Rebaixamento já está no preço de ativos – mas Brasil deve seguir com grau de investimento

Segundo a LCA, a demora nas definições em relação à equipe ministerial e à política econômica no segundo mandato de Dilma vem frustrando a expectativa - mas nota deve ser preservada

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O aumento recente do diferencial de risco do Brasil em relação a outros emergentes parece indicar que um eventual rebaixamento do rating soberano já está em boa medida contemplado nos preços de ativos. Contudo, avaliam os consultores, mesmo com a nota sendo ameaçada, ela deve ser preservada. Assim, segundo a LCA Consultores, a indicação de uma equipe econômica que agrade os mercados poderia gerar alguma descompressão. 

Segundo a LCA, a demora nas definições em relação à equipe ministerial e à política econômica no segundo mandato de Dilma vem frustrando a expectativa de que, passado o conturbado período eleitoral, os mercados domésticos pudessem atravessar um gradual processo de “desintoxicação”. Isso envolveria uma diminuição da volatilidade cambial e a interrupção e posterior reversão da trajetória de deterioração da confiança dos consumidores e corporativa.

Embora elementos externos – como o fortalecimento mundial do dólar – estejam contribuindo para acentuar a volatilidade e as tensões nos mercados cambiais, a LCA ressalta que são os fatores internos que claramente continuam a exercer maior influência sobre a evolução dos mercados de ativos domésticos.

O quadro político, avalia a consultoria, ainda é conturbado em meio aos conflitos com a base aliada e os desenvolvimentos da Operação Lava Jato, elementos estes a desafiar a governabilidade na sequência do mandato da presidente Dilma.

Assim, afirma a LCA, são os desenvolvimentos econômicos internos que, de fato, parecem vir pesando mais significativamente sobre o desempenho dos ativos domésticos. “Com efeito, a evolução de vários fundamentos tem gerado crescente preocupação. A deterioração das contas fiscais é o elemento que vem sendo apontado como mais preocupante: o nosso déficit nominal está beirando expressivos 5% do PIB; e a razão entre a dívida do setor público (tanto líquida como bruta) e o PIB claramente inverteu sua tendência de redução”, afirma.

Além disso, outro elemento para gerar preocupação é a piora das contas externas. “Embora as condições de solvência externa continuem confortáveis, uma vez que somos credores externos líquidos e dispomos de relevante colchão de reservas cambiais, o aumento do déficit em conta corrente para relevantes 3,7% do PIB é motivo de alerta. Ademais, vale registrar que a posição vendida do Banco Central no mercado futuro de câmbio. Ou seja: se, ao invés de atuar no mercado de derivativos, através da venda de swaps, a autoridade monetária preferisse combater a pressão cambial com a venda de moeda no mercado à vista, ela teria “queimado” mais de 25% das reservas cambiais”, afirma. 

Além da deterioração fiscal e da piora das contas externas, a inflação elevada também é vista como um termômetro dos desequilíbrios macroeconômicos, ressaltam os consultores. 

Nota ameaçada, mas preservada
A preocupação com o quadro político e com a evolução do cenário econômico leva os mercados a perceber um aumento do risco de que a nossa nota de crédito soberano venha a sofrer um novo rebaixamento – evento adverso que nos devolveria à desconfortável condição de grau especulativo, ressalta a LCA. 

O descolamento da taxa de risco do Brasil em relação aos emergentes reflete isso, assim como a alta recente do dólar de R$ 2,40 no fim das eleições para R$ 2,60. Contudo, a LCA não espera um rebaixamento do rating. 

“Nosso cenário base pressupõe que a nota de crédito brasileira permanecerá mais algum tempo ameaçada de rebaixamento, mas acabará por ser preservada. Essa hipótese relativamente benigna está amparada na perspectiva de que a indicação de uma equipe econômica que tranquilize os mercados poderia gerar algum alívio no curto prazo; e que os ajustes na condução da política econômica, sobretudo na seara fiscal, que serão anunciados pela nova equipe contribuirão para, ao menos, estancar a deterioração daqueles fundamentos econômicos listados acima”, afirma. 

Contudo, parece vir crescendo o risco de que a conjuntura (política e econômica) desvie para uma trajetória mais adversa do que a observada no cenário base da consultoria. Porém, o cenário mais adverso estaria na ordem de 30% – probabilidade que pode ser aumentada nas próximas semanas, a depender da reação dos mercados ao anúncio da nova equipe econômica e de suas primeiras sinalizações de ajuste.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.