Qual é o significado da ambígua declaração de independência da Catalunha?

Posição contraditória de Carles Puidgemont sintetiza o momento complexo pelo qual passa a Espanha e a armadilha que os separatistas armaram contra si

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A confusa declaração de independência sucedida pela suspensão de seus efeitos práticos, feita pelo presidente catalão, Carles Puidgemont, pegou os espanhóis de surpresa e trouxe mais incertezas do que respostas ao novo capítulo da aguda crise separatista pela qual a região passa. Para a internacionalista espanhola Esther Solano, professora da Unifesp, o posicionamento ambíguo representa uma tentativa do líder da Catalunha de ganhar tempo e tentar uma negociação que não acontecerá com o governo espanhol.

“Ninguém esperava por isso. É uma jogada política que realmente não faz muito sentido. Ele está querendo ganhar tempo para que se dialogue. Mas não haverá negociação, é uma farsa política”, afirmou a especialista em conversa por telefone com o InfoMoney minutos após o anúncio da decisão. Para ela, não está claro quais serão os próximos capítulos da novela espanhola. Será preciso observar como reagirão os próprios catalães, assim como o governo central e as lideranças europeias.

De um lado, os separatistas catalães demandavam a declaração de independência espanhola após a a vitória do “sim” com 90% dos votos no referendo de 1º de outubro (mesmo que com participação de pouco mais de 42% do total de eleitores da região). Do outro, a pressão exercida pelo governo espanhol e pelo sistema internacional, que não reconheceriam eventual decisão unilateral do comando da Catalunha. No meio disso, uma decisão ambígua de Puidgemont sintetiza o momento complexo pelo qual passa a Espanha e a armadilha que os separatistas armaram contra si.

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“Ele tentou acenar para todo mundo, mas sem realmente acenar para ninguém”, observou Esther. No entendimento da professora, não havia saída possível e o separatismo catalão se colocou em um verdadeiro labirinto. O novo movimento do presidente da região autônoma buscava ganhar tempo e transferir a responsabilidade ao governo espanhol. Na prática, a declaração de independência acompanhada de sua suspensão manteve alguma expectativa de ação mais efetiva no futuro e ao mesmo tempo passou a vez ao primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, no xadrez político travado entre as forças. Como efeito prático, contudo, Puidgemont, além de trazer maior insegurança institucional, provocou revolta dos separatistas com a ação mais comedida em meio ao acirramento da disputa.

Para a internacionalista, não está claro quais serão os próximos episódios da crise separatista na Espanha. Se por um lado a constituição do país prevê punições a iniciativas emancipatórias, por outro, a suspensão da medida embaralha as cartas. O governo central interpretará as movimentações catalãs como um efetivo anúncio de independência? Soma-se a isso o ambiente social mais esgarçado, com demonstração de forças dos dois lados dentro da Catalunha — separatistas e adeptos à permanência sob controle da Espanha.

Além disso, a transferência das sedes fiscais de grandes empresas da região também mexe com os nervos da população. Os nacionalistas mais radicais ignoram tais iniciativas enquanto os mais moderados começam a se preocupar com a fuga de capitais e os efeitos práticos de uma movimentação que pode já ter ido longe demais.

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“A Espanha vive uma situação superinédita”, observou Esther Solano. Arrastar a situação pode levar a crise a um nível de degradação ainda maior. Mas tudo isso vai depender de como reagirão as lideranças separatistas e, principalmente, o primeiro-ministro Rajoy. A bola está com ele agora.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.