Selic, Previdência, Bolsa, eleições: as novas contas do mercado após um dia histórico

Em menos de vinte quatro horas, o cenário mudou totalmente - e Temer passou a ser tóxico para os mercados

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O dia 18 de maio ficará marcado para os mercados brasileiros por muito e muito tempo. Afinal, o Ibovespa entrou em circuit breaker pela primeira vez desde 2008 e registrou a maior baixa desde 22 de outubro daquele ano ao afundar 8,80%, enquanto o dólar registrou a maior alta em 14 anos ao saltar 8,52%. 

Todo esse movimento de forte aversão no mercado ocorreu em meio às revelações de quarta-feira à noite da delação do dono da JBS Joesley Batista, que afirmou que Michel Temer deu aval para a compra de silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.

Isso levou a uma virada total no mercado: se antes havia um grande otimismo com as reformas, agora o cenário é totalmente o oposto. Michel Temer, que era visto como um fiador das reformas, agora passou a virar tóxico para elas. Com o ambiente mudando totalmente e Temer na corda-bamba e sem condições de governabilidade, o mercado e analistas políticos passaram a revisar as suas previsões para a bolsa, Selic e até para as eleições de 2018.

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Confira o que mudou no cenário em pouco menos de 24 horas:

Selic: o corte desacelerou

As taxas dos juros futuros dispararam ao longo de toda a curva nesta sessão. Já o dólar comercial disparou 8,52%, cotado a R$ 3,4008 na venda – maior alta desde 5 de março de 2003 -, ao passo que o contrato futuro de dólar com vencimento em junho avançou 8,14%, sinalizando cotação de R$ 3,403 e colocando em dúvida a aposta do mercado em corte mais acelerado dos juros.

Com os ajustes na curva nesta sessão, a probabilidade implícita que a curva de juros futuros mostra é de uma chance de 76% do Copom (Comitê de Política Monetária) cortar os juros em 50 pontos-base e 24% de corte de 75 pontos-base. Antes do escândalo, o mercado estava revisando as suas projeções para um corte mais rápido da Selic na próxima reunião do Copom no dia 31 de maio. 

“A pressão no câmbio deixa o BC em uma situação difícil. A ideia de acelerar o corte pode ser comprometida”, diz Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do CA Indosuez.

De acordo com o Deutsche Bank, a inflação baixa e a lenta recuperação econômica ainda permitem que o Banco Central alivie a política monetária, mas a depreciação da moeda pode ser um grande problema. 

Reformas econômicas

A expectativa é de que as reformas fiquem paralisadas, pelo menos até o início de um novo ciclo político, conforme destacou o Morgan Stanley em relatório.

Já segundo afirmou o diretor de relações governamentais da Barral M. Jorge, Juliano Griebeler,  “se com um governo articulado a aprovação da reforma da previdência era incerta, na situação atual ela não deve ocorrer. Pelo menos não no primeiro semestre, enquanto ocorre uma reorganização do governo brasileiro”.

Entre os mais otimistas. a expectativa é de que Temer renuncie ou seja deposto e, através de eleições indiretas, seja eleito um nome que seja pró-reformas e que mantenha a equipe econômica, uma das grandes bases de sustentação do governo Michel Temer. Porém, com Temer perdendo apoios e base de sustentação, espera-se que as reformas não andem enquanto ele estiver no poder. 

De acordo com a Eurasia, qualquer presidente eleito pelo Congresso terá fortes incentivos para colocar a reforma da Previdência na pauta como forma de construir uma ponte para chegar a 2018. Porém, o calendário da reforma inevitavelmente será adiado, e claramente enfrenta maiores riscos de aprovação. 

Bolsa

A eclosão do escândalo levou a uma derrocada de 8,80%, aos 61.597 pontos e também levou a uma revisão para as perspectivas da bolsa brasileira por grandes bancos estrangeiros. Apenas hoje, o suíço UBS e o americano JPMorgan cortaram a recomendação overweight (exposição acima da média) para as ações da companhia. 

“Ainda que a tendência positiva para crescente atividade econômica e taxas de juros mais baixas deva persistir, nós rebaixamos taticamente as ações brasileiras de overweight para neutra em meio à percepção de risco maior de execução para aprovação das reformas”, escreveram estrategistas do JP Morgan liderados por Pedro Martins Junior em nota. 

Já o UBS aponta que o cenário mais benigno seria se acusações fossem rapidamente refutadas. O ambiente “meio-termo” para o mercado envolveria a renúncia do presidente, seguida pela eleição de um líder que manteria a atual equipe econômica e tentaria reiniciar os esforços com as reformas, criando incertezas de curto prazo. O cenário mais negativo seria processo de impeachment, que traria incerteza política prolongada. Neste cenário, o UBS recomenda ações com ganhos em dólar e bons balanços: Ambev, QGEP, Cesp, Transmissão Paulista, Telefônica Brasil, Klabin e BRF.

O Morgan Stanley, por sua vez, vê o Ibovespa caindo 26% em relação ao fechamento da última quarta-feira, com queda até os 50 mil pontos. “Precisamos reavaliar o mercado a um nível de preços que leve em conta: 1) a liderança do ex-presidente Lula nas pesquisas; 2) a ausência de um candidato definido com políticas macroeconômicas ortodoxas e 3) o fato de haver um longo período de quase 18 meses até a eleição presidencial de 2018”.   

Neste cenário, o estrategista Guilherme Paiva aponta preferência por empresas de alta qualidade e com balanços sólidos, que devem ser capazes de suportar o período prolongado de incerteza política e fraqueza econômica. “Destacamos a Ambev, a Fibria, a Odontoprev e a Ultrapar”.

Eleições – do outsider a Lula

Em meio à nova bomba política, é difícil fazer projeções políticas para os próximos dias, quanto mais para o ano que vem. Porém, analistas políticos e bancos já estão vendo implicações importantes para as eleições presidenciais de 2018, como é o caso do Deutsche Bank. 

Em relatório, o economista-chefe do banco José Carlos Faria aponta que, como a reputação do sistema político do Brasil está severamente danificada, as chances de um político “outsider” ser eleito presidente aumenta. Em teoria, isso poderia aumentar ainda mais o impulso para candidatura do prefeito de São Paulo, João Doria, afirma o economista. 

“Apesar de Doria ser integrante do PSDB – que sofreu um grande golpe pelas alegações contra Aécio Neves – ele estava um pouco distante dos líderes do partido, tanto que não apareceu no programa oficial do partido divulgado na semana passada”, afirma o economista. Porém, ele ressalta: a enorme instabilidade política também tende a beneficiar o ex-presidente Lula. Isso porque, numa situação em que um grande número de políticos são vistos como corruptos, as acusações pendentes contra o ex-presidente perdem alguma relevância. Assim, a expectativa é de que o PT possa liderar um movimento exigindo eleições diretas imediatas para presidente.

“No entanto, uma vez que esta opção não está prevista pela Constituição e o PT não tem maioria no Congresso, Acreditamos que isso seria improvável”.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.