SPX vê eleição de 2018 como repetição de 1989 “com agravante” e eleva posição vendida em real

Para a gestora, os mercados "continuam em estado de negação" ao avaliarem que o movimento de reversão não terá vida longa.

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A cautela com o Brasil de Rogério Xavier, da SPX Capital – gestora com mais de R$ 30 bilhões sob gestão e que conquistou o mercado com uma altíssima rentabilidade nos seus 8 anos de história – ganha ainda maior reforço com a avaliação da “volta dos fantasmas do passado” em meio à proximidade das eleições de 2018. 

Olhando o pleito deste ano como uma “repetição de 1989” com um agravante – a desesperança dos brasileiros -, somado ao quadro fiscal brasileiro e o cenário externo adverso em meio ao princípio de uma reversão de influxos financeiros. a SPX Capital destaca que os mercados “continuam em estado de negação” ao avaliarem que o movimento de reversão não terá vida longa.

“A tendência no mercado é de sempre achar que a primeira reversão no cenário é uma oportunidade de ir contra. Não é. A primeira reversão é o sinal de que o cenário mudou, e de que estamos no início de um novo ciclo”, aponta a gestora em relatório de estratégia sobre junho.

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Em meio a esse ambiente, para o mês de julho, a SPX segue com posições vendidas em bolsas de países desenvolvidos e emergentes enquanto que, no caso específico da bolsa brasileira, continua comprada em empresas dos setores de commodities e utilities, com exposição direcional neutra. A posição vendida ao real foi elevada, enquanto possuem alocação tomada na parte curta da curva de juros, atentos à deterioração fiscal no Brasil, aliada à normalização da política monetária nos países desenvolvidos. “[Isso] levará a um novo equilíbrio dos ativos financeiros, com consequente mudança na postura da política monetária no Brasil. Nos juros internacionais, continuamos com alocações tomadas na parte intermediária da curva dos Estados Unidos e da Zona do Euro”, avalia a SPX. 

No mês de junho, o SPX Nimitz rendeu 2,23%, ante um CDI de 0,52% no mesmo período. Em 2018, os ganhos acumulados são de 7,63%, mais do que o dobro do CDI, que rendeu 3,18% no mesmo período. 

Fantasmas do passado voltam a assombrar

Na carta intitulada “Os Fantasmas do Passado voltaram a assombrar a minha mente”, Xavier ressalta que começou a sua carreira no mercado financeiro em outubro de 1985, em que não se elegia presidente pela via direta e somente quatro anos depois iniciou-se a primeira experiência de votar para presidente. “O que aquele período guarda de semelhança com o atual? Em 1989, eu não tinha a menor ideia de quem seria o vencedor; em 2018, também não”.

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Porém, se não havia opinião sobre quem venceria, por outro havia convicção de que algo grande e impactante iria acontecer, além de saber também que a possibilidade de Lula ou Leonel Brizola estar no segundo turno contra Fernando Collor era grande.” Ou seja, qualquer que fosse o resultado da eleição, ele seria repleto de riscos. Tínhamos consciência de que não valeria a pena estarmos posicionados nos mercados. Era hora de se defender: proteger o patrimônio e esperar para ver”, aponta.

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Já em 2018, o cenário é bem diferente do de 1989, mas guarda semelhanças em relação às incertezas. “[Jair] Bolsonaro, como Collor no passado, parece consolidado para ir ao segundo turno. Falta saber quem será seu oponente. Acredito que a esquerda vai estar representada por Ciro Gomes, ou pelo candidato do PT. Ver Ciro falar e agir é como encarar o fantasma de Leonel Brizola… E o candidato do PT sempre será, em última instância, Lula”, destaca o gestor.

Assim, a eleição de 2018 é vista por Xavier como uma repetição da 1989, porém com um
agravante: “naquela época, as pessoas acreditavam que os políticos poderiam fazer
coisas e tomar medidas que melhorassem suas vidas. Passaram-se trinta anos e hoje
há um total descrédito na classe política. O reflexo dessa falta de esperança é o
enorme contingente que declara voto branco ou nulo nas pesquisas”.

Xavier ressalta que o Brasil vem de uma trajetória de eleições extremamente polarizadas, cujos desfechos deixaram o país dividido. “Infelizmente, ainda há espaço para piora neste
ano. Quem vencer estas eleições, o fará com uma votação pouco expressiva, em
um contexto de alto percentual de votos brancos, nulos e abstenções”, aponta. 

Reforçando o cenário de cautela, olhando para o risco doméstico, o quadro fiscal leva a uma enorme preocupação e a reforma da previdência tem que ser endereçada. Sem consenso sobre como combater a crise fiscal, aponta o gestor, trilha-se um caminho claro para a insolvência ou para um cenário de inflação em aceleração.

“Olhando para o risco doméstico, vejo o quadro fiscal com enorme preocupação. Somando a isto o cenário eleitoral extremamente desafiador, há motivos suficientes para compra de proteções no mercado. Para piorar, o cenário externo virou: vamos ter vento contra mais à frente”, aponta o gestor.

Xavier pondera que há quem sinta conforto ao ver a conta corrente do balanço de pagamentos com saldo perto de zero, assim como as reservas cambiais em torno de US$ 380 bilhões; mas, de qualquer forma, diante de um quadro cada vez mais crítico de solvência, os investidores relutarão em financiar a dívida brasileira  com juros baixos. “O cenário é claro: ou fazemos os ajustes fiscais necessários ou os investidores vão exigir juros cada vez mais altos, condenando nossa economia a ter alto desemprego, baixo crescimento, dívida elevada e em aceleração”.

O cenário externo também se aponta como adverso em meio ao aperto monetário do Federal Reserve que deve se prolongar, enquanto o BCE (Banco Central Europeu) sinalizou o fim do
programa de compra de títulos, o que fará as taxas de juros de mercado subirem
por lá e, para completar, a guerra de tarifas e as restrições imigratórias do governo
Trump. 

“Estamos no princípio de uma reversão do ciclo de influxos financeiros – que foi iniciado após
a crise financeira de 2008, quando as economias emergentes foram inundadas por
uma liquidez abundante, vinda das economias desenvolvidas e de seus afrouxamentos
monetários. Esse movimento de reversão já começou na economia americana e é
previsto que se espalhe para outras economias desenvolvidas. Já o sentimos nos
preços dos ativos e isso irá se aprofundar”, aponta Xavier.

Desta forma, com uma situação doméstica de inflação em elevação, desemprego alto,
crescimento baixo, crise fiscal e eleição incerta, aliada a uma conjuntura externa
adversa aos países emergentes, a SPX tem a convicção de que estamos diante de um
cenário extremamente desafiador no Brasil.

A cautela e a prudência, assim como em 1989, serão imperativas. “Entendo que as  oportunidades estarão mais claras fora do país. Como sempre, teremos que ser pacientes e esperar as oportunidades ficarem mais nítidas no Brasil”, conclui.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.