Sem unanimidade, mercado vê fim do ciclo de cortes da Selic

Ameaça de não cumprimento da meta de inflação para 2012 e perspectivas de aceleração da atividade econômica guiam fim do ciclo, apontam economistas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em meio aos sinais de reaquecimento da atividade econômica e com as ameaças de aceleração da inflação, a maior parte dos economistas acredita que o Copom (Comitê de Política Monetária ) optará por manter a taxa básica de juros Selic em 7,5% ao ano na reunião que se concluirá nesta quarta-feira (10). Caso essa projeção se confirme, será o fim de um ciclo de nove cortes seguidos no patamar da taxa básica – ciclo este que se iniciou em agosto de 2011. 

Entretanto, o mercado vem se posicionando cada vez mais em relação a um corte na taxa Selic em 0,25 ponto percentual, que passaria assim para 7,25% ao ano. De acordo com pesquisa realizada pela Agência Bloomberg, 28 instituições de mercado consideram a manutenção da Selic nos atuais 7,5% enquanto outras 29 instituições acreditam que o BC decidirá por um pequeno corte adicional da Selic, de 25 pontos-base.

Mercado dividido 
A projeção de um novo corte na taxa básica de juro – que parecia fora de cogitação – ganhou forças nos últimos dias em meio às declarações do diretor do Banco Central, Luis Awazu, na última sexta-feira (5). O diretor afirmou que a economia global passa por um período de baixo crescimento global, podendo ser mais persistente e mais longo, com efeitos negativos em economias mais fortes, como Alemanha e China, o que abriria espaço para novos cortes de modo a estimular a atividade nacional. 

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Este anúncio teve impacto inclusive no mercado de juros futuros, que reflete as expectativas do mercado com relação às decisões de política monetária do BC, fazendo com que eles registrarem forte queda na data da declaração. Entretanto, para o economista-chefe da corretora Souza Barros, Clodoir Vieira, esta queda no mercado futuro é exagerada. Ele avalia que a maior probabilidade é de que a taxa de juros siga em 7,5%, mesmo que não seja uma decisão unânime pelos integrantes do comitê.

A decisão de manter o patamar da Selic, aponta Vieira, deve se basear no ambiente de aceleração dos índices de inflação, tendo como base a alta de 0,57% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em setembro, indicando assim uma ameaça ao cumprimento da meta de inflação, de 4,5% do índice. “Caso houver uma redução na taxa básica, haverá um indicativo de que o BC não está comprometido com o atingimento da meta. Com isso, o cenário-base é de manutenção na taxa”, avalia Vieira.

O cenário de manutenção da Selic também parece ser o evento mais provável para a SulAmérica Investimentos, devido à deterioração das contas fiscais, à recuperação econômica doméstica e ao momento ruim ainda na inflação corrente. “Porém, não consideramos o corte de juros de 25 pontos-base na próxima reunião algo improvável, devido ao viés de baixa que a cúpula do Banco Central tem tido ao longo dos últimos anos”, avalia o economista Newton Rosa.

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A LCA Consultores também espera uma manutenção da taxa, mesmo em meio a um cenário internacional ainda claramente desinflacionário – “fator que ainda confere probabilidade nada desprezível à hipótese de continuidade do ciclo de redução da Selic”. Contudo, de acordo com os economistas da consultoria, pesará mais sobre a decisão desta semana a percepção da autoridade manifestada no Relatório Trimestral de Inflação.

Dentre os fatores indicativos, está o balanço de risco considerado neutro no horizonte doméstico pela autoridade monetária, em um contexto em que a política fiscal está ligeiramente expansionista e baseado numa projeção de atividade econômica mais intensa neste segundo semestre e no próximo ano. Desta forma, avalia a consultoria, como os indicativos são de melhora da atividade – que vêm reagindo satisfatoriamente aos estímulos recebidos pelo governo -, o risco de desaceleração econômica é menos provável, balizando a decisão de manter a Selic em 7,5% ao ano. 

Cenário de alta nas próximas reuniões 
Caso a taxa Selic siga em 7,5% ao ano, isto não indica que haverá uma interrupção do ciclo de afrouxamento monetário, avalia o economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat. Dentre os outros mecanismos para a tomada de políticas expansionistas, está a redução das alíquotas de compulsório pela autoridade monetária, em setembro, exemplifica Combat. Com isso, “a autoridade monetária pode empregar mecanismos não convencionais para continuar afrouxando a política monetária – relaxando, por exemplo, as condições de empréstimo dos bancos – sem promover novos ajustes nos juros”, ressalta o economista da Concórdia.

Deste modo, Combat acredita que haverá um ajuste moderado para cima na taxa básica de juros no próximo ano, que deverá encerrar 2013 aos 8% ao ano. Já a LCA avalia que o balanço de riscos começará a pender para a inflação a partir da segunda metade do ano que vem. Os economistas da consultoria projetam, até lá, melhora do ambiente externo e um crescimento econômico nacional mais perto do seu potencial.

“Nessas circunstâncias, seguimos antecipando para a virada de 2013 para 2014 um movimento de ajuste das condições monetárias, atualmente em terreno expansionista, para níveis mais próximos da neutralidade. Isso significa que a Selic deverá ser elevada para a casa de 9% ao ano, em concomitância a uma execução fiscal mais cautelosa”, conclue a LCA.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.