Temer tende a derrubar nova denúncia de Janot, mas uma coisa tira o sono do mercado

No segundo round da disputa entre o presidente e o procurador, investidores acompanham com atenção a possibilidade de novos atrasos na agenda de reformas

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A proximidade do fim do mandato de Rodrigo Janot como procurador-geral da República traz expectativas pela apresentação de uma nova denúncia contra o presidente Michel Temer, que já no início do mês conseguiu que a Câmara arquivasse pedido para torná-lo réu de ação penal, pelo crime de corrupção passiva, no Supremo Tribunal Federal. O procurador tem até 17 de setembro para lançar sua última flecha, data em que deixa o atual cargo. Aliados do peemedebista já se preparam para uma nova batalha política.

Antes da viagem à China para vender o novo pacote de concessões e privatizações anunciado na semana passada, Temer faz novos esforços para organizar a base na Câmara. Na tarde desta segunda-feira (28), será realizada uma reunião ministerial para afinar a base com relação à possível denúncia e outras agendas importantes para o governo — caso da TLP, da reforma da Previdência e até a ampliação do déficit fiscal.

As preocupações com o que deverá vir são menores do que o clima gerado na denúncia anterior, tendo em vista a percepção de que o peemedebista conta com o apoio necessário para dissipar o novo fantasma. No entanto, a comitiva para a viagem à China foi esvaziada para que o time da articulação política do governo esteja a postos. Todo cuidado é pouco.

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Do lado político, o desafio será acomodar a insatisfação do “centrão” com as benesses que continuam recebendo traidores do governo — isto é, grupos de parlamentares que votaram contra o presidente na primeira denúncia apresentada. É o caso de parcela expressiva do PSDB, que continua com representantes em ministérios importantes do governo. O clima de tensão pode impor contratempos ao governo nessa nova votação, e não há garantias de tranquilidade no Planalto. Na política, os cenários podem mudar rapidamente.

Embora as expectativas sejam de uma nova vitória de Temer no fechamento das cortinas da gestão Janot à frente da PGR, todos sabem que o desfecho dependerá também do teor da acusação. Quanto mais consistente, mais trabalho terá o combalido presidente, que já não poderá oferecer tantos benefícios aos deputados como fez antes.

No mercado, apesar das expectativas de a nova peça contar com partes da delação premiada do doleiro Lúcio Funaro, as apostas são de vitória de Temer. O Ibovespa segue renovando máximas, acima dos 71 mil pontos, o dólar comercial se mantém na faixa dos R$ 3,15 e os juros futuros seguem movimento de queda, com os contratos com vencimento em janeiro de 2018 marcando 7,83% e os papéis com vencimento em janeiro de 2021 a 9,29%. O dia otimista dos investidores reflete a agenda de privatizações do governo, o cenário externo favorável e a possibilidade de avanço da reforma previdenciária no parlamento. O clima de tranquilidade mesmo com a possível denúncia de Janot contribui para o desempenho do mercado.

Apesar disso, a apresentação de eventual denúncia pode custar caro à agenda de reformas e atrasar toda a agenda do governo. Se já tem sido difícil falar em Previdência atualmente, com uma nova denúncia contra o presidente, as coisas podem ficar ainda mais difíceis.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.