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SÃO PAULO – “Quão ruim o Brasil pode ficar? Pior, muito pior”. É o que aponta a consultoria de investimentos Gavekal que, após uma visita na semana passada para uma rodada de discussões com investidores, funcionários do governo e estudiosos, destacou a “confirmação de uma deterioração extraordinária na maior economia da América Latina apenas nos últimos meses”.
De acordo com o analista Arthur Kroeber, no início de novembro, logo após a reeleição de Dilma Rousseff, as coisas pareciam estagnadas, mas não catastróficas. O crescimento foi baixo e a inflação alta, mas a taxa de desemprego ainda era baixa e resiliente. E, ainda por cima, depois de conquistar o segundo mandato, Dilma substituiu o “infame” ministro da Fazenda Guido Mantega por um “técnico inteligente”, Joaquim Levy. O ministro prometeu aperto do orçamento que foi inchado por transferências de renda que começaram no governo anterior, de Luiz Inácio Lula da Silva.
O relatório, chamado “The Land Of Wishful Thinking” (“A terra de torcedores”), destaca que o mercado já reagiu, levando o dólar a R$ 3,00, seu nível mais baixo em uma década e quase um terço abaixo do seu pico, enquanto o Ibovespa caiu 19% desde o pico em agosto. E, para ele, movimentos de venda mais profundos devem ocorrer.
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“Muitas das principais instituições brasileiras venderam suas posições de capital há meses e a riqueza privada está fluindo para fora do país. […] Uma vez que os investidores estrangeiros entenderem o que está acontecendo, as ações e o real vão cair muito mais”.
Como não poderia deixar de ser, Kroeber também analisa a Petrobras (PETR3;PETR4), ressaltando que a implosão da empresa também é um desastre econômico. “A companhia é responsável por quase 10% dos investimentos fixos do País e anunciou recentemente os planos de cortar capex em 30%, além de cortar em 3% os gastos de capital nacional. As suas vastas relações com os fornecedores são uma parte importante da conjuntura econômica, e esses fornecedores foram gravemente feridos pela incapacidade da empresa para pagar as suas contas”.
Além da Petrobras, a consultoria descreve os desafios impostos à Vale (VALE3;VALE5), “grande empresa de mineração que depende fortemente das exportações de minério de ferro para a China”, cujo principal produto caiu de US$ 130 a tonelada em 2013 para os US$ 60 de hoje.
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“A Vale está mais mal posicionada para enfrentar esta crise do que os seus concorrentes, a BHP Billiton e a Rio Tinto, porque ela é mais concentrada no minério de ferro e fica mais distante da China, o que faz com que seus custos mais altos de transporte aumentem sua desvantagem de preço. O petróleo mais barato vai reduzir os custos de frete e diminuir um pouco a dor. Mas com o preço do minério abaixo de US$ 65, a Vale vai enfrentar uma pressão financeira intensa.”
A circunstância final de azar, aponta o analista, é uma seca grave de dois anos na região Sudeste, a área mais próspera do país. ” Os reservatórios estão em níveis recordes de baixa e é provável que ocorra racionamento de água em São Paulo e Rio de Janeiro nos próximos três meses. A energia elétrica também será atingida, uma vez que as hidrelétricas respondem por três quartos da oferta de energia nacional”.
Nenhuma política de crescimento
Além disso, o analista afirma que a presidente Dilma está fraca, politicamente isolada, além de seguir com sua estratégia populista. “Ela tem pavor de um rebaixamento de classificação de crédito e é por isso que ela autorizou Levy a apertar o orçamento”, afirma.
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Mas há poréns. “Mesmo se Levy conseguir afastar um downgrade, o governo não tem uma estratégia para crescimento. E não há nenhuma garantia de que Levy terá sucesso: suas medidas de austeridade devem passar por um Congresso que agora está paralisado pelo escândalo da Petrobras, e cujos dirigentes não têm incentivos para fechar acordos fiscais duros com uma tímida Dilma. Levy não tem nenhuma influência política e terá dificuldade para agir sem um forte apoio de seu chefe. Há chances baixas, mas crescentes de que ele poderia se demitir até o final do ano”, afirma.
Além disso, o analista afirmou que Dilma estará vulnerável à questão sobre o impeachment caso o caso Petrobras a envolva diretamente. “Uma saída precoce pode ser preferível a mais três anos e meio de uma administração que está sem ideias e é politicamente impotente. Mas a oposição é desorganizada e sem líderes e, de qualquer modo, o mercado ainda está apostando contra o impeachment. Assim, o prognóstico para os próximos anos é de crescimento fraco, alta inflação e política à deriva. Em suma, mais um item na ladainha aparentemente interminável de oportunidades perdidas do Brasil”.
Mas, mesmo no cenário ruim, há espaço para boas novas. “A única boa notícia é que o escândalo da Petrobras marca um ponto de virada no tratamento da corrupção: em poucos anos o Brasil vai emergir com um sistema político significativamente mais limpo. E a economia é grande e diversificada o suficiente para que possa enfrentar um período de contração sem um grave declínio nos padrões de vida absolutos. Para o próximo ano ou dois, no entanto, há pouca razão para esperar outra coisa que não seja mais dor”, atestou.