Saída de Mercadante da Casa Civil pode esfriar impeachment de Dilma

Fiel escudeiro de Dilma, o ministro perdeu forças nos bastidores após sucessivos enfrentamentos com lideranças ligadas a Lula, novas inimizades com aliados no Congresso e até na Esplanada

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Apontado como um dos maiores culpados pela difícil relação que o governo tem com o Congresso e pelos sucessivos erros da atual gestão no campo da articulação política, Aloizio Mercadante pode deixar a Casa Civil, conforme noticiam os principais jornais do país nesta quarta-feira (30). A hipótese mais aceita hoje é que o ministro assumiria a pasta da Educação, posto ocupado pelo professor Renato Janine Ribeiro, enquanto Jacques Wagner – hoje na Defesa – entraria na vaga deixada por Mercadante. Com isso, a ala mais próxima ao ex-presidente Lula ganharia espaço no novo ministério da presidente Dilma Rousseff. A dobradinha Ricardo Berzoini (que deve assumir o posto de articulador de fato, deixando as Comunicações para o PDT)-Jacques Wagner agrada políticos lulistas. As informações ainda não foram confirmadas oficialmente, mas a saída de Mercadante já é dada quase como certa.

Mercadante fora da coordenação política poderia significar, na visão de muita gente no mercado, uma melhora no ambiente político. Hoje, ele é figura queimada no Congresso, conhecido pela arrogância, intransigência e prepotência. “Política é negociação. As coisas não podem ser feitas de cima para baixo para construção de acordos com deputados”, diagnosticou um parlamentar de um incomodado partido que tem ensaiado voo fora da base governista. Em primeiro lugar, uma saída de Mercadante poderia indicar um reconhecimento da presidente Dilma Rousseff sobre possíveis falhas na articulação política e a necessidade de revitalização no comando da função.

Para o analista político e professor das Faculdades Integradas Rio Branco, Facamp (Faculdades de Campinas) e ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) Pedro Costa Júnior, Mercadante perdeu forças nos bastidores após sucessivos enfrentamentos com lideranças ligadas a Lula, novas inimizades com aliados no Congresso e até na Esplanada. O atual ministro da Casa Civil é apontado como um dos responsáveis pela estratégia equivocada de apoio à candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a presidência da Câmara em uma tentativa de derrotar Eduardo Cunha (PMDB-RJ), além dos estímulos a perda de espaço do PMDB no governo para trazer novas alternativas, como o PSD e a nova sigla que o ministro das Cidades e ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, planeja criar – o PL, cuja intenção era fazer frente à principal sigla da governabilidade.

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“A mensagem era que Dilma poderia andar com as próprias pernas. A articulação política hoje é completamente defasada”, disse Costa Júnior. Para ele, caso esse cenário do ministro sacado da Casa Civil e toda a reforma ministerial saia do papel em prol de um aceno maior ao PMDB, o professor espera uma perda de espaço ainda maior de Dilma em sua gestão, com a contrapartida de uma sobrevida para sua governabilidade. Ou seja: o governo acaba ganhando um pouco mais de segurança – ainda não se sabe quanto disso se confirmaria -, mas a presidente cederia parte da centralidade que assumiu. De qualquer forma, o especialista deixa evidente sua expectativa poucas soluções no longo prazo. “Não vai ser isso que vai salvar o governo. Está quase o lema do Tiririca, mas dá para ficar pior. A primeira coisa que precisa fazer quando se chega ao fundo do poço é parar de cavar. Dilma está conseguindo colecionar uma gama de desafetos. A oposição não para de crescer. Tem muita gente passando para o lado oposto do balcão”, disse. No entanto, Costa Júnior lembra que qualquer movimentação que envolva Mercadante é muito delicada, já que Dilma não pode perder um de seus poucos fiéis escudeiros.

Dilma não tem o perfil de dispensar pessoas de sua confiança e que foram importantes anteriormente, avalia o analista político da consultoria Arko Advice Carlos Eduardo Borenstein. Ele reforça que o atual comandante da Casa Civil, que deverá ser substituído por Jacques Wagner, está com uma série de inimigos internos. Para ele, a entrada do ex-presidente do PT e deputado Ricardo Berzoini (hoje, na Comunicação) no comando do diálogo com o Congresso pode ser benéfica para o governo. “Ele tem uma habilidade de articulação bem maior”, observou. A percepção é que, com a entrega de mais pastas ao PMDB e o reforço de uma base mais sólida no campo duro da política tendem a garantir um apoio maior à presidente e esfriar os riscos de impeachment – ao menos neste momento.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.