Qual é o efeito do rebaixamento do rating brasileiro sobre as eleições?

Para analistas, Henrique Meirelles é o nome mais exposto à notícia negativa, mas ministro tem outras questões mais sensíveis para se preocupar

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O novo rebaixamento do rating brasileiro, promovido pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s na noite da última quinta-feira (11), colocou água no chope do governo do presidente Michel Temer, que ainda comemorava a baixa inflação de 2017. Em nota, a instituição manifestou pessimismo com o andamento da agenda de reformas, sobretudo o avanço das mudanças das regras para aposentadorias no Congresso Nacional. Se no meio empresarial, os grupos mais expostos a captações no exterior podem ser prejudicados pela notícia, no mundo político, quais seriam os impactos do downgrade sobre o panorama eleitoral?

“O rebaixamento era uma possibilidade há alguns meses, mas nunca deixou de ser uma incerteza. Havia dúvidas sobre se e quando ocorreria. O fato de ocorrer antes de o governo votar a reforma da Previdência é negativo, por manifestar pessimismo com a capacidade de o governo votar essa e outras medidas”, avaliou Thomaz Favaro, diretor associado da consultoria Control Risks para Brasil e Cone Sul. O especialista, contudo, pondera: “Na nossa visão, isso não deve influenciar, porque, no fundo, o rebaixamento reitera as preocupações do mercado com relação à saúde das contas públicas”.

Do ponto de vista eleitoral, Favaro acredita que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é o nome mais exposto negativamente a essa notícia, uma vez que é quem mais depende do desempenho da economia para viabilizar sua candidatura. “Quem tem condições de capitalizar na recuperação econômica é o ministro da Fazenda. Nesse sentido, o downgrade acaba sendo uma derrota política importante para Meirelles, que quer capitalizar em cima da recuperação econômica”, afirmou. Para ele, o rebaixamento pode impactar na projeção política do ministro e até mesmo em sua relação com o mercado, contudo a notícia em si tem baixos efeitos eleitorais, uma vez que não é muito acompanhado por grande parcela da população.

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Visão similar tem o analista político Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores. Para ele, não há dúvidas que se trata de evento negativo a Meirelles, no entanto, este não seria o maior desafio a ser enfrentado pelo ministro. “[O downgrade] Serve para adversários questionarem a qualidade de sua administração na economia. Mas a principal dificuldade dele hoje é a resistência do mundo político à sua candidatura. [O presidente da Câmara, Rodrigo] Maia também tira espaço de Meirelles e a entrevista de [Michel] Temer também foi muito ruim a ele”, explicou. “Meirelles só teria chance se, em algum momento, ele surgisse como nome de convergência de parte da base. Isso não está acontecendo”.

Para o analista de cenários Leopoldo Vieria, da consultoria Idealpolitik, a despeito do grande desejo do ministro em suceder Michel Temer, não há consistência em sua candidatura. “Candidatura de Meirelles não existe. No que depender do governo, como tem supremacia a racionalidade política — vide a gastança para rejeitar as denúncias contra o presidente –, ele será um culpado, pois a gestão tem como prioridade ter o apoio econômico para fins políticos. Mas Meirelles pode surfar exatamente no oposto, dizer que tentou mas foi brecado pela politicagem, pelo populismo parlamentar. Só que isso exige que o PSD compre a briga e, tanto os interesses eleitorais gerais (governos, deputados estaduais, bancada federal), como os míseros pontos de Meirelles nas pesquisas, desencorajam”, disse. “Na verdade, o desempenho pífio, pela rejeição do governo à centralidade da solução econômica, para além das aparências e retórica, e pela rejeição da agenda econômica pela maioria da sociedade, inviabilizam uma aposta do PSD”. Tais fatores reduzem as condições de o ministro ter a oportunidade de candidatar-se. A julgar pelo comportamento dos deputados do partido sobre a reforma da Previdência ou as ambições de Gilberto Kassab em costurar uma aliança em São Paulo, os espaços para Meirelles são cada vez menores.

“As ambições presidenciais do ministro são inegáveis. É claro que ele tem essa ambição. Agora, ele teria um caminho dificílimo para andar como presidenciável. Ele tem boa relação com o mercado financeiro e o setor empresarial de um modo geral, mas tem pouca popularidade e poucas perspectivas de crescimento nessa área. Ele é um tecnocrata, um político tradicional e alguém com pouco carisma. Essas características são justamente o que o eleitor não quer. Se concorrer, é muito pouco provável que ele consiga chegar ao 2º turno. Sua função seria muito mais de dividir votos entre os candidatos centristas”, concluiu Thomaz Favaro.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.