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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ao New York Times que Donald Trump está tentando pressionar o Brasil adotando medidas que ferem a soberania nacional, ao ameaçar impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir desta sexta-feira (1º). Em sua primeira entrevista ao jornal americano em 13 anos, publicada nesta quarta-feira (30), Lula disse que trata o assunto com “a máxima seriedade”, mas “seriedade não requer subserviência”.
“Trato a todos com muito respeito. Mas quero ser tratado com respeito”, disse Lula.
O NYT descreveu o caso como “uma das tarifas mais altas impostas a qualquer país” pelo governo Trump e destacou que o Brasil é “possivelmente o único alvo por razões abertamente políticas e não econômicas”. O jornal lembrou que a medida está ligada ao apoio de Trump ao ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de dar um golpe para permanecer no poder após perder as eleições de 2022.
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“Talvez ele não saiba que, aqui no Brasil, o Judiciário é independente”, afirmou Lula, ao reforçar que a ação penal contra Bolsonaro “não está em negociação”.

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“O prazo de 1º de agosto é o prazo de 1° de agosto – ele continua firme e não será prorrogado. Um grande dia para a América!!!”, escreveu em sua rede social

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O presidente também classificou como “vergonhosa” a forma como Trump conduziu o anúncio do tarifaço, por meio de sua rede social.
“Quando você tem um desacordo comercial ou político, você pega o telefone, marca uma reunião, conversa e tenta resolver o problema. O que você não faz é taxar e dar um ultimato”, disse.
“Em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande”, disse Lula.
“Conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos o poder militar dos Estados Unidos, reconhecemos a dimensão tecnológica dos Estados Unidos”, continuou. “Mas isso não nos deixa com medo. Nos deixa preocupados.”
“Líder latino-americano mais importante do século”
O jornal descreveu Lula como “possivelmente o líder latino-americano mais importante do século” e “um dos que mais enfrentam Trump no cenário mundial”, e destacou discursos em defesa da soberania e o uso do boné com a frase “O Brasil pertence aos brasileiros”.
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Lula reafirmou ao NYT o que já havia dito à CNN em outra entrevista, que, caso o episódio da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 tivesse ocorrido no Brasil, Trump também estaria respondendo judicialmente, como Bolsonaro.
“O Estado democrático de direito para nós é algo sagrado”, falou. “Porque já vivemos ditaduras e não queremos mais.”
Retaliação
Lula mencionou que o governo está estudando tarifas de retaliação, algo que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia sinalizado na véspera que não estaria sendo considerado. O presidente também advertiu que a postura americana terá impacto direto sobre consumidores dos dois países.
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“Nem o povo americano nem o brasileiro merecem isso, porque vamos sair de uma relação diplomática de 201 anos de ganha-ganha para uma relação política de perde-perde”, disse Lula.
O NYT ressaltou ainda que Trump vem vinculando as tarifas a críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e às ordens de remoção de conteúdo impostas a big techs. O jornal também mencionou a revogação dos vistos de ministros do STF e de seus familiares, enquanto aliados de Bolsonaro nos EUA pressionam por sanções contra o ministro Alexandre de Moraes.
Ao ser questionado sobre essa possibilidade, Lula respondeu: “Se isso for verdade, é mais grave do que eu imaginava. A Suprema Corte de um país precisa ser respeitada, não apenas por seu próprio país, mas pelo mundo.”