Retomada econômica traz boas perspectivas ao setor de mineração em 2010

Além do crescimento chinês, atenção ao câmbio e às mudanças regulatórias; analistas elegem papéis da Vale como preferidos

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SÃO PAULO – Até a crise financeira alastrar-se sobre a economia global, o setor de mineração marcava presença constante na lista de preferidos dos analistas. Mas o contágio não demorou muito para ocorrer, minando um otimismo que parecia inabalável.

Com um quadro de recessão instalado, o cenário à indústria mineradora mundial em 2009 parecia desafiador. De fato foi. O setor – assim como outros de caráter cíclico, também altamente expostos às turbulências econômicas – foi um dos mais penalizados, especialmente no segmento de minério de ferro, cujo consumo viu-se significativamente decrescido.

No entanto, poderia ter sido pior, não fosse a retomada das economias emergentes, dentre as quais a que mais se evidencia é, sem dúvida, a da China. “Graças ao seu programa de estímulo fiscal, o país recuperou rapidamente sua produção siderúrgica”, observam os analistas da Fator Corretora.

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O ano de 2009 também foi histórico ao setor por ter desafiado a continuidade do sistema benchmark de negociação de preços do minério de ferro – até agora, o impasse permanece em aberto. Outro destaque fica com as discussões para reforma do sistema regulatório do setor, que devem tomar corpo nos próximos meses.

Desta forma, o investidor interessado no setor de mineração tem muito que atentar neste novo ano que se aproxima. As perspectivas dos analistas para os principais fatores você confere abaixo.

A. Fatores macroeconômicos

I – O fator China
Falar de perspectivas à indústria mineradora é falar sobre a China. Não é de hoje que o país sustenta o setor com suas taxas de crescimento de dois dígitos, ano após ano. Embora a economia chinesa tenha, sim, sentido os efeitos da crise no primeiro semestre do ano, logo retomou sua trajetória ascendente. Para 2010, o país continua desfrutando de perspectivas otimistas.

“Acredito que a China deva continuar crescendo a dois dígitos e prevejo uma expansão de até 15% em sua produção siderúrgica”, afirma Gilberto Cardoso, analista do setor de mineração do Banif. A equipe da Brascan Corretora compartilha a visão de Cardoso, ressaltando a queda nos estoques de minério de ferro nos portos chineses desde setembro.

A despeito das intenções do governo chinês de estimular a produção doméstica de minérios do país, os analistas da Fator não acreditam em um declínio das importações. “O minério estrangeiro é de maior qualidade”, explicam. Opinião semelhante à de Cardoso.

“A indústria siderúrgica chinesa vem passando por um processo de busca de maior produtividade, inaugurando plantas mais modernas no litoral e fechando usinas mais poluidoras e antigas no interior. Desta forma, aposto em um aumento das importações do minério de ferro, já que eles precisam de um produto de alta qualidade”, esclarece Cardoso.

I – O restante do mundo
Embora a economia chinesa seja a grande propulsora da indústria de mineração, os EUA mantêm sua importância bruta no mercado. Com o país ressurgindo do quadro recessivo em que estava mergulhado até pouco tempo, a perspectiva do Fator é de que as exportações de minério ao país registrem trajetória de crescimento em 2010. “Prevejo uma recuperação do mercado norte-americano, mas sem assumir para si um posto de grande driver no setor”, afirma, por sua vez, Geraldo Cardoso.

Enquanto isto, na Europa e no Japão, “há evidências de que o processo de reestocagem está em curso, mas elas não devem contribuir de forma significativa para o aumento da demanda por minério de ferro”, prevêem os analistas da Fator.

B. Fatores domésticos

I – Mudanças regulatórias
Há alguns meses as discussões sobre uma grande reforma no ambiente regulatório da indústria mineradora brasileira já vêm tomando corpo em Brasília e despertando a atenção dos analistas no resto do País. Entre as diversas mudanças sugeridas, estão a diminuição do tempo das concessões de exploração e a realização de leilões para minas consideradas estratégicas pelo governo.

De forma geral, os analistas do Bradesco acreditam que o principal impacto de tais mudanças ensejadas deva ser uma elevação dos investimentos por parte das companhias mineradoras, tanto por um aumento da competição quanto pelo temor de perder suas concessões.

Um possível aumento da cobrança de royalties também vem sendo discutido, assim como uma elevação na taxa de exportação dos minérios. Na visão da Fator, ambos são prejudiciais às mineradoras. “Entretanto, a falta de propostas concretas dificulta a mensuração de seu real impacto”, ponderam os analistas.

Cardoso concorda: “o ambiente ainda é muito nebuloso para formarmos análises sólidas”.

II – O impacto do câmbio
Todo grande setor exportador da economia brasileira é, de uma forma ou de outra, exposto ao mercado de câmbio. Assim, tentar prever o comportamento da moeda brasileira em 2010 é tarefa inerente a qualquer construção de perspectivas para o setor minerador no ano que vem.

Para Geraldo Cardoso, é possível que leve influência ascendente seja constatada na trajetória do dólar em 2010, entre medidas do governo, como a cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre a entrada de capital no País, e certa tensão sobre as eleições presidenciais.

“É claro que um câmbio um pouco mais valorizado deve exercer certo impacto negativo sobre os resultados das nossas grandes exportadoras mineradoras”, alerta Cardoso.

C. Fatores específicos
O frete marítimo é um dos componentes mais importantes na determinação do preço do minério de ferro mundial e, consequentemente, da atratividade do minério brasileiro frente ao minério australiano, uma vez que o transporte do produto do Brasil à China é significativamente mais caro tendo em vista a distância geográfica entre os dois países.

A Vale anunciou recentemente diversos investimentos no mercado de frete para garantir um preço competitivo de seu minério frente ao minério da BHP Billiton e da Rio Tinto, mas efeitos mais expressivos de tais medidas ainda estão para serem observados. Antes disso, um possível desfecho às negociações de formação de preço pode ser observado, como prevê Cardoso.

“As negociações devem se mostrar mais indicativas em breve, influenciando positivamente as ações do setor já a partir de janeiro do ano que vem”, afirma o analista do Banif, cuja projeção para o preço do minério de ferro em 2010 baseia-se em um aumento em torno de 15%.

D. Apostando no setor
“Mantemos nossa visão otimista para o setor. As mineradoras estão trabalhando perto dos seus limites de produção e não há perspectivas de aumento significativo de oferta nos próximos dois anos”, afirma a Brascan, em visão semelhante à adotada também por Gilberto Cardoso e pela equipe da Fator.

Aos interessados, os papéis da Vale (VALE5, VALE3) são os preferidos pelos analistas. A Fator prevê receita e margens operacionais maiores, enquanto Cardoso elogia sua geração de caixa e sua posição de liderança mundial no mercado de minério de ferro.

A MMX Mineração (MMXM3) é outra empresa bem vista pelos analistas, tanto por seu potencial de crescimento quanto pela gerência administrativa. No entanto, Cardoso alerta: “a MMX ainda passa por um processo de reestruturação de capital e pede atenção”.

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