Se o rebaixamento de rating é iminente (e não ajudará Previdência), por que o mercado não está temeroso?

Mercado precifica novo rebaixamento e já está com os seus olhos voltados para um importante evento que acontecerá em 2018 

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A última semana do ano costuma ser de maior tranquilidade para os mercados – mas os derradeiros dias de 2017 podem reservar alguma surpresa para o Brasil. Aliás, nem tanta surpresa assim. Afinal, desde que a votação da reforma da Previdência foi adiada de dezembro para fevereiro, o alerta já foi acionado, em meio às sinalizações de que a nota soberana do Brasil pudesse ser rebaixada (novamente) pelas agências de classificação de risco. 

Na semana passada, o sinal vermelho foi ligado após notícias de que a agência de classificação de risco Standard & Poor’s – a primeira a colocar o Brasil abaixo do grau de investimento em setembro de 2015 -, teria avisado o ministro da Fazenda Henrique Meirelles que tomaria uma decisão de rating sobre o Brasil nesta semana (já que não toma essas decisões em ano eleitoral). Ou seja: nos próximos dias, a decisão sobre o rating, atualmente em BB com perspectiva negativa, deve chegar – e a expectativa majoritária é de que as notícias não sejam boas. 

“De um lado, a favor da estabilidade do rating, temos a retomada do crescimento e a redução da taxa de juros, que melhoram a dinâmica da dívida pública federal. Por outro lado, o adiamento da reforma da previdência Social é o principal fator que pode causar um rebaixamento de nosso rating”, avalia a equipe de análise da LCA Consultores. 

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A ampla maioria do mercado espera por um rebaixamento de rating. Se, por um lado, a notícia é negativa, por outro, essa ameaça poderia ser usada para reforçar o discurso para a aprovação da reforma. Contudo, haveria um alcance limitado em usar essa estratégia, conforme destacou o diretor superintendente da consultoria Barral M. Jorge, Wagner Parente, em entrevista ao InfoMoney

“Talvez haja um aumento da mobilização do empresariado, inclusive de setores que ainda não se posicionaram, mas é difícil prever a reação da população em geral”, afirmou. Isso porque, avalia, os ratings não costumam ter muito apelo na opinião pública e sem um impacto direto na vida das pessoas. 

“Não parece também haver tendência para uma fuga de dólares, o que poderia gerar uma valorização da moeda americana. Isso poderia levar à uma crise cambial e com impacto direto na população, mas é pouco provável que isso ocorra. O efeito mais imediato é mesmo no crédito concedido às empresas brasileiras que tomam dinheiro fora do Brasil. O custo dessa captação pode aumentar no curto prazo”, avalia Parente.

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Assim, em sua avaliação, ele não avalia que uma pressão maior das agências de rating possa prejudicar a votação – mas também não deve gerar um efeito na população que promova mais apoio a mudança na previdência.

Desta forma, os analistas políticos veem chance sim de aprovação da reforma, mas as probabilidades estão mais dirimidas, pelo fato de ser um ano eleitoral e o atual governo ser muito impopular devendo prevalecer em relação a esse argumento sobre o rating. A consultoria de risco político Eurasia Group, por exemplo, reduziu as chances de aprovação da reforma de 40% para 30% e destacou um ponto que pode ser melhorado pelo governo para conquistar mais votos: ter o maior apoio popular para reforma. Assim, a estratégia de comunicação do governo sobre as mudanças propostas, apesar da melhora, tem que registrar ainda mais avanços para que os deputados aliados do governo votem a favor da reforma.

Mas por que o mercado não está vendo com tanto temor uma possibilidade de rebaixamento de rating nesta semana? Desde que a notícia sobre a S&P iria divulgar sua decisão de rating na semana que vem, o Ibovespa registra ganhos.

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Há alguns motivos para isso: em entrevista para a Bloomberg, Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Modal Asset, apontou que o rebaixamento está dentro do pacote. “A surpresa será não ter. A S&P deixou bem claro que se não tivesse votação da reforma da Previdência, teria rebaixamento”. Ou seja, o mercado já parece precificar esse cenário. E, como o Brasil já está abaixo do grau de investimento, um novo corte de rating tem um impacto menor do que, se por exemplo, fosse mudada a categoria de “investment grade” para “junk”, como ocorreu em 2015.  “Se o rebaixamento ocorrer, mercado pode ter pressão, mas nada extraordinário”, disse Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do CA Indosuez, à agência. 

Além disso, os olhos já estão voltados para o dia 24 de janeiro, quando haverá o julgamento em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Operação Lava Jato e que pode trazer uma reação otimista do mercado a depender do resultado. Afinal, o petista é o “grande temor dos investidores” para 2018 – assim, a possibilidade de que ele se torne “ficha-suja” e não possa concorrer às eleições do ano que vem ganha forças caso ele seja condenado pelo Tribunal Regional Federal de Porto Alegre. Desta forma, o mercado já volta suas atenções para 2018 – a despeito da grande possibilidade de um fim melancólico para 2017 com um rebaixamento de rating. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.