Reeleição de Bush: entenda quais os possíveis impactos para a economia brasileira

Definições sobre política cambial, fiscal e monetária tendem a influenciar bastante a evolução da economia brasileira

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SÃO PAULO – Um fato que certamente não passou despercebido na semana passada foi a decisão sobre quem irá ficar à frente da Casa Branca nos próximos quatro anos. Neste sentido, um número recorde de norte-americanos compareceu às urnas para decidir quem levaria a melhor na disputa pela presidência dos Estados Unidos: o republicano e atual presidente George W. Bush ou o senador democrata John Kerry.

Após uma eleição bastante acirrada, em que as principais pesquisas do país mostravam empate entre os dois candidatos, o tão esperado resultado das urnas mostrou vitória de Bush. E ao contrário do que ocorreu em 2000, quando Bush foi eleito pela primeira vez presidente dos EUA, em uma disputa com o democrata Al-Gore, pela maioria no Colégio Eleitoral, mas não tendo maioria no voto popular, este ano ele ganhou tanto no Colégio Eleitoral quanto no voto popular.

O resultado da corrida pela Casa Branca foi bem recebido pelo mercado financeiro como um todo, já que se espera que, em seu segundo mandato, Bush dê continuidade às suas políticas “pró mundo dos negócios”. Mas, e para o Brasil, o que significa esta reeleição de George W. Bush? Que impactos a vitória do republicano na disputa pela Casa Branca pode ter para a economia brasileira?

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Vitória de Bush é melhor do ponto de vista comercial

É inegável que, em função da grande importância da economia norte-americana para o resto do mundo, a orientação dada à política econômica dos Estados Unidos tem ampla repercussão nos mais diversos países. E com o Brasil não poderia ser diferente, uma vez que os Estados Unidos são um grande parceiro comercial do país. Além disso, dada a sua representatividade no mercado financeiro global, alterações na política econômica norte-americana podem afetar o mercado brasileiro.

O primeiro ponto de nossa análise refere-se à questão do comércio entre Estados Unidos e Brasil. Uma constatação de muitos analistas é que, sob uma perspectiva histórica, os democratas tendem a ser muito mais protecionistas que os republicanos. O que isto significa? Bom, isto quer dizer, basicamente, que os democratas tendem a colocar mais restrições para a entrada de produtos estrangeiros nos Estados Unidos, de forma a favorecer os produtores locais.

Olhando-se por esta perspectiva, uma suposta vitória de John Kerry poderia representar maiores obstáculos para a entrada de produtos brasileiros no mercado norte-americano. Por outro lado, a vitória de Bush deve, se não favorecer, pelo menos não atrapalhar a inserção dos produtos brasileiros no mercado norte-americano, o que se tratando de relações comerciais entre os países já é grande coisa. Além disso, Bush, em recente telefone a Lula, mostrou-se disposto em incentivar as relações comerciais Brasil-EUA.

A política cambial dos EUA e seus efeitos sobre o Brasil

Se a vitória de Bush traz a perspectiva de que pode haver uma maior aproximação comercial entre Estados Unidos e Brasil, o que dizer então em relação aos efeitos da política cambial norte-americana sobre as exportações brasileiras para o país? Bom, recentemente o dólar tem apresentando uma trajetória de queda na comparação com outras moedas internacionais inclusive o real, com a cautela dos investidores quanto aos déficits gêmeos dos EUA.

É que a vitória de Bush amplia mais as incertezas do mercado quanto à evolução do déficit fiscal e de transações correntes dos EUA – os chamados déficits gêmeos -, já que durante seu primeiro mandato houve uma forte elevação em ambos. E o mais grave problema: o discurso de Bush parece que não vem convencendo nem investidores nem analistas, de forma que o dólar segue em sua trajetória de enfraquecimento no mercado externo.

Para economias como o Brasil e União Européia, esta queda do dólar é bastante prejudicial, já que reduz a competitividade dos produtos destes países no mercado norte-americano. Ou seja, é de interesse também destes países que o presidente reeleito George W. Bush retome a sua política do “dólar forte”, o que somente será possível com uma melhora estrutural da economia norte-americana, via reaquecimento econômico e minimização dos déficits.

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Discutindo a política monetária do Fed

E como não poderia deixar de ser, o equilíbrio fiscal do país depende, dentre outras variáveis, da política monetária adotada pelo Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos. Atualmente, o Fed vem promovendo uma série de elevações graduais na taxa básica de juro dos Estados Unidos, que se encontra no patamar de 1,75% ao ano. Um maior aperto monetário, no sentido de conter pressões inflacionárias, por exemplo, poderia ser bastante prejudicial à economia brasileira.

É que se os Fed Funds subirem em uma trajetória acelerada, pode ocorrer uma fuga de capitais dos países emergentes, como o Brasil, já que muitos investidores deverão procurar ativos mais seguros e com maior rentabilidade, como é o caso dos títulos norte-americanos. Entretanto, isto não deve acontecer, já que o governo norte-americano segue preocupado com a evolução da economia local, o que deve ser, dessa maneira, um bom argumento para a manutenção do gradualismo.

Além disso, a política do “dólar forte”, mencionada anteriormente, requer uma postura mais comedida no que se refere ao aumento do juro norte-americano. Percebe-se, dessa maneira, que a economia brasileira tende a ser bastante influenciada pelo andamento da política econômica norte-americana, especialmente no que diz respeito às políticas fiscal, monetária e cambial daquele país, mais uma vez sob o comando de George W. Bush.