia, deixemos o romantismo de lado

Equipe InfoMoney

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Colunista Convidado: Shin Lai, analista da Upside Investor, apresentador do programa Upside, da InfoMoneyTV, e responsável pelos relatórios Super Combo Upside. Para assinar os relatórios com recomendações de investimentos, clique aqui.

A repercussão da capa da The Economist sobre o presidenciável Bolsonaro revela o quão superficiais são as análises da internet. E o quão binárias se tornaram as visões. Tudo parece se resumir a ‘P versus B’. Mas há muito mais que ‘Preto’ e ‘Branco’ nessa eleição, e em qualquer decisão das nossas vidas.

As cores vermelhas e branca do logo da revista podem ter induzido várias pessoas a pensarem que ela surgiu na Rússia soviética, na Cuba de Fidel. Não! Surgiu na Inglaterra mesmo, país de tradição capitalista liberal.

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Ver a Economist como ‘The Communist’ é o equivalente a pensar que Wall Street é um reduto comunista. E que Bill Gates é amigo do Maduro.

A The Economist sempre foi uma revista de ideias liberais, ou seja, odeiam governos populistas que ficam intervindo na economia, tanto de esquerda quanto de extrema direita. A revista é de propriedade de banqueiros, os Rothschild e industriais italianos, os Agnelli.

Foram críticos ferozes da desastrosa política conhecida como ‘nova matriz econômica’ da Dilma, quando sugeriram diversas vezes a demissão do Guido Mantega. E estavam certos, porque a economia brasileira se perdeu desastrosamente. Ou seja, eles sempre estão a favor da democracia brasileira, e do nosso livre mercado.

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Assim, como foram e são críticos ferozes de governos populistas, como o do americano Donald Trump, que por um golpe de sorte foi eleito pelo voto indireto nos EUA, e hoje só colhe os bons frutos da economia americana, porque Obama consertou os EUA por 8 anos, desde a Grande Recessão de 2008. 

Vamos aos dados, quando o Obama iniciou seu segundo mandato em Jan 2012, a taxa de desemprego nos EUA de acordo com o Bureau of Labor Statistics era de 8,3% e quando ele entregou o cargo em dezembro de 2016 estava perto 4,7%. Quando Donald Trump assumiu a taxa de desemprego no final do primeiro ano foi de 4,1% (2017) e hoje está em 3,9% ( Julho/2018).  

Um breve parêntesis aqui.

E o que é um governo ou político populista que a revista despreza?

Em uma analogia. É exatamente como o professor de academia que recebe um aluno com o dobro do seu peso ideal, com 130 kilos. O aluno pergunta: Professor, consigo perder 70 kilos em um mês? O professor responde: até mais, viu! Um mente e o outro acredita por desconhecer a realidade dos fatos. É o pacto perfeito da mediocridade. Um político populista é isso, só fala o que as pessoas querem ouvir para se eleger. Nem que sejam mentiras. E os estudos mostram que as pessoas gostam de acreditar mais em ‘belas mentiras’ do que ‘duras verdades’.

Fecha parêntesis.

A revista The Economist tem uma elevada reputação entre executivos de grandes empresas globais e investidores internacionais. Pessoas que dificilmente você imagina que sejam comunistas, socialistas ou simpatizantes de partidos de esquerda, bem como de candidatos populistas de extrema direita. Jamais colocariam a credibilidade da revista em risco por tão pouco. Quem realmente lê, sabe que as opiniões sempre são muito bem respaldadas. (Obs. No Brasil estima-se que perto de 5% dos brasileiros leiam fluentemente em inglês, logo, tem um monte de autoridades por aí que nunca leram uma The Economist. Embora a Carta Capital publique traduções de artigos na sua revista).

Com esta capa, parece claro que os investidores internacionais não estão totalmente convencidos da dupla Bolsonaro e Paulo Guedes para tocar a economia brasileira. E o que a revista pensa, pode representar como os investidores e a comunidade financeira internacional enxergam o Brasil em 2019, e a atual corrida eleitoral.

O Guedes sim, sempre foi liberal, até por sua formação em Chicago. Seu risco está em nunca ter participado do setor público.  Agora, o Bolsonaro ninguém sabe exatamente o que ele pensa sobre economia. Nem como será sua atuação no Executivo.

Leia também:

– Bolsonaro é ameaça para o Brasil e seria um “desastre” como presidente, diz Economist
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“Por que votar em Jair Bolsonaro”, por André Gordon

A revista, indiretamente, está dizendo que há um baita risco ao Brasil ao fazer tal escolha. É um educado alerta. Pois podemos ser cobaias de um governo que não sabemos o histórico, logo, nem o que será feito com o país.

Baixa previsibilidade para investidores significa que o risco precisará ser aumentado, ou no mínimo evitado. A reportagem questionou a capacidade de articulação de Bolsonaro frente ao congresso, já que ele não tem muitos amigos, ou aliados.

A pergunta que todos fazem é: as reformas seriam feitas como? Todos reclamam que Alckmin se uniu ao ‘centrão’, mas se o Bolsonaro ganhar, ele precisará do ‘centrão’, sim! Repito, política não é Preto ou Branco, é Cinza. Brasília não mudará da noite para o dia, deixemos o romantismo de lado. Só um ‘meteorito’ mudaria o Brasil de uma vez.

É óbvio que os investidores internacionais podem dar o benefício da dúvida ao Bolsonaro ou a outro eleito. Mas por quanto tempo? Esta pergunta é chave: 6 meses? Um ano? É sentar na cadeira de presidente com o taxímetro ligado na bandeira, não 2, mas 6.

Se não tivermos uma reforma logo de começo, os investidores podem perceber um retorno ao período Dilma/Levy.

Joaquim Levy faria todas reformas, era um liberal assim como Guedes, inclusive apelidado de ‘mãos de tesoura’ porque queria realizar cortes nas contas públicas, mas não fez nada, porque não se entendia com Dilma, nem ela com ele. Eram uma dupla ‘fake’ (falsa).

Os investidores internacionais devem se perguntar: há quanto tempo Guedes e Bolsonaro se conhecem de fato? Ninguém sabe ao certo a qualidade do relacionamento entre ambos, e como começou. Os dois ‘casaram’ sem namorar? Talvez.

Nesta situação de risco político econômico percebido, o resultado tende a ser o mesmo que conhecemos, o dólar voltaria a subir, inflação também porque há uma parte substancial dos custos no Brasil indexados ao dólar. Juros subiriam para controle da inflação. Consequentemente, o custo de crédito subiria, sendo repassado pelos bancos, retardando a recuperação já lenta da economia brasileira.

Ficaríamos presos em uma estagnação inflacionária, isto é, sem crescimento econômico com inflação subindo, e alto desemprego. Certamente, o fluxo de capital estrangeiro para bolsa cairia, já que representa 50% do volume diário.

Ou seja, não temos ‘bala de prata’.

Infelizmente, estes aspectos discutidos acima podem passar longe do eleitor comum.

Governar o Brasil nunca foi para amadores e não temos uma solução fácil para 2019. Ilude-se quem pensa que quem ganhar esta eleição terá ‘mares calmos e céu de brigadeiro’. Será um transatlântico no meio de uma tempestade política e econômica.

Por fim, a sugestão da revista indiretamente é: escolham um candidato melhor, para o próprio bem de vocês! Quem falou que a alternativa ao ‘P’ é somente ‘B’? Não temos apenas opções ‘Pretas’ versus ‘Brancas’, temos vários tons de Cinza.

Felizmente temos alternativas democráticas! Quais são elas? Justamente: elas.

A principal força destas eleições são as mulheres, elas definirão o rumo destas eleições, ao escolherem um candidato que as represente. As mulheres são 51% dos eleitores do país. As eleitoras brasileiras formam um grupo bastante articulado e coeso que salvará a democracia brasileira de polarizações extremas, através de um voto mais sensato.

Cabe lembrar que pesquisa de intenções de votos são baseadas em amostras, que podem ter diversos vieses. Basta lembrarmos das eleições americanas, Hillary Clinton era apontada como vencedora e no final o mundo foi surpreendido. Pode ocorrer exatamente o mesmo no Brasil, já que as pessoas mudam de ideia na última hora.

Além disso, veremos uma migração de votos entre candidatos para esta terceira opção. O candidato respaldado e preferido pelos investidores nacionais e internacionais é o Geraldo Alckmin do PSDB pela sua alta previsibilidade governamental, forte experiência no Poder Executivo sendo várias vezes governador de São Paulo.

Geraldo e os seus assessores econômicos como Pérsio Arida, Edmar Bacha possuem um entrosamento de longa data. Isto, tranquiliza investidores, reduz a volatilidade do câmbio, pois sabem do compromisso com as reformas importantes como a da Previdência, isto derruba o custo do financiamento do Governo Federal, logo, os juros caem. As empresas investem, muitos empregos são criados e a Bolsa de Valores sobe. A espiral positiva recomeça.

É possível que os eleitores de João Amoedo, Henrique Meirelles e Álvaro Dias pelo perfil migrem para Geraldo Alckmin.

As eleições ainda não aconteceram, vão acontecer

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