Saída de Agnelli: na pauta do mercado desde atritos com governo em 2008

Presidente da mineradora há 10 anos se indispôs com Governo durante a crise e agora saída é dada como certa pelo mercado

Tainara Machado

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SÃO PAULO – Após anos de lua-de-mel entre o governo de Luis Inácio Lula da Silva e o presidente da Vale (VALE3, VALE5), Roger Agnelli, as relações deterioram-se com a crise financeira global em 2008, quando a mineradora demitiu cerca de 1.300 funcionários para enfrentar a diminuição no ritmo de atividade global e, consequentemente, menor demanda por minério de ferro. 

Na mesma época, a mineradora desistiu do projeto siderúrgico do Pólo Anchieta, em parceria com a Baosteel. Ainda antes do episódio, Lula já havia algumas vezes mencionado publicamente que a mineradora precisava investir mais no Brasil e em produtos de maior valor agregado, ao invés de apenas exportar matéria bruta para países como a China. 

Então, especulou-se que Roger Agnelli não duraria no cargo, por causa das diferenças criadas com o governo, mas o ruído acabou se afastando da mídia com a recuperação econômica rápida mostrada tanto pela China quanto pelo Brasil, que deram novo vigor ao mercado de minério de ferro. Ainda assim, a percepção de que as relações ficaram estremecidas não se esvaiu. 

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Volatilidade com eleições
Com a realização de eleições presidenciais no País em 2010, a mineradora voltou a ser citada como possível alvo de ingerência política em um eventual governo Dilma Rousseff. Em meados de setembro, colunistas indicavam até mesmo que Guido Mantega, na época já ministro da Fazenda, poderia assumir a presidência da Vale. 

Embora seja um empresa privada com ações listadas em Bolsa, o governo guarda influência na Vale dos tempos em que a companhia ainda era estatal. Além de 5,4% de participação na empresa por meio do BNDESPar, braço de participações do banco de fomento, o Governo Federal tem ainda 12 golden shares na companhia, ações que oferecem poderes especiais, como vetar a liquidação da empresa. No entanto, a Vale é controlada pela Valepar, entidade privada que tem entre seus acionistas a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) e a Bradespar (BRAP4).

Cobranças
Em janeiro deste ano, os rumores voltaram a circular no mercado. Uma matéria do Valor Econômico afirmou que Agnelli poderia ser retirado da presidência da Vale, depois de ficar cerca de dez anos à frente das operações da mineradora. De acordo com a reportagem, os sócios acreditariam que o ciclo do executivo na empresa já havia se esgotado e estariam em busca de um substituto gabaritado na área, mas sem influências políticas na decisão.

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Por meio de nota, a empresa afirmou naquele momento que a substituição de Roger Agnelli não estava em discussão entre os acionistas controladores. Foi nas últimas semanas, no entanto, que o mercado passou a trabalhar com a possibilidade concreta de saída de Roger Agnelli do comando da Vale, com o aumento das especulações na imprensa sobre a queda do executivo, que estaria sendo articulada pelo governo por Guido Mantega.

As indicações começaram a partir da notícia, publicada em 9 de março, de que o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) estaria cobrando da Vale multa de até R$ 4 bilhões por royalties não pagos. 

A notícia foi rapidamente lida como sinal de que o governo iria tornar mais difícil a vida da mineradora e as ações passaram a perder valor, e os papéis preferenciais caíram mais de 5% desde então. Em meados de março, o mercado passou a trabalhar com a possibilidade de que Antônio Maciel Neto, atualmente presidente da Suzano (SUZB5), pudesse vir a ocupar o cargo de Agnelli. Na época, afirmou-se que a preocupação da presidente Dilma Rousseff era de não deixar que os interesses políticos causassem qualquer tipo de turbulência no mercado, para não impactar as ações da mineradora.

Acordo entre Mantega e Bradesco
No entanto, no dia 22 de março, matéria publicada pelo Estado de São Paulo afirmou que Mantega e o presidente do Conselho de Administração do Bradesco (BBDC4), Lázaro Brandão, encontraram-se no dia 18. Na ocasião, teria sido oficializada a intenção do atual governo em destituir Agnelli e dar início a negociações em torno de um nome para substituí-lo.

Mantega procurou Brandão porque o Bradesco, por meio de seu braço de participações, a Bradespar, é um dos principais acionistas da mineradora. Com a notícia, empregados e diretores da companhia ameaçaram deixar seus cargos. Diante de noticiário repleto de indicações de ingerência do governo na mineradora, a Câmara dos Deputados aprovou um convite ao ministro da Fazenda para “esclarecimentos quanto a eventual interferência do governo na Vale ”.

Na última sexta-feira, o Bradesco teria aceitado a decisão dos outros acionistas da companhia. A substituição, de acordo com informação da coluna de Ancelmo Gois, do jornal O Globo, se daria por alguém que já faz parte dos quadros da empresa.

Adaptações
Mais cedo, naquela mesma sexta, o próprio executivo havia se manifestado. Em nota aos acionistas, Agnelli declarou não ter qualquer envolvimento com questões políticas que envolvam a escolha do diretor-presidente da mineradora, e que a decisão compete “exclusivamente aos acionistas controladores da empresa”. 

Desde então, pipocaram possíveis nomes. O mais cotado, neste momento, é o de Tito Botelho Martins, presidente da Inco, subsidiária canadense da Vale. Segundo matéria da Folha de S.Paulo, o executivo será indicado pelo Bradesco até sexta-feira (1). Em nota, o Bradesco declarou improcedentes as informações.

O apetite do governo, no entanto, poderá não ficar restrito à Presidência da Vale. De acordo com reportagem do Estado de São Paulo, Mantega estaria articulando também alçar Nelson Barbosa, secretário executivo do Ministério da Fazenda, à presidência do Conselho de Administração da Vale. Em um acordo tácito, o cargo em geral cabe ao presidente da Previ, que no momento é Ricardo Flores. 

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