Quando e por que Tombini mudou de ideia sobre a Selic?

Presidente do BC sabia que comunicado sobre relatório do FMI ia gerar controvérsia, mas fez uma política de "redução de danos"; ele nega que tenha se encontrado com Dilma

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A “virada” no tom do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, às vésperas da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) que se encerrou na quarta-feira impactou o mercado e afetou ainda mais a já combalida credibilidade da autoridade monetária.

Após quase dois meses de discurso “hawkish” (duro contra a inflação), Tombini sinalizou uma inflexão ao mercado para uma abordagem mais “dovish” (branda) logo após o FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgar na terça-feira relatório cortando as projeções para a economia global, tendo como um dos principais destaques negativos o Brasil. Uma hora após o Fundo divulgar as novas expectativas para o PIB brasileiro de 2016 de contração de 1% para queda de 3,5% e de 2017 de alta de 2,3% para estagnação, o presidente do BC divulgou nota avaliando como “significativas” as revisões, o que gerou ruído no mercado. 

Porém, segundo informações do G1, Tombini não foi surpreendido pelo FMI. O site destaca que Tombini recebeu confidencialmente o relatório do Fundo na quinta-feira da semana passada, seis dias antes do Copom.

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Segundo o canal apurou, o presidente do BC avaliou que o relatório causaria grande impacto no mercado financeiro quando fosse divulgado porque tornava as previsões sobre a economia mais pessimistas do que as dos analistas brasileiros. O último Focus prevê contração de 2,99% do PIB em 2016 e alta de 1% da atividade econômica no ano que vem. Além disso, o relatório do Fundo trazia uma avaliação mais pessimista sobre a economia chinesa. 

Assim, avaliando o grande impacto que a divulgação do relatório poderia gerar em meio ao consenso do mercado de que os juros subiriam (e 0,5 ponto percentual, para 14,75% ao ano), Tombini decidiu na madrugada de terça-feira que daria um recado para reverter essas expectativas.

Ele fez um rascunho da nota em que comentava o relatório e, já naquela manhã, convocou diretores do BC para anunciar a sua decisão de divulgar a nota às 9h (horário de Brasília), antes do mercado financeiro abrir para negociações. A interlocutores, ele admitiu que estava consciente da controvérsia que a nota poderia causar, mas avaliava que, se a surpresa ficasse para quarta, os danos seriam ainda maiores. 

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O G1 e o Valor Econômico também destacam o pós-participação de Tombini na reuniuão do BIS (Banco de Compensações Internacionais), nos dias 9 e 10, como um vetor importante para que ele mudasse de ideia. Poucos dias após ele reforçar o tom “hawkish” em carta ao ministério da Fazenda justificando o descumprimento da meta de inflação de 2015, Tombini teve maiores informações sobre os rumos da desaceleração da China e sobre o futuro dos preços do petróleo. Ambos com consequências desinflacionários para o mundo.

Na reunião do BIS, a visão geral era a de que a expectativa de um ano de 2016 melhor para a economia mundial está se desfazendo. Assim, em meio à complicada situação da economia brasileira, com inflação em alta e PIB em queda, o presidente do BC avaliou que ainda havia tempo para reverter as expectativas.

Porém, além do FMI, um dos ruídos que gerou no mercado foi a notícia de que Tombini teria se encontrado com a presidente Dilma Rousseff às vésperas do Copom, aumentando os temores de ingerência política. Porém, afirma o G1, a quem lhe perguntou, o presidente do BC disse que não esteve nesta semana com Dilma. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.