S&P, Moody’s e Fitch: quem tem medo das agências de classificação de risco?

Depois que mercado de bonds ignorou notícia sobre rating dos EUA, economistas discutem reais impactos da decisão da S&P

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – “As pessoas da S&P são inteligentes”. A frase pontua todo comentário diário de Paul Donovan, economista do UBS, que deixa claro o seu ceticismo com a decisão da agência de classificação de risco em colocar uma perspectiva negativa para o rating norte-americano.

Segundo dados do Wall Street Journal, 19 das 127 dívidas soberanas acompanhadas pela Standard & Poor’s têm classificação AAA – o único com perspectiva negativa é o norte-americano. Desde 1989, quando passou a atribuir perspectivas às notas, a agência reduziu ratings com perspectiva negativa 56% das vezes, geralmente seis meses depois da mudança.

Reação?
A decisão derrubou os mercados de ações na véspera – as bolsas europeias recuaram mais de 2%, e os índices dos EUA fecharam com quedas acima de 1%. O Ibovespa seguiu o humor externo e também registrou forte baixa.

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Contudo, os mercados de renda fixa ignoraram a notícia; ao contrário do que se tem visto nas economias europeias, que vêm sofrendo com cortes de rating semana sim, semana não, os custos de financiamento da dívida dos EUA não subiram depois do anúncio da S&P.

A LCA lembra que a decisão – ou a falta de reação – não é inédita. Apesar de a perspectiva estável do rating dos EUA existir desde 1989 na S&P, a Moody’s rebaixou a perspectiva da nota em janeiro de 1996 – para voltar a elevá-la meses depois.

Bonds intactos
“O impacto sobre os ativos dolarizados não aconteceu: as Treasuries e o dólar subiram como se não fosse o governo americano cuja classificação foi posta em revisão”, destaca a LCA. Há alguns motivos que podem estar por trás dessa “não reação”. O primeiro dele é que há poucas dúvidas sobre a habilidade dos EUA em pagar seus credores. Outro ponto é que os investidores que apostam no mercado de renda fixa dos EUA não são alheios ao fato de que o país acumula uma imensa dívida.

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“Entre os administradores de fundos globais de renda fixa, fica a impressão de que existem poucas alternativas aos títulos americanos e que não haverá redução dos investimentos nestes papéis”, escreve a MCM.

Paul Donovan, por sua vez, lista os diversos motivos para a falta de impacto da decisão – e para justificar a “inteligência da S&P”. “Os EUA podem imprimir seu próprio dinheiro, e isso custa menos do que um default. Os EUA não tem histórico de golpes ou não reconhecimento de dívida. Os ratings devem ser avaliações relativas de risco, e não há comentários sobre França, Alemanha ou Reino Unido”, dispara o economista, antes de tornar ao coro “mas a S&P tem pessoas inteligentes”.

A política em foco
Em editorial publicado nesta terça-feira, o Financial Times também destaca a falta de novidade da notícia. “Ninguém que preste o mínimo de atenção à Washington precisa que a S&P os diga que os políticos norte-americanos não conseguem entrar em um acordo sobre como colocar as finanças dos EUA em ordem”, diz o jornal.

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Os desentendimentos entre republicanos e democratas sobre o orçamento do país têm sido mais do que públicos – especialmente com a chegada do Tea Party, ala mais conservadora do partido republicano. O Tesouro dos EUA, afirmou que a agência estava subestimando a capacidade de seus líderes em se unirem para resolver os desafios que os EUA enfrentam – enquanto isso, os líderes dos partidos entenderam a declaração da S&P como argumento a favor de suas posições.

“Esta iniciativa tem maior repercussão política que prática, financeira”, frisa a LCA que afirma, contudo, que há um consenso “razoavelmente bem estabelecido” entre os políticos sobre o mais importante, “a necessidade premente de redução do déficit e da dívida”.

Entre os EUA e as agências
A LCA escreve ainda que nem mesmo um eventual downgrade na nota soberana norte-americana seria catastrófico. “A probabilidade de default de uma dívida AAA é de 1,09% em 15 anos; a probabilidade de default de uma dívida AA é de 1,15% em 15 anos, uma diferença mínima”.

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Nesse caso, qual a relevância da decisão da S&P, além de ser um aviso mais ruidoso sobre a necessidade do país em lidar com seu alto nível de dívida? Pouca, ou quase nenhuma, segundo o economista do UBS.

“Tendo a escolha de abandonar o maior e mais líquido mercado de bonds, ou abandonar as agências de classificação de risco, a maioria dos investidores vai provavelmente abandonar as agências. Os mercados não vão esperar pelas agências de rating, mas vão decidir a credibilidade de crédito por si mesmos. Mas as pessoas da S&P são inteligentes”, completa Donovan.

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