“Quero ser tratado com respeito”, diz Lula sobre Trump ao NYT

Presidente afirma que não aceitará interferência externa, que caso Bolsonaro “não está em negociação”, e que reconhece poderio econômico e militar dos EUA, "mas isso não nos deixa com medo, nos deixa preocupados"

Paulo Barros

The New York Times / Reprodução
The New York Times / Reprodução

Publicidade

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ao New York Times que Donald Trump está tentando pressionar o Brasil adotando medidas que ferem a soberania nacional, ao ameaçar impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir desta sexta-feira (1º). Em sua primeira entrevista ao jornal americano em 13 anos, publicada nesta quarta-feira (30), Lula disse que trata o assunto com “a máxima seriedade”, mas “seriedade não requer subserviência”.

“Trato a todos com muito respeito. Mas quero ser tratado com respeito”, disse Lula.

O NYT descreveu o caso como “uma das tarifas mais altas impostas a qualquer país” pelo governo Trump e destacou que o Brasil é “possivelmente o único alvo por razões abertamente políticas e não econômicas”. O jornal lembrou que a medida está ligada ao apoio de Trump ao ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de dar um golpe para permanecer no poder após perder as eleições de 2022.

Continua depois da publicidade

“Talvez ele não saiba que, aqui no Brasil, o Judiciário é independente”, afirmou Lula, ao reforçar que a ação penal contra Bolsonaro “não está em negociação”.

O presidente também classificou como “vergonhosa” a forma como Trump conduziu o anúncio do tarifaço, por meio de sua rede social.

“Quando você tem um desacordo comercial ou político, você pega o telefone, marca uma reunião, conversa e tenta resolver o problema. O que você não faz é taxar e dar um ultimato”, disse.

“Em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande”, disse Lula.

“Conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos o poder militar dos Estados Unidos, reconhecemos a dimensão tecnológica dos Estados Unidos”, continuou. “Mas isso não nos deixa com medo. Nos deixa preocupados.”

“Líder latino-americano mais importante do século”

O jornal descreveu Lula como “possivelmente o líder latino-americano mais importante do século” e “um dos que mais enfrentam Trump no cenário mundial”, e destacou discursos em defesa da soberania e o uso do boné com a frase “O Brasil pertence aos brasileiros”.

Continua depois da publicidade

Lula reafirmou ao NYT o que já havia dito à CNN em outra entrevista, que, caso o episódio da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 tivesse ocorrido no Brasil, Trump também estaria respondendo judicialmente, como Bolsonaro.

“O Estado democrático de direito para nós é algo sagrado”, falou. “Porque já vivemos ditaduras e não queremos mais.”

Retaliação

Lula mencionou que o governo está estudando tarifas de retaliação, algo que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia sinalizado na véspera que não estaria sendo considerado. O presidente também advertiu que a postura americana terá impacto direto sobre consumidores dos dois países.

Continua depois da publicidade

“Nem o povo americano nem o brasileiro merecem isso, porque vamos sair de uma relação diplomática de 201 anos de ganha-ganha para uma relação política de perde-perde”, disse Lula.

O NYT ressaltou ainda que Trump vem vinculando as tarifas a críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e às ordens de remoção de conteúdo impostas a big techs. O jornal também mencionou a revogação dos vistos de ministros do STF e de seus familiares, enquanto aliados de Bolsonaro nos EUA pressionam por sanções contra o ministro Alexandre de Moraes.

Ao ser questionado sobre essa possibilidade, Lula respondeu: “Se isso for verdade, é mais grave do que eu imaginava. A Suprema Corte de um país precisa ser respeitada, não apenas por seu próprio país, mas pelo mundo.”

Paulo Barros

Jornalista, editor de Hard News no InfoMoney. Escreve principalmente sobre economia e investimentos, além de internacional (correspondente baseado em Lisboa)