Temer quer fazer o governo que Bolsonaro promete, diz analista político

Para Leopoldo Vieira, apesar do deslocamento da agenda legislativa e das recentes movimentações do governo e aliados, ainda haveria espaço para a reorganização de peças em torno da aprovação da reforma da Previdência antes mesmo das eleições

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A instauração de uma intervenção federal inédita na segurança pública do estado do Rio de Janeiro até 31 de dezembro, operada pelo presidente Michel Temer e autorizada pelo Congresso Nacional, esvazia o discurso do presidenciável Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que vinha se destacando na corrida eleitoral com a ênfase a medidas duras de combate à violência. Mas, mais do que isso, a movimentação do emedebista poderia ser vista como uma antecipação da agenda do deputado caso consagrado pelas urnas.

A avaliação provocativa é do analista de cenários Leopoldo Vieira, da consultoria Idealpolitik. “Parece que Michel Temer deseja fazer, desde já, o governo que Jair Bolsonaro promete: agenda liberal e choque na segurança pública”, ventilou em relatório. O deputado federal rapidamente teria acusado o golpe daquilo que o próprio presidente e seu entorno qualificaram como ação “de mestre”.

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Em vídeo publicado em seu perfil no microblog Twitter, Bolsonaro, apesar de ter votado a favor da intervenção, criticou a medida e atacou o presidente. “Temer já roubou muita coisa aqui, mas o meu discurso ele não vai roubar, não”, disse. O deputado também é um dos adeptos da interpretação de que se tratou de intervenção política. “Se der certo — eu vou torcer para que dê certo –, glória dele. Se der errado, joga a responsabilidade no colo das Forças Armadas”, complementou o parlamentar.

Embora o governo por ora tenha publicamente aberto mão da reforma da Previdência, Vieira acredita que a medida ainda pode voltar antes das eleições. “As 15 medidas econômicas anunciadas, supostamente alternativas à reforma da Previdência, são uma colcha de retalhos, entre as quais umas têm chances de aprovação, outras não. Em nossa avaliação, a lista é uma medida diversionista enquanto o governo prepara a solução final para a reforma”, explicou.

“A gestão estica a corda com o mercado na lógica de estabelecer quem precisa de quem e espera o rebate da intervenção no Rio de Janeiro. Se bem sucedida [a medida], aumenta a confiança política e social para aprovar a nova Previdência”, analisou.

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Tal avaliação, contudo, não é majoritária entre os analistas e no meio político. A aproximação do calendário eleitoral e a consequente indisposição dos parlamentares em assumirem tal compromisso dificulta um novo contorcionismo na agenda legislativa. Além disso, a tendência natural é que medidas de segurança pública comecem a tomar conta da pauta do Congresso. Também vale ressaltar o crescimento nas dificuldades de o atual governo assumir o controle da agenda das casas legislativas.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.