“Se tem motivo para bater panela, é agora”, diz Lula em discurso

"Se tem motivo para bater panela, é agora, como as reformas que o Temer está propondo", afirmou o ex-presidente em discurso durante o IV Congresso da Unas Heliópolis e Região

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Em tom ácido contra a atual gestão Michel Temer, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez discurso contrário às propostas de ajuste na economia ao público presente no IV Congresso da Unas Heliópolis e Região. Para o líder petista, é preciso que a população tenha consciência do momento pelo qual o país está passando para que erros antigos não sejam repetidos.

“Se tem motivo para bater panela, é agora, com as reformas que o Temer está propondo”, afirmou o ex-presidente. Poucos dias após o envio do texto que modifica as regras para a aposentadoria foi enviada pelo governo ao Congresso, Lula não poupou críticas: “Parece que quem escreveu a regulamentação do trabalho escravo redigiu a reforma da previdência”.

Em discurso que durou pouco menos de uma hora, o ex-presidente destacou a importância da implementação de uma agenda de políticas públicas voltada à parcela mais pobre da população e defendeu as ações implementadas ao longo de seus dois mandatos. “Tinha consciência de que era possível elevar o patamar do povo pobre deste país. Que era possível melhorar muitas coisas, dar cidadania às pessoas”, disse. “Os mais pobres não têm sindicato, não têm dinheiro para fazer protesto, ninguém que os representasse”.

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“O pobre deixou de ser problema para virar solução do país. Isso aconteceu quando incluímos o povo trabalhador e os mais pobres no Orçamento da União”, explicou Lula. “Essas pessoas sabiam que quando nascia seu filho, ele estava predestinado a ter ensino fundamental só. Este país só foi ter sua primeira universidade em 1922, 400 anos depois da descoberta. Estudava quem o pai podia mandar para Paris ou podia pagar. Eu tinha a obsessão de provar que o país podia ser diferente”, disse conforme postagens em sua conta no Twitter.

Durante a fala, o ex-presidente também voltou a atacar as maiores empresas de comunicação do país, acusando-as de serem responsáveis pelo acirramento das tensões políticas hoje experimentadas. “Divergência política, a gente debate, depois vai tomar cerveja. Mas eles criaram esse ódio. E quem ajudou a criar esse ódio? Os meios de comunicação, em especial a Rede Globo de Televisão”. Para o ex-presidente, há uma crescente desmoralização das instituições, com uma sensação de desconfiança nas instituições das mais diversas ordens.

Lula voltou a chamar atenção para a importância de se fazer o país voltar a crescer, mas criticou o modelo de política econômica adotado pelo governo Michel Temer. “Desde o início do meu mandato, fiz questão de exigir que o dinheiro da educação não fosse tratado como gasto, mas como investimento. Não podemos ficar vendo eles falando em corte, corte, corte, e o povo recebendo aumento menor que a inflação. Me recuso a acreditar”, afirmou.

“Eu fico até um pouco chateado com [Henrique] Meirelles (ministro da Fazenda, e ex-presidente do Banco Central durante seu governo), porque ele sabe como faz. Ele sabe que do jeito que ele está fazendo não vai consertar nada. Ele pode até agradar ao Bradesco, ao Citibank, ao Itaú, mas não vai consertar nada”.

“Agora, ele (Temer) quer mexer na Previdência. Pois bem: quero saber se ele vai ter a mesma coragem e equiparar a Previdência pública e privada. Quero ver se ele vai mexer na aposentadoria de procurador, de juiz, da advocacia-geral da União”, provocou.

Ao final, Lula lançou palavras de ordem: “nosso lema é ‘a luta continua’. Até a próxima, se Deus quiser. Esse povo ainda vai voltar a sentir orgulho de ser brasileiro”.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.