“Temos que ter a democracia da eficiência”, propõe Temer

Vice-presidente reconheceu a gravidade do momento e, pontualmente, do déficit orçamentário que deverá ser apresentado ao Congresso sobre as contas do ano que vem

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Todos reconhecem que o Brasil está passando por momentos difíceis. Em evento realizado pela revista Exame nesta segunda-feira (31), o vice-presidente, Michel Temer, destacou a importância de se reconhecer questões que compõem o cenário por mais evidente e consensuais que sejam. Para ele, em um momento como esse, dizer o óbvio pode ser o que o país mais necessita. Na mesma linha, o peemedebista, articulador político do governo no varejo e atacado até poucos dias (quando entregou o primeiro), voltou a fazer um apelo em defesa do equilíbrio político necessário para a recuperação do país, através da governabilidade. Sem apoio do Legislativo e da sociedade, é difícil ter um governo efetivo.

“É preciso que ambos os poderes reúnam seus esforços”, disse. “Quando se fala em governo, fala-se nas instituições colocadas na Constituição, que irão governar o país, no Legislativo, Executivo e Judiciário para exercer as vontades do povo”, complementou. A harmonia dos três poderes, segundo o vice-presidente, é vital para a organização de um governo. Em seu discurso, também aproveitou para acenar para a iniciativa privada e enaltecer a importância das empresas para a recuperação da economia nacional via investimentos importantes.  “Caminhamos para um Estado moderno, em que se transfere para a iniciativa privada alguns serviços, cabedo ao governo a função de regulador, fiscalizador desses serviços”, afirmou. Segundo Temer, é preciso maior união em prol de um modelo de governo: “precisamos de uma grande aliança nacional. Precisamos recuperar a ideia de harmonia no país, que permeia entre as várias classes sociais e poderes”.

Temer reconheceu a gravidade do momento e, pontualmente, do déficit orçamentário que deverá ser apresentado ao Congresso sobre as contas do ano que vem. De todo modo, ele enxerga como positiva a transparência. “O déficit orçamentário é extremamente preocupante”, admitiu. Segundo ele, o quadro pode até evoluir e culminar em um rebaixamento na nota de crédito do Brasil. Ainda assim, ele contou que ainda há um clima positivo para investimentos no país se as mudanças corretas forem feitas. “Estive em Nova York recentemente e fundos gostariam de seguir investindo no país, mas querem maior segurança”, contou.

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Sobre o caso da CPMF, o vice explicou por que se posicionou de maneira contrária, entrando em conflito com os interesses da presidente Dilma Rousseff e de outras pastas, como a da Saúde, comandada por Arthur Chioro. “O Brasil sofreria derrotas econômicas e políticas [com o imposto]”, explicou. Ele teria aconselhado a equipe econômica do governo o uso da transparência no Orçamento, mesmo que com déficit e que novos impostos não seriam bem-vindos. “Ninguém quer carga tributária mais elevada. Ninguém suporta mais isso”, disse. “A sociedade vai aplaudir se gastos forem cortados, mas a volta da CPMF a sociedade não aplaude”.

Em um momento de maior austeridade fiscal e escassez de recursos, Temer exaltou a necessidade de o governo, mais do que nunca, atender às crescentes exigências por eficiência, uma das consequências do aumento da classe média, na ótica do vice. “Temos que ter a democracia da eficiência”, disse. Segundo ele, não há estratégia de elevar mais tributos – o que poderia sinalizar o atendimento a interesses do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, um dos maiores defensores de novos cortes de despesas em vez de elevação de impostos.

A crise atual também traria oportunidades para se discutir o sistema político. Em seu discurso, o vice-presidente ainda reclamou do excesso de fragmentação partidária no Legislativo. “É dificílimo governar o país com 32 partidos que não são mais siglas partidárias”, disse em tom de crítica também ao individualismo crescente de parlamentares, o que dificulta o diálogo para o Planalto na medida em que cresce o número de atores e interlocutores, representantes de menos votos. “Os partidos não são mais que siglas partidárias. Não estou elogiando a ditadura, mas falo daquela época em que nós tínhamos verdadeiros partidos políticos”, complementou. Na avaliação dele, não é possível governar com coalizão entre 20 partidos, assim como o parlamentarismo defendido por alguns parlamentares seria catastrófico.

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Para Temer, se não fosse o quadro de Congresso mais refratário, pulverizado e individualista, governo não estaria nessa instabilidade atual. O vice-presidente foi um dos principais articuladores do governo para a conquista da aprovação das medidas do ajuste fiscal no Legislativo. Agora, ele se dedicará apenas à parte macro da articulação, tratando os assuntos considerados estratégicos. “Vou continuar fazendo o necessário para o país”, encerrou Michel Temer.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.