Recepção fria e constrangida na volta ao Senado indicam futuro político de Aécio Neves

Em um breve discurso, o parlamentar mineiro disse que retornava ao mandato "sem ódio nem rancor" e que teria sido "vítima de uma ardilosa armação", mas evitou holofotes

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Após 21 dias afastado do mandato, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) reassumiu suas funções parlamentares na última quarta-feira (18). Apesar de fazer questão de entrar pela porta da frente do Congresso Nacional, em contraste com a rotina diária de entrar para o gabinete pelo Anexo I do Senado, o tucano teve um retorno tímido, com poucos gestos de acolhimento por parte de seus pares. O parlamentar entrou no plenário quando a sessão já estava em curso e evitou holofotes, mas logo pediu a palavra ao presidente Eunício Oliveira (PMDB-CE).

Em um breve discurso, o parlamentar mineiro disse que retornava ao mandato “sem ódio nem rancor” e que teria sido “vítima de uma ardilosa armação”. Ele criticou os termos do acordo de colaboração premiada firmado com executivos da JBS e aproveitou para atacar a gestão anterior da Procuradoria-Geral da República, capitaneada por Rodrigo Janot.

Ao contrário do que foi visto na volta de seu primeiro afastamento, Aécio evitou a tribuna e discursou em um dos microfones centrais. Nenhum colega pediu aparte e pouca movimentação foi observada. Ao final do pronunciamento, sentou-se próximo aos companheiros Tasso Jereissati (PSDB-CE), presidente interino do partido que agora pede que o mineiro renuncie ao posto de liderança na legenda, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e Antônio Anastasia (PSDB-MG).

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Na saída do plenário, questionado por jornalistas sobre as cobranças para deixar a presidência do PSDB, o senador disse que não tratava dessas questões pela imprensa e rumou para reunião da bancada, onde sofreria nova pressão para renunciar ao posto de comando.

Os episódios da tarde de ontem mostram que Aécio Neves, apesar de ter recuperado o mandato, não conseguirá ter a relevância que teve em outros momentos. Embora continue sendo importante aliado do presidente Michel Temer — ontem mesmo entregou votos importantes da bancada mineira tucana na CCJ da Câmara pela recusa da denúncia apresentada por Janot contra o peemedebista –, já não tem mais asas para planejar voos mais altos. Sem contar que ainda tem diversos inquéritos a responder.

Confira a íntegra do breve discurso de Aécio Neves em plenário:

O SR. AÉCIO NEVES (Bloco Social Democrata/PSDB – MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu reassumo hoje meu mandato nesta Casa, mandato que me foi conferido pela vontade de mais de 7 milhões de mineiros; mandato que continuarei a honrar como sempre honrei todos os que recebi ao longo de 31 anos consecutivos de mandatos eletivos e quase 40 anos de vida pública. Faço isso, Sr. Presidente, em razão de decisão soberana tomada ontem por esta Casa, pela maioria absoluta dos seus membros, em respeito à Constituição, à independência e à harmonia entre os Poderes. Saúdo, portanto, cada Sr. Senador e Senadora que tiveram a compreensão da importância daquele voto.
Sr. Presidente, será no exercício do meu mandato que irei me defender das acusações absurdas, falsas de que tenho sido alvo. Sou, Sr. Presidente, devo dizer neste instante, vítima de uma ardilosa armação, uma criminosa armação perpetrada por empresários inescrupulosos que se enriqueceram às custas do serviço público e não tiveram qualquer constrangimento em acusar pessoas de bem na busca dos benefícios de uma inaceitável delação, ora suspensa, em razão de parte da verdade estar vindo à tona, Sr. Presidente.
Mas o que é mais grave: corroboraram, contribuíram para essa trama ardilosa homens de Estado, notadamente alguns que tinham assento, até muito pouco tempo, na Procuradoria-Geral da República. Novos depoimentos, delações, gravações que haviam sido omitidas vão dando um contorno claro às razões que levaram àquela construção, repito, criminosa da qual fui vítima.
Portanto, Sr. Presidente, no exercício deste mandato, irei trabalhar a cada dia e a cada instante para provar a minha inocência. Fui, sim, alvo, Sr. Presidente, dos mais vis e graves ataques nos últimos dias, mas não retorno a esta Casa com rancor ou com ódio. Venho acompanhado da serenidade dos homens de bem, daqueles que conhecem a sua própria história. E a minha história, Sr. Presidente, é honrada, é digna, é de dedicação ao longo de quase 40 anos aos mineiros e ao Brasil.
Estarei, portanto – e encerro, Sr. Presidente –, pronto, como sempre estive, para o debate franco sobre os mais diversos temas de interesse do País. E, da minha parte, sempre de forma respeitosa.
Muito obrigado, Sr. Presidente.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.