Risco do Brasil é menor que o dos EUA? Para economistas, não é bem assim

Discurso de Mantega foi exagerado e análise deve levar em contar aspectos específicos; Fed ainda tem dólar como trunfo

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SÃO PAULO – O risco Brasil é menor do que o dos EUA pela primeira vez na história. Foi isso que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta terça-feira (15), baseado na queda do CDS (Credit Default Swap) do País de 49 pontos-base para 42 pontos-base. Mas será que esse é um indicador tão relevante assim para afirmar que o risco do Brasil é de fato menor que o dos EUA?

O CDS é um derivativo, uma proteção que se faz quando se teme o futuro, ou seja, quando o investidor acredita que pode se prejudicar em virtude de algum evento futuro. Assim, o CDS funciona como uma proteção para um possível não pagamento da dívida de curto prazo, de modo que, quanto maior for seu valor, maior é o risco de aquele país não cumprir suas obrigações, ou seja, de dar o calote.

Exagerado
Para Leandro Ruschel, diretor da Leandro Stormer, a fala de Mantega foi exagerada. “CDS não é avaliação de risco. É um derivativo de balcão, tem muita volatilidade e não pode servir de padrão”, afirma Ruschel. Ele ainda acrescenta que há uma série de desafios teóricos para se definir o risco da dívida. “Mantega está simplificando muito”, coloca.  

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José Goés, analista e economista da WinTrade, também concorda que não faz muito sentido avaliar o risco de um país apenas olhando o CDS de 1 ano. Além disso, no prazo de cinco anos, esse custo continua sendo muito maior para o Brasil. Na véspera, o CDS brasileiro de cinco anos estava em 108 pontos-base, contra apenas 38 pontos-base no caso norte-americano.

Goés explica que, o que se pode dizer do Brasil é que os indicadores econômicos estão vindo melhores do que os dos EUA. “Nosso déficit público é menor do que o deles, isso é algo relevante”, afirma. Porém, por outro lado, os juros elevados por aqui fazem com que o cenário da dívida não seja tão favorável para o Brasil no longo prazo, ainda mais quando se compara com os juros baixos praticados nos EUA.

Calote nos EUA é improvável…
Quanto à probabilidade de um calote nos EUA, Ruschel e Góes concordam que é algo improvável. “A base do mundo ainda é o dólar e o Fed está trocando títulos da dívida por dólar, não deve haver um calote”, afirma o sócio da Leandro Stormer. O economista da WinTrade acrescenta lembrando o fato de que o Fed emite a moeda de reserva mundial, o que ainda tem grande importância.

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Além disso, ambos concordam que as pendências políticas no país devem ser deixadas de lado por um momento e, logo, haverá um acordo no Congresso para elevar o nível de endividamento. 

Em entrevista ao programa Money Talks, da InfoMoney, por exemplo, o economista-chefe do banco UBS, Paul Donovan, afirmou que “o Reino Unido e os EUA serão sempre países AAA, a despeito do que digam as agências de rating, pois eles podem imprimir seu próprio dinheiro”.

… mas se houvesse, seria catastrófico
Ruschel afirma que se ocorresse um calote no curto prazo, os efeitos seriam caóticos para o Brasil e para o mundo. Góes também reitera que se isso ocorresse, as economias que ainda estão patinando para se recuperar da crise de 2008, ficariam ainda mais afetadas, tornando a recuperação muito mais difícil.

“Os títulos do Tesouro Americano são o ativo mais importante do mundo. É claro que o impacto seria catastrófico para todo mundo”, afirma Góes.

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